Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, na pandemia do novo coronavírus; cresce a procura de estrangeiros por imóveis | Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 5 de junho de 2021 às 08h35.
Enquanto a Covid-19 esvaziava as praias do Rio de Janeiro e sobrecarregava hospitais, o corretor de imóveis de luxo Frederic Cockenpot recebia uma enxurrada de consultas. Empresas foram fechadas e a economia estava abalada, mas clientes estrangeiros faziam de tudo para fechar negócios.
“Eles diziam: ‘Fred, encontre alguma coisa agora, preciso enviar dinheiro agora’”, disse Cockenpot, que comanda a WhereInRio, uma corretora que atende clientes internacionais.
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Para investidores com moeda forte, a queda de 21% do real em relação ao dólar desde o início de 2020 incentivou a busca por pechinchas no mercado imobiliário. Aproveitaram as oscilações da taxa de câmbio comprando imóveis para as férias e propriedades para investimento, apostando que tempos melhores virão em uma cidade que ainda tenta vencer a Covid-19, que fragilizou a economia e se transformou em uma grande crise política para o presidente Jair Bolsonaro.
Fabio Canfora, de 47 anos, viu a turbulência como uma oportunidade de adquirir um ativo barato. Em janeiro, em uma viagem para buscar um imóvel, comprou um apartamento de quatro quartos no coração de Ipanema.
Em janeiro, o custo da compra e reforma do imóvel de férias somou cerca de 1 milhão de reais, aproximadamente metade do que Canfora estimou que teria custado quando deixou o país em 2017. “Para ser honesto, isso era impensável”, disse o executivo italiano do setor de energia e ex-residente do Rio.
Antes de o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, o mercado imobiliário do Rio era comparado ao de Nova York ou Paris. O Rio estava repleto de turistas e "petrodólares", enquanto investidores frenéticos corriam para fechar negócios diante do número limitado de imóveis disponíveis na cidade.
A pressa gerou uma bolha imobiliária e a euforia de que os bons tempos do país, rico em recursos naturais, havia chegado para ficar. Mas o fim das competições mundiais, a queda dos preços das commodities, o impeachment de Dilma Rousseff e a corrupção desvendada pela Operação Lava Jato reforçaram a sensação de colapso.
Os preços dos imóveis despencaram, e o real caiu quase 37% frente ao dólar desde os Jogos Olímpicos há cinco anos.
Mas agora o mercado imobiliário no Rio, como em grande parte do país, está esquentando depois que o Banco Central cortou a Selic ao menor nível da história para impulsionar a economia, o que barateou o financiamento.
Alguns investidores estrangeiros já têm uma conexão com o Rio, seja como destino turístico preferido ou porque já moraram na cidade, enquanto os que gastam pelo menos 1 milhão de reais têm direito a vistos emitidos pelo governo, o que lhes permite estadias mais longas.
De janeiro a abril deste ano, foram vendidos cerca de 13.000 imóveis em relação aos 8.738 no mesmo período de 2020, segundo o Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro. O aumento de 55% é o maior salto para os primeiros quatro meses do ano desde 2013.
A recuperação ocorre, no entanto, enquanto a Covid agrava um declínio de décadas. Em 1960, o governo federal transferiu a capital do Rio para Brasília, enquanto São Paulo absorveu empregos e grande parte dos profissionais. Na esteira da pandemia, o turismo secou, impactando um setor-chave para o Rio.
Mas investidores como Luc Fontana, de 31 anos, um incorporador imobiliário em Lille, na França, esperam uma recuperação. Ele gastou mais de 2,2 milhões de reais em uma casa do século XIX com oito quartos no bairro de Santa Teresa e está transformando a propriedade em um hotel boutique.
Fontana, que deixou o Brasil logo após o nascimento, disse que o real fraco o inspirou a investir em sua terra natal. “Esta é a minha aventura”, disse. “Quando a pandemia acabar, o mundo vai querer visitar novamente.”