7 em cada 10 consumidores brasileiros têm dívidas no cartão de crédito; veja dicas para escapar das armadilhas do endividamento (Joe Raedle/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 26 de abril de 2022 às 06h04.
Última atualização em 26 de abril de 2022 às 07h24.
A alta da taxa Selic tem uma consequência perversa para quem está endividado: o aumento dos juros dessa dívida. Desde o ano passado, o custo do crédito nas linhas mais caras -- e algumas das mais acessadas -- às pessoas físicas está em alta. Em alguns casos, como o do rotativo do cartão de crédito, a taxa anual de juros passa dos 300%, o que significa que, a cada 12 meses, a dívida quadruplica. Trata-se de uma bola de neve difícil de controlar.
A má notícia para quem está endividado, ou para quem vai acabar entrando em uma dessas linhas de crédito, é que não há sinal de alívio em um futuro breve. A taxa Selic, que serve como piso para os financiamentos do país, está em 11,75% ao ano e deve terminar o ano perto dos 13%, segundo as expectativas dos economistas de mercado.
O ideal é evitar o endividamento, mas com a inflação e as despesas em alta, o caminho inevitável para muitas famílias é o da contratação de crédito até mesmo para o pagamento de dívidas do dia-a-dia. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) mostrou que 7 em cada 10 consumidores têm gastos pendurados no cartão de crédito, e que 23% estão muito endividados.
Mas mesmo para quem cai no endividamento, há uma série de "boas práticas" que podem ajudar. Para tornar o processo de endividamento menos sofrido e, principalmente, custoso, é importante tentar estabelecer mecanismos de controle para as despesas, além de tomar decisões mais conscientes na hora de contratar o crédito.
Veja algumas dicas para sair da dívida:
Parece uma dica óbvia, mas, na prática, menos da metade dos brasileiros faz algum tipo de controle de gastos e receitas. Pode ser uma planilha no computador, uma folha em um caderno ou até um aplicativo: o importante é ter noção de quanto dinheiro entra e quanto dinheiro sai.
Mapear as despesas ajuda a identificar os problemas antes que eles se transformem em dívidas. Dá para saber, por exemplo, quais categorias de despesas cresceram nos últimos meses, e tentar identificar possíveis soluções. Tendo em vista o que está saindo do controle, é possível fazer cortes mais eficientes de despesas.
À primeira vista, essa é outra dica que parece óbvia, mas que guarda duas lições bastante úteis. Primeiro, o pagamento de compras e contas à vista ajuda no controle financeiro, pois aumenta a previsibilidade de gastos a cada mês.
A possibilidade de pagar em mais de uma vez é tentadora, dada a falsa sensação de que, no parcelado, o alívio sobre as contas do mês é maior. Mas tal comportamento leva o consumidor a acumular muitas parcelas, que, somadas, geram uma fatura de cartão de crédito estratosférica. Essa é uma das armadilhas mais comuns de quem acaba caindo no rotativo do cartão.
"Mesmo quem tem mais disciplina pagar à vista deve sempre que puder, porque o dinheiro na mão permite uma condição de pagamento melhor", explica Carlo Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar.
E não necessariamente a expressão "dinheiro na mão" precisa ser encarada de forma literal. Com a disseminação do Pix, o pagamento à vista se tornou mais fácil e, por ser compensado imediatamente, os lojistas concedem um bom desconto para quem paga com a ferramenta.
Se o endividamento for inevitável, é importante escolher bem o tipo de crédito que será contratado. Linhas como a do rotativo do cartão de crédito possuem juros significativamente mais altos do que as de crédito pessoal, por exemplo.
Veja abaixo os juros praticados nas principais linhas de financiamento para pessoa física:
A regra é bastante simples: quanto mais acessível e fácil for a contratação de uma dívida, maior tende a ser o seu custo. Por isso, é preferível contratar de imediato o crédito pessoal para pagar uma despesa, do que repassar o problema para o cartão de crédito ou cheque especial, pois os juros serão bem mais altos.
"Dado que o consumidor sabe que precisa de ajuda para pagar, é melhor que ele escolha o crédito que custa menos. E isso vale não só para o tipo de financiamento, mas também para o banco ofertante. É importante comparar os juros entre todas as instituições em que ele já possui o crédito aprovado", aconselha Castro, da Planejar.
Agora, quem já está endividado em uma linha de crédito com juros altos e está com dificuldades de pagar deve dar um passo para trás e, antes de qualquer coisa, analisar as opções disponíveis. O caminho ideal é tentar quitar a obrigação de forma integral, mas se isso não for possível no momento, a solução mais adequada é trocar a dívida cara por uma dívida mais barata.
Por exemplo: se você está com problemas para pagar a fatura do cartão de crédito, em razão de uma dívida do rotativo que já foi parcelada, o ideal é contratar o crédito pessoal, ou até um consignado, para quitar essa dívida integralmente, e, a partir daí, organizar o pagamento das parcelas.
É importante ressaltar, no entanto, que o ponto mais importante desse ciclo é a disciplina de tentar reduzir as dívidas, ao invés de permitir que elas voltem a se acumular. Para tanto, é necessário quitar as parcelas em dia e, sempre que possível, antecipar o fim da dívida.