Minhas Finanças

Brasileiro não sabe investir, diz corretora

Ganância e medo fazem com que pequenos investidores saiam da bolsa em bons pontos de compra e entrem no mercado quando é hora de vender

BM&FBovespa: para corretora TOV, preços estão atrativos (Germano Lüders/EXAME)

BM&FBovespa: para corretora TOV, preços estão atrativos (Germano Lüders/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2011 às 10h50.

São Paulo – “Comprar na baixa e vender na alta” é a máxima mais repetida por analistas de mercado, consultores financeiros e investidores bem-sucedidos. Qualquer pessoa que investe em bolsa já deve ter ouvido ou lido esse conselho em algum lugar. Na hora de colocar o mandamento em prática, entretanto, muito pouca gente tem coragem de fazê-lo. Para entender por que o número de pessoas físicas que investem em bolsa voltou a cair neste ano apesar da grande quantidade de ações com preços atrativos, EXAME.com conversou com André Mello, analista sênior da corretora TOV. Leia abaixo suas explicações:

O brasileiro não costuma ter uma cultura de investimento de longo prazo e acaba atrapalhado pela ganância e pelo medo. Os momentos de fundo e topo deveriam ser enxergados pelo investidor como uma boa hora para entrar e sair da bolsa, respectivamente. Mas o que se observa é exatamente o contrário. Em 2008, quando a bolsa batia um recorde atrás do outro, a ganância fez com que muita gente continuasse a comprar ações por medo de perder uma grande oportunidade. Já neste momento, o medo faz com que o mesmo investidor não aproveite a oportunidade de comprar e até mesmo venda suas ações para, em tese, preservar o capital. O problema de agir assim é que o investidor compra no topo e vende na baixa. É óbvio que os resultados não serão bons.

Considero que falta cultura de bolsa porque a pessoa não pensa nos fundamentos de uma empresa ao comprar ou vender uma ação. O investidor não vai atrás das indicações dos analistas, não sabe quais são as expectativas de resultados futuros. As escolhas muitas vezes são feitas com base em especulações. É como se a pessoas tomassem decisões de compra ou venda como se jogassem dados ou apostassem na roleta.

Neste momento, por exemplo, os múltiplos da bolsa estão baixos. As empresas da BM&FBovespa estão sendo negociadas por um preço de 8 ou 9 vezes o lucro anual. Eu acho que esse é um sinal de oportunidade de compra. Há bolsas de outros países com problemas econômicos bem mais complexos que os brasileiros que estão sendo negociadas com um múltiplo preço/lucro de 13 ou 14.

Não estou dizendo que o investidor deve comprar bolsa agora e que não há chance de as ações caírem mais. Mas acho que o preço justo para a Bovespa é igual a 15 vezes o lucro. Na renda fixa, considerando uma Selic de 12,5% e uma inflação de 6,5%, o investidor vai levar 15 anos para dobrar o poder de compra do capital investido. Então acho que o atual desconto da bolsa é excessivo frente ao potencial de ganhos.

Outro problema é que a pessoa física busca informação nos lugares errados. Em geral, o cara vai aos fóruns da internet atrás de dicas que possam lhe fazer rico da noite para o dia. É um pensamento que em nada se assemelha ao do investidor americano, por exemplo, que pensa em bolsa como forma de poupança para a aposentadoria.


É por isso que no Brasil há fenômenos como o das ações da Mundial [que caíram 85% apenas na semana passada, destruindo 1,5 bilhão de reais em riqueza]. O investidor compra e vende ações com base em uma informação postada por alguém que ele não conhece em um blog ou fórum. Mesmo assim, a pessoa toma decisões que envolvem o próprio patrimônio com base nesse tipo de informação. É muita especulação.

O princípio básico de investir em ações é escolher uma empresa saudável. Pense, por exemplo, em alguém que decide investir em alguma franquia. Tenho certeza que essa pessoa pesquisa informações sobre a empresa antes de tirar o dinheiro do bolso. Não entendo por que no mercado acionário é diferente. Na BM&FBovespa, há empresas como a Eletropaulo que todos os anos pagam dividendos que superam a Selic [principal referência para aplicações em títulos públicos] em retorno. Se perguntar para um analista, a pessoa vai receber essa informação.

Acredito que as coisas vão começar a mudar quando o brasileiro tiver mais cultura de investimento. A falta de experiência pesa. A bolsa brasileira só teve dois grandes surtos de expansão: o primeiro foi na década de 1970 e, o outro, no governo Lula. Não que não pudesse ter acontecido no governo anterior, uma vez que o controle da inflação foi determinante para o aumento do número de pessoas físicas em bolsa. Na década de 1990, entretanto, houve muitas crises no mundo todo. Só no passado mais recente que houve uma conjunção de inflação sob controle, alta do preço mundial das commodities e esforços de marketing da BM&FBovespa que permitiu um rápido desenvolvimento do mercado brasileiro.

Esse movimento foi interrompido em 2008, quando as commodities pararam de subir. O que as pessoas devem aprender com o episódio é que não adianta se guiar somente pelas notícias de jornais. Ninguém deve vender ações só porque leu que a bolsa tem caído muito ou comprar quando tem subido muito. O importante é olhar o preço. Desde abril de 2008, várias ações de primeira linha caíram muito: Usiminas (-71%), Gerdau (-63%), CSN (-53%) e Petrobras (-48%). Isso deve ser visto como oportunidade. Mas as pessoas estão agora de olho no mercado imobiliário, que já passou por uma forte correção e agora pratica preços exorbitantes.

É verdade que há bons motivos para as ações estarem baratas. Há uma crise grave de dívida na Europa. O mercado também está apreensivo com a briga política nos Estados Unidos, que está mais relacionada às eleições do próximo ano do que ao endividamento. Mas acredito que o problema nos EUA será resolvido em breve. O teto da dívida americana já foi reajustado várias vezes nos últimos anos. Os EUA não vão dar calote no mercado. Mesmo sem a elevação do teto, a Constituição americana prevê que os credores da dívida serão pagos antes dos demais.

Quem pensa de outra forma não precisa ter pressa para entrar na bolsa. A pessoa pode perfeitamente aguardar a questão americana ser resolvida se não se sentir confortável em correr esse risco. A verdade é que é impossível antecipar qual será o ponto de mínima ou de máxima no mercado antes de uma reversão. O que eu quero reforçar é que há embasamento técnico para afirmar que a bolsa está com preços interessantes.

Acompanhe tudo sobre:Açõesaplicacoes-financeirasbolsas-de-valoresCorretoraspatrimonio-pessoal

Mais de Minhas Finanças

Proclamação da República: veja o funcionamento dos bancos nesta sexta-feira

Mega-Sena sorteia prêmio de R$ 3,5 milhões nesta quarta-feira

Fila do INSS sobe e chega a quase 1,8 milhão; aumento em três meses é de 33%

Mega da Virada 2024 inicia apostas com prêmio recorde de R$ 600 milhões