Bradesco foi o banco que mais fechou agências nos 12 meses até setembro, em meio ao aumento de uso de canais digitais por clientes (Paulo Fridman/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 16 de dezembro de 2020 às 14h41.
Última atualização em 16 de dezembro de 2020 às 14h49.
Os bancos brasileiros estão fechando agências no ritmo mais rápido em três anos, com as medidas de restrição por causa da covid-19 forçando os clientes a usarem mais serviços pela internet ou telefone e a competição com as fintechs se intensificando. Os executivos do setor dizem que mais está por vir.
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“A gente já vinha notando um aumento no uso de canais digitais, mas na pandemia mesmo quem não queria teve que usá-los e, aparentemente, está gostando,” disse Renato Lulia Jacob, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco, em entrevista. “Agora que as agências estão abertas novamente, não temos visto os clientes voltando para lá.”
Os bancos fecharam 1.444 agências no Brasil nos 12 meses até novembro, 78% a mais que nos 12 meses anteriores, no maior corte desde 2017, de acordo com dados do Banco Central compilados pela Bloomberg.
As agências, antes essenciais para o varejo bancário no Brasil, estão se tornando um fardo caro diante da competição com as fintechs. A pandemia acelerou a tendência, pois os clientes ficam mais em casa e os bancos têm de arcar com novos custos para equipar suas instalações para cumprir protocolos de segurança contra o vírus. O Brasil tem o segundo maior índice de mortalidade de covid-19 do mundo.
“Talvez você não precise de agências com todos os serviços que elas têm hoje,” disse Jacob. “Temos de repensar todo o processo de distribuição de produtos em um banco.”
Entre os cinco maiores bancos, o Bradesco foi o mais agressivo nos 12 meses até setembro, fechando 772 agências, seguido pelo Itaú com 203, segundo os balanços dos bancos.
O Bradesco já está transformando sua rede de agências, segundo Nathan Dean, analista da Bloomberg Intelligence. “Eles têm essa ideia de agências satélite -- menores, com uma ou duas pessoas”, disse Dean.
Os cortes de empregos estão chegando quase tão rápido quanto. Os bancos cortaram 26% a mais vagas nos 12 meses até setembro em comparação com a média de 2013 a 2019, segundo dados do Ministério da Economia compilados pelo sindicato dos bancários. O Santander lidera a lista, cortando 4.335 empregos, de acordo com seu balanço.
O Itaú foi o único banco com aumento no quadro de funcionários. Mais de 2.000 pessoas se juntaram à sua equipe de tecnologia, incluindo as vindas da Zup I.T. Serviços em Tecnologia e Inovação Ltda., empresa adquirida pelo banco, disse Jacob. Após cortes em outras áreas, as vagas adicionadas no Itaú em 12 meses até setembro foram de 736, segundo seu balanço.
“Expandimos nossos investimentos em tecnologia em 40% neste ano em comparação com 2019”, disse Jacob. “Neste negócio, temos licença para matar: podemos gastar o quanto quisermos.”
A ameaça das fintechs até agora tem se limitado a produtos específicos, como cartões de crédito, em que houve “uma perda importante de participação de mercado” dos maiores bancos, disse Jacob. Mas as grandes instituições financeiras ainda dominam em outras áreas, incluindo crédito, disse ele.
Ainda assim, será difícil manter margens de lucro no futuro, então cortar custos é “uma questão de sobrevivência” para os bancos, disse ele.
Antes da pandemia, o Itaú abria em média de 250 mil a 270 mil novas contas por mês por meio de canais eletrônicos. No segundo trimestre, o número atingiu o recorde de 645 mil, antes de cair para 512 mil no terceiro trimestre, segundo o banco com sede em São Paulo. O oposto acontece com seguro, que é um produto vendido principalmente durante as visitas a uma agência tradicional, disse Jacob.
O Brasil tinha 19.352 agências bancárias em novembro, 4.115 a menos do que em quatro anos atrás.
O Banco do Brasil, controlado pelo governo brasileiro, aumentou em 67 o número de agências nos 12 meses até setembro. Já a Caixa Econômica Federal, outro grande banco estatal, cortou apenas duas agências, mas eliminou 3.896 empregos no período.
Os bancos brasileiros investiram 24,6 bilhões de reais em tecnologia no ano passado, mas os ganhos com esses investimentos não foram distribuídos igualmente com funcionários e clientes, segundo Juvandia Moreira, presidente do Contraf/CUT, o sindicato nacional dos trabalhadores do setor financeiro.
“Gostamos da tecnologia também, não somos contra ela, mas queremos que os lucros obtidos sejam compartilhados com a sociedade, incluindo funcionários de bancos e clientes”, disse Juvandia em entrevista.
“As tarifas bancárias ainda são muito altas, enquanto os clientes são obrigados a fazer auto-atendimento em plataformas digitais ou a esperar em filas enormes, enquanto os funcionários ficam sobrecarregados.”
Os bancos eliminaram mais de 72.500 empregos de 2013 a setembro deste ano, disse o sindicato dos bancários, usando números do Ministério da Economia. Isso se compara a mais de 40.000 pessoas que começaram a trabalhar em startups do setor financeiro no Brasil desde 2015, segundo o Relatório Distrito Fintech 2020.
Os bancos estão focados em aumentar sua tecnologia e isso não é somente uma questão de economia de custos que ela gera, disse Dean, da Bloomberg Intelligence.
“Os bancos querem ter certeza de que estão abraçando a ideia da tecnologia”, disse ele. “É mais uma questão de estratégia -- que tipo de banco queremos ser daqui a três ou cinco anos.”