Concessionária: dez cuidados para não errar na hora da compra do seu zero quilômetro (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2016 às 16h24.
Você encontra o carro de seus sonhos e em condições melhores do que as esperadas. Com tudo combinado, o vendedor diz na última hora que a documentação, que inclui o emplacamento na revenda, vai custar R$ 1500.
Você diz que prefere fazer a documentação por conta própria, mas o vendedor diz que não é possível. Se isso acontecer, pode procurar o Procon. Isso é a chamada venda casada – do carro e dos serviços de documentação.
Há quem aceite por conveniência, mas não faz sentido pagar sete vezes mais por um simples serviço de despachante. Feito por conta própria, o emplacamento, em São Paulo, custa R$ 223,53, além do pagamento do Dpvat e do IPVA.
Cada dia mais é preciso conhecer o carro em que se está interessado e tudo o que ele oferece. Alguns, por exemplo, já trazem protetor de cárter e tapetes de série, mas não é raro o vendedor oferecê-los como um bônus.
Portanto, saiba tudo o que seu sonho de desejo traz de série para não cair em conversa mole, que só cola diante da sua desinformação.
O primeiro passo é pesquisar no site da montadora e o segundo pode ser uma pesquisa entre outras concessionárias para saber se o que lhe ofereceram é um acessório grátis ou vem de série com o carro.
Ao comprar um carro com carta de crédito, também não é incomum que o vendedor diga que o processo de aprovação de consórcios seja difícil, demorado e que até impeça o negócio de acontecer.
Pura chantagem: serve para apresentar um “facilitador”, alguém que, por uma módica contribuição monetária, vai desembaraçar os trâmites e garantir seu carro, novo ou usado, na garagem.
Lembre-se de que uma carta de crédito é praticamente dinheiro vivo, o que lhe dá mais poder de negociação na compra do que se entrasse com um financiamento ou desse seu carro como parte de pagamento. Por isso pechinche sem dó.
Seu carro está comprado, mas a data de entrega fura. Ou ele vem com algum defeito ou arranhão. Ou qualquer outro problema do tipo.
Você procura o vendedor para esclarecer o problema e ele diz que agora a coisa não é mais com ele, mas com o “departamento de entrega”. Você procura o departamento de entrega e eles dizem que quem resolve isso é o vendedor.
Começa um jogo de empurra-empurra que tira do consumidor a paciência e o cumprimento daquilo que ele contratou.
Evite os aborrecimentos: procure logo o gerente e resolva com ele. Afinal de contas, você não fez negócio com uma pessoa física, mas sim com a loja ou concessionária. E é ela que deve resolver qualquer pendência.
É fato: você nunca comprará um automóvel sem alguns quilômetros no hodômetro. Isso porque ele precisa ser manobrado, colocado na cegonheira, manobrado de novo e por aí afora.
A questão é o quanto é razoável ele ter rodado antes de ser vendido na concessionária. Mais que 10 km num carro nacional e 20 km num importado (por conta da logística mais complicada) podem indicar algum tipo de abuso.
E esse abuso também configura descumprimento de oferta, o que abre brecha para pedir uma indenização e até a chance de desfazer o negócio.
Com estoques em alta, é cada vez mais fácil achar um carro para pronta entrega. Mas tome cuidado com o que o vendedor diz no ato da venda, esse “pronta entrega” pode significar alguns dias ou até mais de uma semana.
Quando você está buscando uma versão com equipamentos ou cores menos comuns, a demora pode chegar a 90 dias.
Legalmente não existe prazo razoável de espera, só o combinado. Se comprar seu carro com urgência, faça constar por escrito quando ele deve ser entregue.
Se o prazo não for respeitado, a empresa incorre em descumprimento de oferta, segundo Christian Printes, advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
O prazo “preto no branco” ajuda a provar isso. Cuidado com a instalação de acessórios, como película nos vidros, que pode virar desculpa para atrasos. Se comprar alguma coisa extra, peça que isso seja considerado no prazo de entrega. Por escrito.
Outro cuidado que se deve ter com atrasos é que eles podem indicar problemas mais graves. Já houve vários casos de concessionárias que, prestes a falir, venderam e não entregaram.
Antes de fechar negócio, procure se informar com outros clientes e consulte os serviços de proteção ao consumidor, como o Procon e sites de reclamação.
Muitas montadoras estão oferecendo taxa zero de juros nos
seus financiamentos para tentar manter os níveis de produção do ano passado. As condições para essas compras a prazo normalmente são muito específicas, com a exigência de 50% ou 60% do valor total e um máximo de 24 parcelas para o restante.
O problema é que o juro zero talvez seja zero vírgula alguma coisa. Tudo por conta de taxas já proibidas pelo governo, como a TAC, a Taxa de Abertura de Crédito.
Ou mesmo de taxas permitidas, como as de análise de crédito, mas muito superiores às normalmente cobradas. “Essa taxa costuma ficar entre R$ 30 e R$ 50, mas já vimos cobrarem até R$ 1500”, diz Printes.
Na dúvida, peça para ver o Custo Efetivo Total, ou CET, que deve constar no contrato de financiamento. Ele deve ser muito próximo de zero. Se não for, reclame.
A promessa de primeira revisão gratuita do carro precisa ser lida com o máximo de atenção. Há casos em que só a mão de obra é de graça. Há outros em que o desconto na compra do carro elimina a gratuidade da primeira revisão.
Antes de comprar o carro tomando essa promessa como vantagem, informe-se bem sobre o que ela realmente envolve e entrega.
Algo que pode dar prejuízo, ainda que não diretamente ligado à compra, é o pedido de uma “caixinha” pelos serviços que a concessionária tem de prestar por obrigação.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a entrega do nosso Volkswagen Up! do teste de Longa Duração, publicado na QUATRO RODAS de junho.
Em geral o funcionário vende como favor uma obrigação, para a qual ele já é treinado dentro da concessionária. Nestes casos, não se sinta refém da situação nem receoso de parecer muquirana: só dê caixinha se você achar que teve um atendimento fora de série e porque sentiu vontade de fazê-lo. Quem pede normalmente é quem menos merece.
Para comprar o carro novo dos sonhos, é comum colocar o usado no negócio. A novidade é que, para aceitar o usado, muitas revendas andam exigindo que se faça uma inspeção veicular prévia.
O problema é que a revenda tenta espetar o custo dessa inspeção no lombo do cliente. Se ele fosse comprar um usado, teria de pagar a inspeção para vender seu carro e outra para se certificar de que seu novo automóvel está nos conformes.
Não aceite: o interessado em comprar seu usado é a concessionária. Ela que pague pela inspeção ou que tenha técnicos especializados em detectar problemas.