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1. Impacto será sentido pela maioria das empresas
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A alta da inflação já se tornou uma realidade que investidor nenhum pode ignorar. Após um início de ano de preços sob controle, a alta dos últimos cinco meses surpreendeu o mercado e tem provocado uma série de revisões para cima nas expectativas inflacionárias. Não é possível prever que essa tendência se reverta já no começo de 2011 devido a ao menos quatro fatores: 1) o IGP-M fechará este ano acima de 11% e deverá pressionar o reajuste dos preços administrados no ano que vem; 2) os aluguéis e as mensalidades escolares devem continuar a subir acima da inflação devido à forte demanda; 3) o aumento dos preços do algodão fará a indústria têxtil repassar parte da alta dos custos aos consumidores; e 4) em um país que cresce a pleno emprego, os custos com mão de obra continuarão a subir. O Itaú BBA acredita que os preços continuarão pressionados em 2011, mas não haveria motivos para desespero. O Banco Central deve ser obrigado a elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual e o IPCA deve fechar o próximo ano em 5,6%. Nas próximas páginas, a equipe de analistas da instituição, chefiada por Carlos Constantini, mostra quais setores serão mais ou menos afetados.
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2. Laboratórios, construção e aviação têm muito a perder
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2/6 (Agência Nitro)
Diversos setores da economia têm custos que serão bastante impactados com a escalada da inflação neste e no próximo ano. As fabricantes de papel (como Suzano e Klabin) estão entre eles. Cerca de 30% das despesas do setor são com pessoal e 13% com energia - e ambas estão sob pressão inflacionária. As empresas que constroem casas populares (como a MRV, da foto ao lado) também serão especialmente atingidas, na visão do Itaú BBA. Não há ajuste de preços entre o momento em que o comprador fecha o negócio e a entrega dos imóveis. Muitos empreendimentos deixarão de se enquadrar no programa Minha Casa, Minha Vida caso a alta das despesas seja repassada ao consumidor final. Além disso, a inflação corrói o poder de consumo dos compradores. Já os laboratórios de diagnósticos médicos (como Fleury e Dasa) sairão perdendo porque as operadoras de planos (seus principais clientes) não costumam permitir reajustes para os serviços na mesma medida da inflação. Já os custos com pessoal e aluguel de imóveis tendem a superar o IPCA. As empresas de educação (como Anhanguera, Estácio, Kroton e SEB) devem sofrer as mesmas pressões com aluguel e salários. Nesse caso, entretanto, será a forte concorrência no setor que deve limitar o repasse do aumento dos custos. Por último, o Itaú BBA acredita que as empresas aéreas (Gol e TAM) serão fortemente afetadas pelos mesmos motivos das empresas de educação e diagnósticos clínicos.
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3. Maioria das empresas sofre impacto levemente negativo
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Para a maioria dos setores da economia, o Itaú BBA acredita que o impacto será levemente negativo. Esse é o caso das empresas de mineração (como a Vale, da foto ao lado), siderurgia, celulose, fertilizantes, imóveis de alto padrão, petróleo e gás, distribuição de combustíveis, alimentos e bebidas, bens de consumo, varejistas, farmácias, telecomunicações, mídia, bens industriais, logística, locadores de veículos e bancos. Os analistas admitem que esses setores não possuem contratos que lhe garantam repasses automáticos de eventuais aumentos de custos. No entanto, a elevação das despesas não deve ser tão intensa quanto no caso das empresas da página anterior. A demanda dos consumidores também não deverá ser tão afetada. Além disso, a maioria das companhias faz parte de setores não tão competitivos que, em tese, não terão dificuldades de impor pequenos reajustes de preços aos clientes.
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4. Empresas que praticam preços internacionais terão efeito neutro
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Há muitos setores da economia brasileira cujos preços cobrados dos clientes variam mais de acordo com a relação entre a oferta e a demanda ou com os valores praticados no mercado internacional do que com a inflação doméstica. Esse é o caso de empresas petroquímicas, grãos, distribuidores de fertilizantes ou de açúcar e álcool, que, na visão do Itaú BBA, tendem a não ser prejudicadas nem beneficiadas pela inflação. Também há setores como de fumo e cigarros e fabricantes de remédios que dificilmente sentem dificuldades para repassar preços - afinal, ninguém deixa de fumar ou de tratar da saúde para economizar alguns trocados. Por último, há setores que perdem por um lado e ganham por outro. Empresas de tecnologia têm contratos de manutenção que são reajustados pela inflação, mas também terão aumento dos custo com mão de obra. A BM&FBovespa (foto), por sua vez, não tem receitas atreladas à inflação, mas pode ganhar com o aumento das negociações com derivativos. Já as empresas do setor de cartões de crédito (como Cielo e Redecard) possuem receitas parcialmente protegidas da inflação porque muitas vezes cobram um percentual do valor da transação como comissão. Logo, se a inflação afeta o preço do bem ou serviço, pode elevar a receita dessas empresas.
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5. Concessionárias de serviços públicos são levemente beneficiadas
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5/6 (EXAME)
A economia brasileira inclui um grande número de empresas com direito garantido ao repasse da inflação para as tarifas cobradas dos consumidores. Esse é o caso das empresas de água e saneamento - como a Sabesp (foto) e a Copasa - ou de energia, cujos contratos de concessão assinados com órgãos de governo estabelecem a regras para os reajustes anuais. Em alguns casos, como no setor de gás e na telefonia fixa, no entanto, eventuais ganhos de produtividade das empresas podem ser descontados do índice cheio de inflação na hora de repassar os preços. E vale lembrar que os custos trabalhistas e com algumas matérias-primas também serão pressionados pela inflação no caso dessas empresas.
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6. Empresas que vivem de aluguel ganham mais
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6/6 (Divulgação)
As companhias que devem ser mais beneficiadas pelo aumento da inflação são aquelas que possuem imóveis e vivem da renda gerada pelo aluguel deles. Esse grupo pode ser dividido entre empresas de shoppings - como Multiplan (da foto ao lado), BR Malls, Iguatemi, General Shopping e Aliansce - e empresas com diversos tipos de imóveis no portfólio (como São Carlos e BR Properties). A maioria das empresas de shopping center fecha contratos de ao menos cinco anos com os lojistas e estabelecem um reajuste anual pelo IGP-DI, IGP-M ou IPCA. Em qualquer um dos casos, o valor cobrado no ano que vem terá um acréscimo interessante. O poder de negociação do dono do imóvel é enorme. Além dos custos para a mudança de uma loja, os contratos de locação costumam obrigar o lojista a arcar com uma penalidade se encerrá-lo antes do fim. Como a economia continua aquecida, boa parte dos shoppings também possui filas de espera de inquilinos. O risco de vacância, portanto, continuará baixo. Já empresas como São Carlos e BR Properties são mais especializadas em prédios de escritórios corporativos ou galpões de logística, que também possuem contratos de aluguel de longo prazo geralmente reajustados pelo IGP-DI ou IGP-M. A inflação deve gerar aumento apenas marginal de custos para essas empresas - concentrado nas despesas com pessoal.