Respeitados os limites do FGC, aplicação também oferece segurança (Joe Raedle/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2012 às 06h36.
São Paulo – Uma aplicação de renda fixa isenta de imposto de renda e de taxas de administração, e mais rentável que a poupança e muitos CDBs. As Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ainda estão longe de serem consideradas populares, mas em época de juros baixos, Bolsa problemática, poupança menos rentável e maior dificuldade de conseguir rentabilidade, as LCIs podem ganhar espaço como alternativas interessantes de diversificação.
Corretoras que comercializam LCIs emitidas por diversas instituições financeiras dizem que a procura pelo produto vem crescendo. Na SLW, que oferece papéis de cinco bancos pequenos e médios, a procura aumentou cerca de 15% (em número de clientes) desde o início do ano. “Há dois tipos de clientes: o que está começando agora, com aportes menores, e não quer correr risco de Bolsa; e os clientes mais antigos, com patrimônio maior, e que já buscam corretoras que ofereçam esse tipo de produto”, diz Peter Weiss, sócio-diretor da corretora.
Por serem isentas de IR para o investidor pessoa física, as LCIs permitem ao aplicador visualizar com facilidade o seu retorno. A maioria dos papéis emitidos hoje é indexada ao DI, e costuma remunerar de 80% até 100% do CDI. Há também um bom estoque de LCIs prefixadas. De toda forma, o investidor já sabe que a rentabilidade indicada é de fato a que ele vai receber terminado o prazo do papel.
Emitidas por bancos, as LCIs têm como lastro os recebíveis imobiliários da instituição emissora, ou seja, os financiamentos de imóveis concedidos por ela. Assim como ocorre com os CDBs, o maior risco do investidor é a quebra do banco emissor, mas existe ainda a garantia adicional da alienação dos imóveis financiados. Também semelhante aos CDBs é ausência de taxas de administração, ao contrário do que ocorre com o Tesouro Direto e os fundos de renda fixa.
Considerada uma aplicação de baixo risco, o risco das LCIs, porém, não deve ser desprezado. Embora sejam emitidas por bancos tão sólidos quanto a Caixa Econômica Federal, as instituições que remuneram melhor são as de pequeno e médio porte, de baixa liquidez e mais suscetíveis aos solavancos da economia. Quanto mais alta a remuneração do papel, maior o risco, pois maior é a dificuldade do banco de captar recursos no mercado.
Para reduzir seu risco, o investidor deve atentar para outra característica da LCI comum aos CDBs e também à própria caderneta de poupança. Todas essas aplicações são garantidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até 70.000 reais por CPF por instituição. Em caso de quebra do banco, portanto, o investidor terá direito a receber de volta tudo que tiver aplicado em determinado banco até o valor de 70.000 reais, ainda que com certa demora.
“Eu não aplicaria essa quantia em lugar nenhum. Se você aplica 70.000 reais, o que você ganha de rentabilidade até o banco quebrar fica de fora da cobertura, e você garante apenas o principal”, ressalva o economista e consultor financeiro Beto Veiga. Ele aconselha o investidor a aplicar até 65.000 reais em uma única instituição caso o prazo da LCI seja menor que um ano; 60.000 reais, se o prazo for de um ano; e 50.000 reais, se for maior que dois anos. Assim se garante o principal e a rentabilidade.
“Se o sujeito quiser investir 200.000 reais, por exemplo, ele tem que dividir entre os emissores”, orienta Eduardo Glitz, diretor de varejo da XP Investimentos. Para fazer isso, instituições como a própria XP e a SLW permitem ao investidor aplicar em LCIs de diversos emissores a partir de sua conta na corretora, sem necessidade de abrir contas em todos os bancos emissores. É o caminho mais prático para quem quer investir mais de 70.000 reais ou pulverizar bastante o risco.
Falta de liquidez: um risco adicional
A LCI é mais rentável que a caderneta de poupança mesmo para os investidores que quiserem fazer aportes menores. Aliás, além da isenção de IR, outra diferença da LCI para o CDB é que, até nos bancos grandes, essas aplicações são vantajosas. Se em um cenário de Selic de 8,5% ao ano ou menos a poupança renderá 70% da Selic, uma LCI que renda 80% do CDI – taxa considerada baixa para esse investimento – já está ganhando.
A ausência da cobrança de IR facilita a comparação entre as duas aplicações. Mas não se deve considerar as LCIs como substitutas da poupança, pois a elas falta uma característica crucial da aplicação mais popular do país: liquidez.
LCIs não têm liquidez alguma antes do vencimento, ao contrário da caderneta de poupança, que permite resgates a qualquer tempo. A boa notícia é que existem papéis de diversos prazos, de três meses a mais de um ano. Para quem se dispõe a estimar para quando vai precisar do dinheiro, é uma ótima alternativa às demais aplicações de renda fixa.
“Acho a LCI um produto bastante interessante. Com a queda dos juros, as pessoas começam a se lançar ao risco. É importante, porém, saber o risco que o produto tem e que se pode correr”, diz Jurandir Macedo, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco.
Para o professor, a LCI só é interessante para quem tem praticamente certeza de que não vai precisar do dinheiro aplicado antes do vencimento. Pode ser usada para um objetivo de prazo mais longo, como a aposentadoria, ou outro propósito importante e bem definido. “Imagine que você vai precisar pagar as chaves do apartamento que você comprou na planta daqui a dois anos”, exemplifica. Em um caso como esse, o investidor inclusive acaba com a tentação de gastar aquele dinheiro antes do tempo.
Diferentes formas de investir
Bancos grandes: Pode ser que o seu banco ofereça uma LCI de rentabilidade não tão alta e aplicação inicial elevada. Em compensação, existe a garantia de um banco sólido por trás. Na Caixa, por exemplo, a LCI de aplicação mais baixa requer um aporte de 50.000 reais e paga de 83% a 86% do CDI para prazos que variam de dois meses a mais de dois anos. Particularmente na Caixa é possível obter liquidez diária em uma LCI, desde que o investidor aceite receber apenas 83% do CDI como rentabilidade. Já o Santander oferece uma LCI mais interessante, com aplicação inicial de 30.000 reais e remuneração que chega a 88% do CDI após um ano.
Corretoras tipo “shopping center financeiro”: nas corretoras que oferecem diferentes tipos de aplicações financeiras podem ser oferecidas LCIs de diversos bancos, de aporte bem baixo, voltadas para o pequeno investidor. A desvantagem é que essas instituições são pequenas e médias, apresentando, portanto, risco muito maior para o investidor. As vantagens são a alta rentabilidade e a possibilidade de aplicar em várias instituições diferentes a partir de uma única conta, sempre respeitando os limites do FGC.
Na XP Investimentos, por exemplo, as LCIs entregam uma rentabilidade na faixa de 90% a 95% do CDI para prazos de três, seis e 12 meses. As dos bancos Modal, Máxima e BVA aceitam aplicações a partir de 1.000 reais. A LCI emitida pela Brazilian Mortgages exige aplicação mínima de 30.000 reais. E a do Banco ABC, de 50.000 reais. Já na SLW são oferecidos papéis dos bancos ABC, Máxima, BVA, Ourinvest e Pine, com aplicação inicial a partir de 5.000 reais.
LCI “direta”: assim como existe o investimento em CDB pela internet, já existe o investimento em LCI. O banco Sofisa oferece por meio de seu Sofisa Direto LCIs pré e pós-fixadas, de estoque limitado, mas ainda disponíveis. Entre as pós-fixadas, a remuneração vai de 91% a 94% do CDI, para prazos que vão de três meses a um ano. Já entre as prefixadas, a de prazo de seis meses paga uma taxa de juros líquida de 7,40%; a de um ano, de 7,45%; e a de dois anos, de 8,40%. Repare que as prefixadas precificam uma taxa de juro futura bem reduzida, o que ainda parece improvável aos olhos do mercado. Ainda assim, o investidor sabe quanto vai ganhar exatamente ao final do período, o que pode ser suficiente para seu objetivo. Com 1.000 reais já é possível investir.