Praia do Leblon: preços das propriedades residenciais nas 20 principais cidades do Brasil caíram de julho a agosto (Hmaglione10/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2015 às 18h24.
Em extremos opostos do centro do Rio de Janeiro, projetos ligados a Donald Trump e Eike Batista - o primeiro, um bilionário que virou político, o segundo, o mais famoso ex-bilionário do Brasil - representam a queda do mercado imobiliário da cidade.
O edifício Serrador, com 23 andares, uma torre art déco de granito e vidro perto do aeroporto Santos Dumont, no Rio, permanece vazio desde que as empresas do falido império de commodities de Eike o abandonaram, no ano passado.
A uns 6 quilômetros de distância, na descarnada zona portuária da cidade, um ambicioso projeto de escritórios ao qual Trump emprestou seu nome continua sendo um lote cheio de mato, cerca de um ano depois da data prevista de início da construção.
Embora os mercados imobiliários estejam oscilando em todo o país, assolado por uma recessão, em nenhum outro lugar é mais nítido o preço pago pelo amplo escândalo nacional de corrupção e pelo colapso das commodities do que no Rio.
Para piorar as coisas, uma enxurrada de novas unidades planejadas durante os anos de prosperidade da última década estão chegando agora ao mercado, empurrando a taxa de vacância no Rio ao nível mais elevado da América Latina.
Os aluguéis, que chegaram a se equiparar aos de Nova York e Paris, estão despencando.
“O Rio está passando por um momento muito delicado”, disse Ricardo Raoul, diretor-geral da Paladin Realty Partners LLC, fundo de propriedades de cerca de R$ 12 bilhões (US$ 3,2 bilhões) em projetos no Brasil. “Há um aumento de oferta somado a uma falta de demanda”.
No Leblon, um bairro à beira-mar com vista para o Cristo Redentor, que abriga muitos gestoras de fundo hedge da cidade, os aluguéis de escritórios de primeiro nível caíram em um terço em relação ao início de 2014. E ainda mais se os aluguéis forem precificados em dólares -- quase 60 por cento.
Na Barra da Tijuca, um bairro em crescimento no oeste da cidade, a empresa de telefonia TIM Participações SA conseguiu negociar dois anos de aluguel grátis para sua nova sede em uma torre de vidro com palmeiras em frente, segundo um documento regulatório.
Os preços das propriedades residenciais nas 20 principais cidades do Brasil caíram de julho a agosto, primeiro declínio desde, pelo menos, 2008 e o Rio liderou a tendência, segundo o índice imobiliário FipeZap.
Os preços das propriedades brasileiras subiram 3,3 por cento nos últimos 12 meses, cerca de 6 pontos porcentuais abaixo da inflação, resultando em um declínio em termos reais.
Queda nos aluguéis
Os aluguéis mensais de escritórios do Rio caíram para R$ 135 por metro quadrado no segundo trimestre, disse a CBRE Group Inc., maior empresa de serviços imobiliários comerciais do mundo.
É cerca de metade do preço praticado em Nova York e Paris e menor do que o pico de R$ 150 do começo de 2013. Enquanto isso, a taxa de vacância subiu de menos de 3 por cento no fim de 2010 para 23 por cento atualmente.
Como muitos dos problemas da cidade, esse também pode ser atribuído ao duplo golpe do escândalo na gigantesca companhia petrolífera estatal Petrobras e da queda dos preços do petróleo.
A Petrobras suspendeu novos negócios com cerca de 30 empreiteiras depois que uma investigação encontrou evidências de que elas pagavam propinas para garantir contratos, forçando pelo menos sete companhias com grandes operações na cidade a entrarem com pedidos de recuperação judicial.
A Petrobras não respondeu aos pedidos de comentário enviados por e-mail sobre seu impacto no mercado imobiliário da cidade.
“Uma boa parte do mercado estava baseada na indústria do petróleo”, disse Raul Correa, sócio da agência comercial Office International Realty, que acompanha a queda nos preços em bairros sofisticados como o Leblon. “Agora, muitas estão se reducendo”.