Dólar: Saiba o que fazer se você tiver uma viagem internacional marcada na próxima semana, em janeiro ou em julho do ano que vem (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2014 às 16h28.
São Paulo - As oscilações do dólar têm causado fortes dores de estômago nos brasileiros que têm viagem internacional marcada. Nesta terça-feira, a moeda fechou em 2,7341 reais, maior cotação desde 24 de março de 2005.
Quem fez a lição de casa e comprou o dólar aos poucos já pode fechar as malas e partir para o abraço, mas o que fazer se o embarque é na semana que vem e você deixou para comprar a moeda no aeroporto?
EXAME.com conversou com especialistas para responder essa pergunta e também para orientar os mais prevenidos, que têm viagem marcada para janeiro e para julho do ano que vem.
Se a sua viagem for nas próximas semanas
Inúmeros fatores podem influenciar as oscilações do real, portanto é impossível prever se a moeda vai subir ainda mais ou se pode cair. Como não existe uma resposta certa, para tomar uma decisão é preciso reunir as informações disponíveis e seguir a linha que você mais acredita.
Zeina Latif, economista-chefe da gestora XP Investimentos, acredita que a situação no mercado externo tende a se acalmar. Por isso, sua recomendação é aguardar pelo menos dois dias para comprar a moeda.
“Eu esperaria ao menos dois dias para comprar. Nesta quarta-feira acontece a reunião do FED [banco central norte-americano] que pode ajudar a conter um pouco o pânico, por isso eu aguardaria a reação do mercado. Mas há riscos, afinal é impossível prever os preços dos ativos”, diz.
A reunião do FED sinalizará se a taxa de juro americana será elevada em 2015. A decisão mexe com os mercados internacionais porque ao elevar a taxa de juro, o país, que tem o menor risco do mundo, passa também a oferecer um retorno maior aos investidores que aplicarem seu lá. Assim, há uma diminuição da oferta de dólares em países emergentes, como é o caso do Brasil.
Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas, já acredita que pode ser melhor comprar o dólar agora para se proteger de uma possível alta. “Quem vai viajar na semana que vem já deve comprar a moeda agora para garantir a viagem. Eu só recomendo comprar aos poucos se o viajante estiver disposto a aceitar uma eventual alta do dólar”, afirma.
Essa pode ser uma estratégia para quem prefere não pagar para ver o que pode acontecer nos próximos dias.
A mesma recomendação é feita por Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos. Para ele, se o objetivo é comprar dólares para viajar, não vale a pena se basear em circunstâncias de mercado para decidir o momento de comprar a moeda.
“Deixar a circunstância mostrar o que você deve fazer é perigoso. É melhor comprar a moeda agora e ver o dólar cair para 2,40 reais do que não poder viajar se a moeda subir ainda mais”, diz Bittencourt.
Ainda assim, como os últimos dias foram críticos, sua orientação é esperar pelo menos até quinta-feira para iniciar a compra dos dólares e não fazer a conversão apenas em um dia.
“Se falta uma semana para a viagem, eu faria a compra a cada dois dias, que são ciclos bons ao longo da semana e fugiria de dias como sexta-feira, que pela proximidade do fim de semana - quando não há negociação - pode ter preços mais pressionados”, afirma o diretor da Apogeo.
Por outro lado, Samy Dana alerta que a compra em dias diferentes pode gerar mais custos já que a cada conversão novas taxas serão cobradas. Para reduzir os custos, busque os bancos e corretoras com menor Valor Efetivo Total (VET). A lista pode ser consultada no site do Banco Central.
James Gulbrandsen, sócio da NCH Capital, gestora especializada em mercados emergentes com sede em Nova York, também recomenda esperar a reunião do FED passar para fazer qualquer movimento. “O real já teve uma queda bem forte, então eu não faria nada entre esta quarta e quinta-feira”, diz.
Enquanto Zeina Latif acredita que o FED deve evitar notícias que gerem mais volatilidade no mercado, já que isso também afeta a produção local nos Estados Unidos, Gulbrandsen não descarta anúncios que possam estressar os mercados.
“O FED não se importa com mercados emergentes. Ele se importaria muito mais se a volatilidade nos Estados Unidos estivesse alta e se o índice S&P 500 estivesse caindo muito, mas não é o caso”, afirma o sócio da NCH.
Ainda que o FED anuncie a alta dos juros e os mercados fiquem voláteis, Gulbrandsen diz que a desvalorização do real nos últimos dias já precificou essa possibilidade de alta dos juros americanos, portanto o dólar não deve subir de forma acentuada.
A forte desvalorização do real, no entanto, não foi puxada por fatores ligados aos Estados Unidos. Pesou para a depreciação sobretudo o aumento da preocupação com a Rússia, que elevou o risco de países emergentes e provocou a retirada de dólares desses mercados.
Esse movimento ocorreu pois na terça-feira o banco central russo elevou a taxa de juro do país de 10,5% para 17% para conter a desvalorização da moeda local, o rublo. A medida foi tomada para atenuar a crise no país, agravada pelas quedas nos preços do petróleo.
Também têm contribuído para a queda do real as investigações sobre corrupção na Petrobras e as perspectivas de divulgação de resultados ruins da estatal.
Ainda que todos esses fatores possam continuar provocando oscilações no real, a impressão que predomina é a de que mais caro do que está, provavelmente o dólar não vai ficar.
Portanto, pode ser interessante esperar alguns dias até essa turbulência passar para aproveitar uma cotação um pouco melhor do real, mas apenas se você tem sangue frio e dinheiro para suportar um movimento inverso, de nova alta do dólar.
Caso você queira apenas dormir tranquilo e garantir a viagem, pode valer mais a pena comprar o dólar agora e eliminar o risco de ver a moeda subir para um patamar que acabe com seus planos. Caso essa seja sua escolha, também não vale ficar sofrendo se o real se valorizar.
Se a viagem está marcada para janeiro
Com um prazo um pouco maior, de cerca de um mês, a situação é menos complexa.
Nesse intervalo de tempo, Samy Dana recomenda comprar a moeda semanalmente. “Ao fazer a compra aos poucos, é possível fazer um preço médio da moeda”, diz.
A economista-chefe da XP Investimentos acredita em um cenário mais tranquilo após a reunião do FED, com tendência de alta do real. “É possível que o mercado dê uma acalmada. Depois da queda muito forte do petróleo e da correção muito forte da moeda é difícil ocorrer uma grande queda de novo”, afirma.
Ela diz, no entanto, que a volatilidade pode continuar, uma vez que o momento já não é mais favorável aos mercados emergentes e as commodities estão em queda. “Mesmo que o momento de maior tensão do mercado seja superado, com a situação na Rússia o investidor estrangeiro reduz sua posição nos emergentes”, afirma.
O sócio da NCH Capital concorda que o cenário tem sido menos favorável aos países emergentes, mas não acredita que o quadro deva se agravar porque o pessimismo com a Rússia não deve contagiar o Brasil de forma mais contundente.
“Estamos passando por um momento histórico, mas não tão histórico quanto a crise de 2008 e também não acho que o Brasil sofrerá um contágio no mesmo nível da crise de 1998 [crise da moratória russa]”, diz Gulbrandsen.
Os entrevistados foram unânimes em dizer que o real dificilmente sofrerá uma nova queda brusca, mas nenhum deles se arriscou a dizer que a moeda deve subir até janeiro.
Eles concordam, no entanto, que se a viagem será só em janeiro vale a pena aguardar mais um pouco para esperar a volatilidade dos últimos dias passar.
Depois disso, quem acreditar na queda do dólar pode esperar o ano virar para comprar a moeda, mas quem não quiser pagar pra ver pode começar a comprar a moeda aos poucos ainda neste ano.
Se a viagem for apenas em julho
Com um prazo ainda maior até a viagem, a recomendação geral é esperar o nervosismo do mercado passar.
Com sinais mais claros sobre os rumos da Petrobras e com os novos ministros definidos, Zeina Latif acredita que a tensão sobre o real tende a diminuir. “Hoje temos muita incerteza junta e o mercado está nervoso. Quem vai viajar em julho deve esperar. Não é prudente comprar dólar agora”, afirma.
Em sua opinião, a postura mais racional do novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mostra que a queda do real pode ser menor em 2015. “Infelizmente não vemos uma postura assim no resto do governo, por isso o cenário é imprevisível ainda. Até fevereiro, quando acontecer a votação do orçamento, o cenário deve ficar mais claro”, diz Zeina.
James Gulbrandsen é enfático ao dizer que o real não sofrerá uma desvalorização tão grande que supere a variação da taxa básica de juros, a Selic.
Dessa forma, ele acredita que a estratégia mais razoável caso o objetivo seja usar o dólar no meio do ano seria aplicar em investimentos que acompanhem a variação da Selic. Assim, mesmo que o real se desvalorize, a variação da taxa básica compensará eventuais perdas com a valorização do dólar.
Ele afirma que nos últimos 15 anos a variação da Selic tem sido suficiente para repor as desvalorizações do real em relação ao dólar. “Eu tenho fundos estrangeiros que estão predominantemente investidos no Brasil porque a taxa de juro aqui é muito alta e compensa a perda que o fundo pode ter com a desvalorização da moeda”, diz o sócio da NCH Capital.
Ele acrescenta ainda que as perspectivas para o real são favoráveis e que a bolsa brasileira estaria subindo agora se o preço do petróleo não tivesse caído e se a Petrobras não estivesse em crise.
“No ano que vem as mudanças que Joaquim Levy fará serão muito positivas. Daqui a seis meses, se os problemas da Petrobras forem resolvidos o Brasil vai voltar a ser líder dos mercados emergentes”, opina Gulbrandsen.
Investir em ativos atrelados à Selic pode ser uma boa estratégia de proteção contra as oscilações do dólar porque a taxa básica de juros engloba o risco de depreciação do real.
Em uma explicação resumida, a taxa de juro básica é o preço que o país paga para atrair os investimentos estrangeiros e indica o nível de risco do país. Portanto, a taxa é formada de maneira que a sua variação consiga repor a inflação do país e a flutuação do câmbio no período de investimento.
“No longo prazo a taxa de juro oficial no país leva em conta a própria inflação, a paridade de compra com relação ao dólar e o prêmio de risco sobre o Brasil, então ela engloba a variação cambial", diz Paulo Bittencourt.