Agência do BB: Interesses do governo levam ação a ser subavaliada pelo mercado (ALAN MARQUES)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h18.
São Paulo – As ações do Banco do Brasil andam descontadas. Apesar dos bons resultados nos últimos anos e a presença marcante no país, o mercado tem penalizado os ativos do BB por um motivo muito claro e bem definido: o "risco governo". Analistas consultados por EXAME.com, no entanto, defendem que o mercado pode estar exagerando nesse desconto.
Nos últimos cinco anos, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) tiveram uma valorização de 24,24% . No mesmo período, o CDI, taxa de juros que baliza as aplicações de renda fixa mais conservadoras, teve uma variação de 60,81%. E o Ibovespa, principal índice de referência da Bolsa teve uma baixa 17,54%.
Criado em 1808, o BB é o banco mais antigo do país e atualmente é o 36º maior banco do mundo, segundo o ranking de 2013 produzido pela revista britânica "The Banker". É também o primeiro banco brasileiro a atingir a marca de 1 trilhão de reais em ativos, ao alcançar, no fim de 2012, o valor de 1,2 trilhão de reais, evolução de 17,2% em relação a 2011.
Os números não escondem a solidez do banco e sua grandiosidade, mas tal como a Petrobras, o fato de a empresa cumprir antes a função de suprir as necessidades do governo do que os interesses dos acionistas parece pesar mais para os investidores do que os seus resultados.
Oportunidade de compra
Flavio Conde, analista da Gradual, defende que agora é um ótimo momento para comprar as ações do Banco do Brasil. Seu principal argumento é o desconto dos seus papéis em relação aos pares do setor, comprovado pelo índice preço/lucro (P/L) da ação, que reflete o número de anos que se levaria para reaver o capital aplicado, uma medida muito usada para medir quão baratos ou caros estão os preços das ações. Conforme ele explica, a relação entre preço e lucro do BB atualmente está em 5,7, enquanto a do Bradesco é de 9,3 e a do Itaú é de 9,4.
Para chegar ao preço/lucro é preciso dividir o preço de mercado da ação pelo lucro líquido da empresa divulgado mais recentemente. Traduzindo, isso significa que, enquanto o investidor que aplica no BB receberá o retorno do investimento em um período de 5,7 anos, o investidor do Bradesco terá que esperar 9,3 anos e o do Itaú 9,4.
A cotação das ações ordinárias do banco (ON, com direito a voto) no último fechamento (07/08) era de 21,32 reais, ante uma cotação de 28,05 reais do Itaú (ITUB3) e de 29,61 reais do Bradesco (BBDC3).
“Em todos os países do mundo o risco governo tem sido percebido como mais arriscado do que o risco privado. Eu entendo que existe o risco político, mas também entendo que por enquanto o desconto das ações fala mais alto que esse risco. É por isso que, entre Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, eu sugiro a compra do BB”, diz Conde.
Felipe Ruppenthal, analista da Geração Futuro, também defende que o temor do mercado é exagerado. “O banco vem apresentando bons resultados e a expectativa é de que os resultados continuem sendo positivos. Os bons números mostram que a intervenção não tem prejudicado tanto as ações quanto teme o mercado", diz.
Perspectivas
A principal expectativa sobre o banco no momento é a divulgação dos resultados referentes ao segundo trimestre de 2013, que serão apresentados no próximo dia 13 de agosto. Analistas estão otimistas sobretudo porque os resultados incorporam a estreia do BB Seguridade na Bolsa, braço de seguros do banco, cujo IPO (oferta pública inicial de ações) realizado em abril movimentou 11,5 bilhões de reais.
Entre as 24 carteiras recomendadas de ações para agosto recebidas por EXAME.com, quatro recomendam a compra do BB: Geração Futuro, Gradual, Socopa e Solidez.
Em seu relatório mensal, a Geração Futuro afirma que o Banco do Brasil deve apresentar um lucro trimestral muito forte, proveniente da venda de parte da BB Seguridade e deverá distribuir 40% dos lucros em dividendos, o que representará um yield (porcentagem de retorno do investimento na forma de dividendos) bastante atrativo.
Segundo a estimativa média do mercado, apurada pela Bloomberg, o Banco do Brasil tem um yield estimado de 7,9% para 2013, superior ao do Bradesco, de 3,5%, e do Itaú, de 3,2%. E equiparável aos retornos de algumas ações tradicionalmente reconhecidas por distribuir bons dividendos, como as elétricas CPFL, Cemig e Copel, cujos yields estimados são de 6,0%, 9,0%, e 5,5%, respectivamente.
No relatório mensal de agosto, a Gradual ressaltou que as ações do Banco do Brasil foram prejudicadas com a queda do Ibovespa no mês de junho, mas com o potencial recuperação do mercado eles esperam que os investidores voltem a apostar nos papéis do banco estatal. "Isso deve ocorrer em virtude do seu forte posicionamento no mercado financeiro brasileiro, dos seus resultados sólidos e crescentes e dos seus múltiplos abaixo da média dos grandes bancos”.
Para justificar a recomendação das ações do BB na carteira de agosto, a Socopa afirma que os recentes aumentos de juros anunciados pelo Banco Central para tentar controlar a inflação, e a menor pressão nos spreads devem ter impacto positivo para os bancos. "Acreditamos que os papéis do Banco do Brasil encontram-se descontados em relação aos seus pares, abrindo espaço para recuperação no curto prazo", afirmaram os analistas por meio do relatório mensal.
O analista da Geração Futuro também destaca que o banco tem apresentado uma política de concessão de crédito mais eficaz que a dos bancos privados. “O banco tem focado a concessão de crédito consignado e imobiliário, que são linhas que possuem níveis de inadimplência muito baixos, o que oferece maior segurança ao banco”, comenta Ruppenthal.
Ação nos últimos cinco anos
Os últimos cinco anos marcaram uma forte mudança de postura do Banco do Brasil frente aos seus concorrentes. Entre o final de 2008 e o começo de 2009 o BB comprou a Nossa Caixa, em São Paulo, e uma parte do banco Votorantim, como resposta à fusão do Itaú com o Unibanco.
No mesmo ano, diante da chegada da crise internacional, o banco tomou mais uma atitude acertada. “Por orientação do governo, o banco anunciou que continuaria concedendo empréstimos enquanto os bancos privados adotaram uma politica mais restritiva de crédito. A inadimplência esperada não veio, até porque eles atuaram em segmentos mais protegidos, como crédito consignado e crédito imobiliário, que têm crescido bastante. Com isso, a medida se mostrou acertada e o banco ganhou market share (participação de mercado)”, diz Ruppenthal.
Flávio Conde, analista da Gradual, também destaca que o banco passou a ampliar sua participação em segmentos nos quais sua presença era tímida. “O BB passou a disputar vários produtos e ter uma postura mais agressiva. Se antes o banco não fazia nenhum tipo de propaganda hoje ele briga de igual pra igual com o Bradesco e o Itaú, fazendo, por exemplo, anúncios no Jornal Nacional e contratando o ator Reinaldo Gianecchini como garoto-propaganda. Com isso ele se posicionou como um banco do mesmo nível que os outros, o que na verdade ele é”, afirma.
A partir do fim de 2011, para estimular a economia, o governo iniciou o ciclo de redução na taxa básica de juros, a Selic. A criação do programa BOMPRATODOS pelo BB, baixando as taxas de juros de suas linhas de crédito, forçou os demais bancos a também cortarem suas taxas. Apesar da redução dos spreads (diferença entre o custo de captação de recursos e o juro cobrado dos clientes) ao longo de 2012 e da evolução da inadimplência, o banco conseguiu registrar números consistentes.
Mais recentemente, o BB tem se destacado por manter uma taxa de inadimplência inferior à de outros bancos, resultado da concessão de linhas de crédito menos arriscadas, como o crédito imobiliário, consignado e agrícola.
Além dessas medidas destacadas, diversas outras ações do banco realizadas nos anos recentes reforçam a sua estratégia de crescimento mais agressiva e as suas possibilidades de apresentar bons resultados no futuro. Mas, conforme o mercado tem evidenciado, as ações do BB parecem estar condenadas a serem subavaliadas por causa da mão pesada do governo.
Para o investidor mais agressivo, a oportunidade parece não ter motivos para ser ignorada. Mas, para o investidor mais conservador, a compra das ações pode ser mais indicada caso o objetivo seja a realização de um investimento com foco no longo prazo e como uma estratégia de diversificação.