(Denis Balibouse/Reuters)
Júlia Lewgoy
Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 05h00.
Última atualização em 31 de janeiro de 2019 às 05h00.
São Paulo - A ação da Vale disparou na última quarta-feira (30). O papel terminou o dia com alta de 9%. O mercado estava otimista com a decisão da mineradora de acabar com as barragens a montante, o tipo menos seguro, que se rompeu em Brumadinho. Os investidores também gostaram que a Vale divulgou que vai cortar 10% da produção de ferro, para evitar outro desastre. São algumas incertezas a menos, mas, daqui para frente, a ação vai continuar subindo?
No curto prazo, o mercado verá altas e baixas intensas, dizem analistas. Dificilmente a ação da Vale voltará rapidamente ao preço da quinta-feira passada, antes do rompimento da barragem, na casa dos 56 reais. Na quarta-feira, a ação era negociada em torno de 46 reais.
No entanto, investidores com paciência e sangue frio, que enfrentarem o dilema moral de investir na empresa envolvida no pior acidente de trabalho da história do Brasil, têm boas chances de lucrar com a ação nos próximos 12 meses, segundo especialistas.
Após o rompimento da barragem em Mariana, as ações se recuperaram cerca de seis meses depois do desastre. Desde novembro de 2015, as ações da Vale acumulam alta de mais de 200%.
"Continuamos recomendando a compra para o investidor que busca retorno no longo prazo, mas, no curto prazo, o risco é muito alto", diz Sabrina Cassiano, analista da corretora Coinvalores.
A avaliação do mercado é que a queda de mais de 20% das ações na última segunda-feira (28) foi exagerada devido à notícia inesperada. Houve um efeito manada, puxado especialmente por gestores de fundos de investimento.
É claro que a Vale vai perder com indenizações após o desastre de Brumadinho. A punição pelos grandes investidores estrangeiros também é um grande risco. No entanto, a empresa tem condições de se recuperar, dizem analistas.
"A Vale tem fôlego financeiro pra fazer frente a esses aspectos negativos. O investidor levou um susto inicial, mas, a partir de agora, começa a ter previsibilidade de despesas", diz Rafael Passos, analista da corretora Guide.
Para os especialistas, a produção de minério da empresa é de alta qualidade e a recuperação do preço mundial do minério de ferro nos últimos anos é ponto positivo para a empresa. "Se fizermos uma análise somente técnica, não ética, a Vale tem bons fundamentos como empresa de mineração", diz Louise Barsi, analista da corretora Elite.
O economista-chefe da Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, é um pouco mais cauteloso. Para ele, o anúncio da Vale de que vai acabar com as barragens como a de Brumadinho trouxe mais estabilidade, mas ainda não garante nada.
"Apesar de ter o risco limitado por esse anúncio, o cenário continua desafiador. Os custos do colapso de Brumadinho podem ser muito elevados", diz. Sem unanimidade, cabe ao investidor decidir se está disposto a encarar o papel e, se estiver, diversificar sua carteira para diluir o risco.
Além disso, é preciso lembrar que a Vale suspendeu o pagamento de dividendos. Ou seja, por enquanto, melhor não contar com eles no longo prazo.