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A queda do Ibovespa não assustou estes investidores novatos

Um milhão de novos investidores passaram pela semana mais caótica do mercado financeiro brasileiro. E muitos saíram melhor do que o esperado

Murilo Duarte: o pequeno investidor perdeu cerca de 20% de valor da carteira, mas segue otimista atento aos fundamentos das empresas (Favelado Investidor/Divulgação/Divulgação)

Murilo Duarte: o pequeno investidor perdeu cerca de 20% de valor da carteira, mas segue otimista atento aos fundamentos das empresas (Favelado Investidor/Divulgação/Divulgação)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 14 de março de 2020 às 07h30.

Última atualização em 14 de março de 2020 às 13h55.

São Paulo -  Foi uma semana de fortes emoções para os investidores brasileiros, principalmente para 1 milhão de novatos na Bolsa B3, que começaram a investir nos últimos três anos e não haviam passado por nenhuma grande turbulência. Logo na segunda-feira (9), eles enfrentaram o primeiro “circuit breaker” (paralisação das negociações) da semana. Mal imaginavam, assim como ninguém, que outros três viriam, sendo dois no mesmo dia. Uma semana inesquecível. 

Durante esses dias, EXAME ouviu de analistas e gestores, histórias de pessoas que quebraram porque estavam operando alavancadas ou que a cada tombo do Ibovespa, ligavam na corretora para tentar zerar posição. “A minha diretora de operações está no telefone o dia inteiro tentando acalmar os clientes”, disse um operador de câmbio. “Eu estava convencendo um cliente que é não ideal tirar todo o dinheiro do fundo agora, mas não adiantou”, disse outro gestor. 

Entre tantos depoimentos de desespero, houve quem soubesse tirar proveito, já que as ações caíram muito e estão “baratas”. Engana-se quem pensa que foram apenas os fundos estrelados ou os grandes investidores. O pequeno investidor que conseguiu manter a calma, analisar os fundamentos das empresas e que tinha um dinheiro reserva foi às compras. 

Foi o caso de Igor Azevedo, gerente de finanças, que tinha acabado de receber a rescisão de uma verba trabalhista por ter saído do último emprego. “Antes de começar na outra empresa, sai de férias e deixei um dinheiro separado para investir, quando voltei a Bolsa estava caindo”, diz Azevedo. Antes da viagem ao Chile, ele tinha ações da Marfrig e da Ambev, que nem de longe não passaram ilesas ao caos. Na volta ao Brasil, ele aproveitou para comprar papéis do Itaú Unibanco e da Via Varejo, além de comprar fundos imobiliários. 

Quem também decidiu ampliar a sua carteira de investimentos foi Murilo Duarte (24), criador do canal no Youtube, Favelado Investidor. O jovem disse que tinha pouco dinheiro em caixa no primeiro “circuit breaker” na segunda-feira, mas na quarta-feira, quando ocorreu a segunda paralisação da semana, ele fez as contas de quanto poderia investir, após a perda de 20% do valor da sua carteira. Então, decidiu comprar ações do Itaúsa, da Trisul e da Wiz. “Quando todo mundo entrou em pânico, eu tentei lembrar dos fundamentos das empresas. Coronavírus será passageiro. As ações que são mais impactadas pelo petróleo eu não tenho na minha carteira”, diz Duarte. 

Tranquilos

As crescentes notícias sobre o avanço do coronavírus em todo mundo serviram de alerta para os investidores sem experiência na Bolsa. Antes da OMS declarar pandemia ou explodir a briga pelo preço do petróleo, já tinham pessoas que estavam ‘short’ na Bolsa, ou no jargão de mercado, esperando a queda das ações.

“No Traders Club [comunidade do mercado financeiro] todos estavam pessimistas. A orientação era zerar posição ou ficar short. Estou esperando a queda desde o Carnaval. Em dois anos, esse é o meu melhor momento na Bolsa”, afirma o analista de sistemas Filipe Souza (33).

Se teve investidor que mudou a posição de comprado para vendido, também houve casos de pessoas que mantiveram a mesma postura. O analista técnico de custos José Benedicto (67) é adepto da estratégia "buy and hold", compra ação e permanece com ela por um longo período. “O papel que eu compro, se não estiver dando lucro eu não vendo. Hoje, se eu fosse zerar posição perderia 40% do meu dinheiro investido. Mas estou tranquilo. ”

Benedicto voltou a investir na Bolsa depois de 20 anos da primeira experiência. Ele conta que há duas décadas atrás, comprou ações do Itaú, mas acabou vendendo porque estava em um momento da vida que precisava do dinheiro para realizar outros projetos. “Aprendi a lição. Já pensou se tivesse ações do Itaú todo esse tempo? ”, brinca o experiente novato.

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