Minhas Finanças

A poupança vai voltar a render como antigamente?

Taxa Selic a 8,50% é o limite para remuneração voltar a ser de 0,5% ao mês mais TR. O poupador vai voltar a ganhar como antes da mudança das regras?


	Mercado espera Selic mais alta até o fim do ano, o que melhoraria a remuneração da poupança
 (VEJA)

Mercado espera Selic mais alta até o fim do ano, o que melhoraria a remuneração da poupança (VEJA)

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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2013 às 17h27.

São Paulo – A última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a Selic para 8,50% ao ano, remuneração limite para a caderneta de poupança retornar à sua antiga forma de remuneração: o rendimento fixo de 0,50% ao mês mais Taxa Referencial (TR). E se as previsões do mercado estiverem corretas, esses tempos vão voltar ainda neste ano – possivelmente já na próxima reunião do Copom, em 27 e 28 de agosto.

Desde 4 de maio de 2012, quando mudaram as regras da caderneta de poupança, a aplicação mais popular do Brasil passou a ter duas formas de remuneração: quando a taxa básica de juros, a Selic, for maior do que 8,50% ao ano, sua remuneração segue a velha regra já conhecida dos brasileiros, de 0,5% ao mês mais TR; sempre que a Selic for igual ou menor que 8,50% ao ano, a remuneração corresponde a 70% da Selic mais TR, sendo que esta última costuma valer zero nesse cenário.

Os analistas ouvidos pelo Boletim Focus do Banco Central esperam que a Selic termine o ano em 9,25% ao ano, fechando 2014 em 9,50%. A julgar pelo ritmo do BC em elevar ou reduzir juros, é de se esperar que essa alta, se confirmada, seja gradual ao longo das próximas três reuniões.

A remuneração da poupança agora já se aproxima bastante da remuneração da poupança antiga. Veja na tabela a seguir as remunerações das duas formas de poupança em comparação a outras aplicações semelhantes (conservadoras e atreladas à Selic ou ao CDI, taxa que costuma se aproximar da Selic):

  Velha Poupança* Nova Poupança* CDB 90% do CDI Fundo DI com taxa de 1,0% a.a. Tesouro Direto
6 meses 3,04% 2,93% 2,90% 2,84% 3,11%
12 meses 6,17% 5,95% 6,10% 6,00% 6,54%
18 meses 9,39% 9,06% 9,61% 9,49% 10,32%
24 meses 12,72% 12,25% 13,05% 12,96% 14,04%
25 meses 13,28% 12,80% 14,05% 13,96% 15,12%

(*) A TR foi considerada zero, pois varia de acordo com a data de aniversário da aplicação e, atualmente, a taxa média mensal tem se aproximado de zero.
(**) Foi considerado o investimento por meio de corretoras que não cobram taxa de administração para aplicações no Tesouro Direto

Hoje que a taxa CDI tem estado um pouco abaixo da Selic – o que torna os CDBs e os fundos DI mais desvantajosos frente à poupança e, sobretudo, ao Tesouro Direto – os contratos futuros da taxa DI de um dia com vencimento no início de 2014 estão negociados a taxas entre 8,50% e 9,00% ao ano. Ou seja, o mercado como um todo parece estar apostando em mais altas da Selic e, consequentemente, no retorno à velha remuneração da poupança.


Se – ou quando – os juros estiverem mais altos, as demais aplicações financeiras atreladas à Selic ou ao CDI poderão ganhar da poupança com mais facilidade no curto prazo, mesmo que ocorra certa elevação da TR. Isso ocorre porque a remuneração da poupança terá atingido seu teto.

Veja como ficariam as remunerações das aplicações financeiras mais conservadoras caso a Selic chegasse, por exemplo, a 9,00% ao ano:

  Velha Poupança* Nova Poupança* CDB 90% do CDI Fundo DI com taxa de 1,0% a.a. Tesouro Direto
6 meses 3,04% 3,04% 3,07% 3,02% 3,29%
12 meses 6,17% 6,17% 6,45% 6,40% 6,94%
18 meses 9,39% 9,39% 10,18% 10,14% 10,97%
24 meses 12,72% 12,72% 13,85% 13,85% 14,94%
25 meses 13,28% 13,28% 14,91% 14,93% 16,09%

(*) A TR foi considerada zero, pois varia de acordo com a data de aniversário da aplicação e, atualmente, a taxa média mensal tem se aproximado de zero.
(**) Foi considerado o investimento por meio de corretoras que não cobram taxa de administração para aplicações no Tesouro Direto

Mesmo com queda de juros, poupança continuou atrativa

O “gatilho” para a poupança render menos do que o brasileiro estava acostumado ocorreu, pela primeira e até agora única vez, em 30 de maio do ano passado. Em trajetória de queda desde julho de 2011, a Selic caiu para 8,50% naquela data. De lá para cá, a taxa de juros foi deixando os rendimentos do poupador cada vez mais minguados, até atingir a mínima de 7,25% ao ano, onde permaneceu durante mais ou menos seis meses. Com esta taxa de juros, a poupança rendia apenas 0,41% ao mês, ou 5,07% ao ano.

Na época, os cortes nas taxas de juros se justificavam como medidas de estímulo aos investimentos em atividades produtivas e, consequentemente, ao crescimento da economia em meio a um cenário de crise mundial. Afinal, se a poupança e aplicações mais seguras de renda fixa tiverem alta remuneração e liquidez diária, quem vai querer investir em empresas ou negócios imobiliários, naturalmente mais arriscados?

Mesmo com remuneração menor, no entanto, o poupador brasileiro não se intimidou. Desde que a remuneração da poupança passou a ser atrelada à taxa Selic, a caderneta nunca captou tanto. Em 2012, a captação de 49,719 bilhões de reais foi a maior da série histórica do Banco Central, iniciada em 1995. Neste ano, a captação de 28,273 bilhões de reais no primeiro semestre também é um recorde histórico para o período. A isenção de IR, a praticidade, a ausência de taxas e a remuneração igual para qualquer montante investido são os atrativos.


É verdade que muitos investidores passaram a buscar uma remuneração mais alta em outros tipos de investimento. Mesmo com o desempenho desanimador do Ibovespa, a Bolsa chegou a 633.690 contas de investidores pessoa física em junho deste ano, após recorde de 637.198 contas em maio. Durante o período de cortes na taxa Selic, o principal índice da Bovespa teve queda de 10,49%.

O Tesouro Direto também se tornou atraente. Entre julho de 2011, quando começaram os cortes na Selic, e maio deste ano, data do último dado, a plataforma online para negociação direta de títulos públicos pelas pessoas físicas ganhou 97.395 novas contas, ultrapassando os 300 mil investidores. Pelo Tesouro Direto é possível comprar papéis que ganham quando a Selic está em queda.

Em 2012, por exemplo, o investimento mais rentável do ano foi um título público atrelado à inflação (NTN-B) que chegou a se valorizar 50% no ano. No período, os fundos imobiliários também atraíram as pessoas físicas, que hoje já representam mais de 100 mil investidores nessa modalidade.

Alta da Selic é boa para a poupança, mas não para os demais investimentos

Mas a pressão inflacionária, que volta a assombrar os brasileiros, vem motivando novas altas na Selic, que ajuda a controlá-la. Mesmo com o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB – conjunto de todas as riquezas produzidas no país), o controle inflacionário vem se mostrando mais urgente.

Embora as expectativas de inflação para 2013 venham diminuindo, os analistas ouvidos pelo Boletim Focus ainda esperam que o ano feche com uma inflação oficial de 5,80%, bem acima do centro da meta de 4,50%. Para o final de 2014, a projeção é de 5,90%. E apesar de o IPCA de junho ter sido inferior ao de maio, o acúmulo da inflação em 12 meses foi de 6,70%, acima do teto da meta do BC, de 6,50%.

Se confirmado o movimento de alta de juros esperado, portanto, é possível que muitos daqueles investimentos que fizeram a alegria dos pequenos investidores enquanto a Selic caía passem a decepcionar. Os fundos de renda fixa que investem em papéis atrelados à inflação – como a NTN-B – já perdem, em média, 4% em 2013; no ano passado, tiveram um rendimento médio de mais de 20%, o mais alto de todas as categorias de fundos.

As NTN-B mesmo estão apanhando, assim como os títulos públicos prefixados, que também ganham com a queda da Selic e perdem com a sua alta. A maioria desses papéis tem desempenho negativo no ano, caindo de 1,12% a 23,59% em 2013.

O mesmo ocorre com os fundos imobiliários. Dentre os mais líquidos, poucos foram os que tiveram desempenho positivo no semestre, e mesmo assim, sem grandes ganhos. O IFIX, índice que acompanha os fundos mais negociados na Bolsa, teve queda de 8,65% nos primeiros seis meses do ano.

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