Dinheiro: Investimentos que acompanham a taxa Selic têm baixo risco e rendimento superior ao da poupança (Thinkstock/Kenishirotie)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2016 às 15h36.
Última atualização em 19 de outubro de 2016 às 15h20.
São Paulo – Investimentos que acompanham as flutuações da taxa básica de juros, Selic, têm sido fortemente indicados para quem busca rendimentos superiores à poupança, e não deseja correr riscos.
“A taxa de juros que temos no mercado é muito elevada e é um excelente negócio para o investidor individual. Com essa taxa, o investidor tem uma ótima oportunidade de conseguir bons rendimentos no médio prazo, mesmo sem riscos”, afirma Márcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest.
A taxa básica de juros é usada como referência para os investimentos de renda fixa, portanto, quando a taxa sobe ou se mantém em patamares elevados - como é o caso agora, que a Selic está nos 14,25% ao ano - a régua também sobe para os rendimentos de diversas aplicações de renda fixa.
Os investimentos de renda fixa são aqueles que já têm sua forma de remuneração definida no momento da aplicação. Diferentemente dos investimentos de renda variável, como as ações, o investidor consegue prever de que forma seu dinheiro será remunerado.
Por essa razão é possível dizer que quem tem recursos disponíveis para investir hoje pode surfar em um mar perfeito em termos de risco e retorno, já que os juros estão altos e isso beneficia as aplicações de renda fixa, que são mais seguras.
"Com juros nessa altura, investir na poupança não faz nenhum sentido. Quem faz isso está muito mal informado", diz Arnaldo Curvello, diretor da Ativa Wealth Management.
Por mais prática que a poupança seja, atualmente seu rendimento é de apenas 8,07% ao ano (remuneração da caderneta nos últimos 12 meses), bem abaixo dos juros de 14,25% ao ano, que balizam os investimentos de renda fixa do mercado.
Dentre as aplicações financeiras que acompanham os juros, algumas são indexadas à taxa Selic, portanto seu rendimento bruto (sem descontar eventuais taxas e o Imposto de Renda) ao final do prazo é exatamente igual à variação da Selic.
Já outras são indexadas à taxa DI, que á taxa média dos juros praticados nos Certificado de Depósito Interbancário (CDIs) transacionados entre bancos. Ela também é usada como referência para o rendimento dos investimentos de renda fixa (veja mais detalhes sobre a taxa DI) e seu comportamento é muito parecido com o da taxa Selic.
A seguir, são apresentados alguns dos principais investimentos que acompanham as flutuações dos juros hoje. Confira como funcionam suas formas de remuneração e seus riscos e veja em seguida como escolher qual deles é melhor para você.
O Tesouro Selic é um título público, vendido pela plataforma de negociação online Tesouro Direto que paga ao investidor a variação da taxa Selic durante o período da aplicação.
Como o emissor dos títulos é o governo, ele tem baixíssimo risco de crédito, que seria o risco de o emissor desonrar o pagamento. Ainda que investidores questionem se o risco de calote dos títulos públicos continua baixo diante da crise, economistas dizem que essa possibilidade é remota.
Apenas para citar um dos argumentos que reforça essa tese, como os títulos são emitidos em reais, no limite o governo poderia emitir papel-moeda para honrar os pagamentos (veja por que o risco de calote do Tesouro é baixíssimo).
Assim, o Tesouro Selic é considerado mais seguro do que os títulos emitidos por bancos e do que a poupança, já que o risco de crédito do Tesouro Selic está ligado ao risco de quebra do governo, que é inferior ao dos bancos. Ainda assim, os títulos emitidos por banco contam com a garantia do FGC, que será mais detalhada abaixo.
Diferentemente de outros títulos públicos, o Tesouro Selic também não apresenta risco de prejuízo ao ser vendido antes do prazo, já que ele paga a variação da taxa Selic, que é sempre positiva. Se a venda ocorrer antes do prazo, pode haver um pequeno deságio, uma pequena taxa deduzida da variação da Selic paga para compensar o Tesouro pela venda em um momento de baixo interesse pelo papel. Mas nada que se compare ao risco de prejuízos dos outros títulos (conheça os riscos de cada título).
Outra grande vantagem é a possibilidade de investir valores baixos, já que o investidor pode comprar apenas uma fração de um título, desde não seja menor que 1% de um título e o valor não seja inferior a 30 reais.
É importante tomar cuidado com as taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras autorizadas a negociar os títulos públicos, chamadas de agentes de custódia. Enquanto algumas isentam o investidor do pagamento dessa taxa, outras chegam a cobrar até 2% ao ano, o que compromete os ganhos (confira as taxas cobradas por cada um deles).
Uma das principais desvantagens dos títulos públicos é o desconto de Imposto de Renda (IR): aplicações feitas em até 180 dias são tributadas à alíquota de 22,5%; de 181 dias a 360 dias o imposto cai para 20%; de 361 a 720 dias vai para 17,5%; e acima de 721 dias é aplicada a menor alíquota, de 15%.
Veja o passo a passo para começar a investir no Tesouro.
Ao comprar um CDB, o investidor empresta dinheiro ao banco e é remunerado por isso, enquanto o banco utiliza os recursos captados para emprestá-los a outros clientes. Assim, o banco pega o seu dinheiro em uma ponta e empresta na outra, pagando uma taxa menor para captar do que aquela cobrada para emprestar, o que garante seu lucro.
O mais comum é que os CDBs sejam pós-fixados e atrelados à taxa DI, o que significa que eles pagam ao investidor certo percentual dessa taxa.
O CDB tem exatamente a mesma segurança que a poupança porque ambos contam com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito [FGC]. O FGC é uma entidade mantida pelos próprios bancos para garantir a segurança do mercado financeiro. Em caso de quebra do banco, ele reembolsa ao investidor o seu prejuízo, até o limite de 250 mil reais por conta e por CPF (veja mais detalhes sobre a garantia do FGC).
Mesmo que o CDB e a poupança de um mesmo banco tenham risco igual, como a poupança rende sempre 0,5% mais a Taxa Referencial quando a Selic passa dos 8,5% ao ano - como é o caso agora -, sua remuneração fica travada, enquanto os CDBs, que podem pagar 100% da taxa DI ou até mais, se beneficiam com a alta dos juros.
“É possível encontrar CDBs no mercado que pagam 120% da taxa DI”, afirma Arnaldo Curvello, da Ativa. Um CDB que paga 120% da taxa DI, considerando a taxa DI dos últimos 12 meses, garante um rendimento de 14,28% (descontado o IR) em um ano, enquanto isso a poupança rendeu 8,07% no mesmo período.
Ainda que os CDBs sofram desconto do Imposto de Renda – enquanto LCIs e LCAs são isentas, como será visto a seguir – o banco pode oferecer uma rentabilidade mais alta para os CDBs do que para os investimentos isentos porque os valores captados com esse título não precisam ter lastro em uma linha de crédito específica, como ocorre com as LCIs e LCAs.
É importante, portanto, comparar a rentabilidade líquida do CDB (descontado o IR), para verificar se sua remuneração é superior a de outros investimentos que são isentos. A regra de tributação do CDB é igual à do Tesouro Selic, conforme maior o prazo, menor é o desconto do IR.
Vale ressaltar que as taxas de remuneração do CDB costumam ser negociadas com o banco. Assim, se você for um cliente antigo, ou tiver um bom volume de recursos para investir, não deixe de tentar negociar uma taxa maior.
Os bancos menores costumam oferecer taxas mais atraentes, já que eles têm mais risco de quebrar e não captam clientes com a mesma facilidade dos bancos grandes e mais conhecidos.
Outra vantagem dos CDBs é que muitos oferecem liquidez diária, ou seja, permitem o resgate do valor investido a qualquer momento. No entanto, as melhores remunerações são obtidas nos CDBs de longo prazo, com vencimento em um, dois ou três anos.
Os CDBs também costumam ser muito acessíveis. No banco Sofisa, por exemplo, é possível investir com apenas 1 real.
A LCA é o título emitido pelos bancos para financiar participantes da cadeia do agronegócio. Sua principal vantagem é a isenção de IR, benefício concedido pelo governo como forma de incentivar o crédito ao setor.
Já as desvantagens da LCA são os prazos de vencimento mais longos e a exigência de aportes maiores do que o CDB. Alguns bancos exigem aportes de dezenas de milhares de reais para a LCA, ou podem nem oferecer essa opção. No entanto, bancos como o Sofisa já oferecem LCAs com aportes mínimos de 1 real.
As LCAs também contam com a proteção do FGC, assim possuem o mesmo risco de crédito que a poupança, que também é protegida pela entidade.
Uma das desvantagens do título em relação aos CDBs é a baixa liquidez, ou seja, a dificuldade de resgatar os recursos antes do prazo. Algumas LCAs têm prazos de vencimento superiores a um ano ou dois e o investidor não consegue resgatar os recursos antes desse prazo.
Assim, por mais que a rentabilidade da LCA seja superior à de outras opções, como os CDBs, a aplicação pode não valer a pena para investidores que não têm certeza se realmente podem abrir mão dos recursos durante o prazo do investimento.
Muito semelhante à LCA, a LCI também conta com isenção de IR e é o título emitido pelos bancos para obtenção de recursos destinados a financiamentos do setor imobiliário. Sua desvantagem pode ser o aporte inicial elevado e o prazo mais longo.
Assim como as LCAs, é mais comum que os bancos exijam aportes elevados para investimentos em LCIs. Mas, novamente, vale ressaltar que alguns bancos podem aceitar aportes menores, como o Sofisa, que permite ao investidor aplicar em LCIs com apenas 1 real.
A remuneração da LCI, assim como do CDB e da LCA, pode variar muito de acordo com a estratégia de cada banco. Se o banco precisar captar recursos para fornecer crédito a um empreendimento imobiliário, por exemplo, ele pode emitir LCIs com taxas superiores às taxas da LCA e do CDB.
Por isso, é importante pesquisar entre diferentes bancos as taxas oferecidas e comparar as rentabilidades dos CDBs, LCIs e LCAs para checar qual título oferece o maior rendimento - lembrando que, ao comparar o rendimento com o CDB é importante descontar o IR cobrado.
A LCI tem o risco de crédito semelhante ao da poupança e da LCA, já que também conta com a proteção do FGC.
Bem parecidas com os CDBs, as LCIs e LCAs, as Letras de Câmbio também são títulos que instituições financeiras emitem para se capitalizar. A principal diferença é que as emissoras das Letras de Câmbio são financeiras (sociedades de crédito, financiamento e investimento), não bancos. “As letras de câmbio são os CDBs das financeiras”, afirma Curvello.
As letras de câmbio são emitidas para que as financeiras captem recursos para o financiamento de bens de consumo e para o crédito pessoal. Ainda que elas carreguem a palavra câmbio em seu nome, sua remuneração não é ligada a operações com moedas. Em geral, assim como no caso dos títulos bancários mencionados anteriormente, seus rendimentos são atreladas à taxa DI.
Como as financeiras são instituições muitas vezes menores ou menos conhecidas que bancos, elas podem oferecer taxas de remunerações maiores para atrair mais investidores. E por mais que o risco de quebra da financeira seja maior, as Letras de Câmbio também contam com a proteção do FGC, até o limite de 250 mil reais.
Fundos de investimento, dependendo de sua classe, também podem investir em aplicações que acompanham a flutuação dos juros.
No entanto, Arnaldo Curvello, da Ativa, acredita que os fundos são menos interessantes que as outras opões de investimento citadas anteriormente porque, além de cobrar taxas de administração – bem altas em alguns casos – dependendo da estratégia do gestor, seu rendimento pode chegar a ser inferior à variação da taxa Selic.
Entre as opções de fundos que acompanham os juros, estão os fundos simples que buscam oferecer uma rentabilidade de acordo com a variação da taxa DI.
Eles devem investir, no mínimo, 95% do seu patrimônio em títulos públicos vendidos pelo Tesouro Direto ou em títulos de renda fixa privados, que possuam risco equivalente ao dos títulos do governo, como é o caso dos CDBs de grandes bancos, mas desde que o investimento nesses títulos bancários não passe de 50% do patrimônio do fundo.
Outra opção são os fundos de Renda Fixa Duração Baixa Soberano, que investem 100% em títulos públicos federais do Brasil. Como as taxas dos títulos públicos costumam ser iguais ou superiores à taxa Selic, esses fundos também acabam acompanhando a flutuação dos juros.
No entanto, mesmo que eles invistam apenas em títulos do Tesouro, eles podem investir também em títulos públicos com taxas prefixadas que, diferentemente do Tesouro Selic, podem gerar prejuízos se forem vendidos antes do vencimento. Assim, dependendo da estratégia do gestor, esses fundos podem ter resultados inferiores à variação da taxa Selic.
Nos dois casos, contudo, o que mais prejudica a rentabilidade dos fundos é a taxa de administração. Como os investimentos anteriores podem não ter cobrança de taxas, os fundos ficam em desvantagem.
Arnaldo Curvello, da Ativa, afirma que os títulos emitidos por bancos e financeiras – CBDs, LCIs, LCAs e Letras de Câmbio – costumam oferecer remunerações superiores ao Tesouro Selic e aos fundos.
“Enquanto LCIs e LCAs pagam 100% da taxa DI – e são isentas de Imposto de renda – e CDBs e Letras de Câmbio chegam a pagar 120% da taxa DI, o Tesouro Selic paga sempre 100% da taxa Selic, que fica próxima à taxa DI”, afirma Curvello.
Ele afirma, porém, que, ainda que o Tesouro Selic possa oferecer remunerações inferiores aos títulos bancários, seu risco é menor, por isso ele não deixa de ser uma opção de investimento vantajosa.
Já os fundos de investimentos não são recomendados por Curvello, pois podem cobrar taxas altas e não entregar rentabilidades em linha com a taxa de juros.
Assim sendo, a recomendação de Curvello é diversificar os investimentos. Ele afirma que o investidor que busca mais segurança pode aplicar parte dos recursos no Tesouro Selic e outra parcela nos CDBs, LCIs, LCAs e Letras de Câmbio em busca de maior rentabilidade.
Outra questão que deve guiar a decisão é o prazo do investimento, já que LCIs e LCAs podem ter prazos de um ou dois anos, enquanto os CDBs costumam ter liquidez diária (podem ser resgatados a qualquer momento), assim como o Tesouro Selic, já que o governo garante ao investidor a recompra diária do título.
Segundo Curvello muitos investidores têm medo de abrir mão da liquidez, por isso evitam investimentos com prazos mais longos que poderiam gerar ganhos maiores. “Alguns investidores jovens, que não precisariam resgatar o valor tão cedo, ficam preocupados demais com a liquidez diária e por isso abrem mão de obter rendimentos mais agressivos”, afirma.
Uma boa saída, portanto, pode ser investir parte dos recursos nos investimentos que contam com maior liquidez e parte em investimentos com prazos maiores, mas que oferecem rendimentos maiores.
No caso dos títulos bancários, cujas remunerações variam bastante, é importante sempre checar a rentabilidade liquida do título, após o desconto do IR. No caso dos CDBs, por exemplo, por mais que o percentual da taxa DI pago seja superior ao de LCIs e LCAs, com o desconto do imposto, sua rentabilidade líquida pode ser menor.
Outra dica importante é buscar esse tipo de investimento em bancos médios ou em corretoras independentes, já que bancos grandes costumam oferecer remunerações muito inferiores. Conforme lembra Curvello, corretoras independentes possuem em suas prateleiras investimentos de diferentes bancos, enquanto um banco grande, como o Itaú ou Bradesco, oferecem apenas os CDBs de emissão própria.
As corretoras independentes facilitam inclusive a tarefa de comparação dos produtos, já que elas oferecem investimentos de diferentes bancos e evitam que o investidor precise pesquisar banco por banco para encontrar aqueles que oferecem as maiores rentabilidades.