O maior mentor de Buffett é o investidor Benjamin Graham, considerado o pai do value investing (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 24 de janeiro de 2021 às 07h30.
Última atualização em 24 de janeiro de 2021 às 07h47.
“De longe, o melhor livro sobre investimentos já escrito”. É assim que o megainvestidor Warren Buffett descreve o clássico “O investidor inteligente”, de seu mentor Benjamin Graham. Publicada em 1949, a obra é considerada a bíblia do value investing, estratégia que procura analisar o valor real de um ativo, para além do seu preço momentâneo no mercado.
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Antes de Graham, não havia análise fundamentalista, e as decisões eram tomadas com base em boatos e superstições. Junto com David Dodd, ele foi pioneiro em estabelecer um método lógico e rigoroso para investimentos em ações e títulos. Os primeiros esboços da teoria foram estruturados em 1934 no livro "Security Analysis", e as ideias se popularizaram após a publicação de “O investidor inteligente” na década seguinte.
A inteligência citada por ele não tem nada a ver com um QI alto, e sim com um conjunto de habilidades que permite uma navegação segura pelas instáveis águas do mercado financeiro. Os ensinamentos envolvem paciência, disciplina, aprendizado constante e controle emocional.
É importante frisar, no entanto, que o livro não é um guia para enriquecer rapidamente com o mercado. Para Graham -- e também para Buffett --, tais milagres não existem. O objetivo da publicação é que o investidor aprenda a controlar seu próprio comportamento para evitar grandes prejuízos e conseguir ganhos sustentáveis ao longo do tempo.
Confira abaixo cinco dicas de “O investidor inteligente” que continuam atuais mesmo setenta anos após sua publicação:
Não basta negociar ativos no mercado financeiro para ser um investidor. Segundo Graham, “uma operação de investimento é aquela que, após análise profunda, promete segurança do capital investido e um retorno adequado. As operações que não atendem a essas condições são especulativas”. Para ele, não existe caminho fácil e seguro para a riqueza, então o investidor deve buscar um retorno adequado, não extraordinário.
Quanto custa um ativo? Para Graham, uma ação não é apenas um ticker que pode ser negociado na bolsa: ela representa um negócio real com um valor intrínseco que não depende do preço do papel no mercado. É esse valor que o investidor deve procurar descobrir através da análise de valor, ou value investing. Seu método propõe uma análise criteriosa das possibilidades de geração de lucros e caixa de cada companhia, o que permite ao investidor descobrir o real valor do ativo.
Definido o valor, o investidor parte para o negócio. Se o preço estiver mais barato que o real valor da empresa, é hora de comprar. Já se estiver caro, o momento é para a venda. “O valor de qualquer investimento é, e sempre deve ser, uma função do preço que você paga por ele”, resume Graham.
Esse, no entanto, não é um movimento para se fazer com frequência. O objetivo do investidor inteligente não é só lucrar com a negociação do papel, mas sim beneficiar com o bom desempenho da companhia em que decidiu investir. Por isso, a estratégia do buy and hold é comum entre adeptos do value investing: o investidor compra a ação e permanece com ela para o longo prazo.
Graham divide os investidores inteligentes em duas categorias: empreendedores e defensivos.
Atualmente, esse tipo de divisão é conhecida no mercado como perfil de investidor. A definição do perfil gira em torno de quatro fundamentos: objetivo com o investimento, tolerância ao risco, situação financeira e conhecimento do mercado.
Traçando um paralelo com a definição de Graham, os investidores defensivos seriam os hoje chamados de conservadores. Já os empreendedores são os arrojados -- também conhecidos como agressivos. E, entre os dois extremos, estão os investidores moderados.
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Na opinião de Buffett, o ensinamento mais importante do livro é sempre comprar ações com uma “margem de segurança”. Isto é, nunca pagar um preço elevado demais, independentemente de quanto um investimento possa ser atraente.
O objetivo é diminuir as chances de errar. Lembrando que, para Graham, eliminar completamente o risco do erro é impossível, não importa o quanto o investidor seja cuidadoso. Ao se recusar a pagar demais por um investimento, o investidor minimiza as chances de que perder boa parte de sua riqueza.
Um investidor inteligente não deve pautar seu comportamento pelas flutuações do mercado, mas deve aprender a pensar por si próprio. Graham observa que o mercado sempre irá oscilar entre o otimismo desenfreado (que torna as ações muito caras) e o pessimismo profundo (que as torna muito baratas).
A inteligência na hora de investir está em identificar esses movimentos para comprar ações que estejam mais baratas que seu real valor ou para vender os papéis que estiverem precificados acima do que realmente valem.
Para isso, é imprescindível controlar as próprias emoções e não se deixar tomar pela euforia e pelo desespero. Como explicou Graham, “o maior problema do investidor -- e mesmo seu pior inimigo -- é, provavelmente, ele mesmo”.