Buffett é considerado o maior investidor de todos os tempos e tem hoje um patrimônio de US$ 109 bilhões | Foto: Kevin Lamarque/Reuters (Kevin Lamarque/Reuters)
Beatriz Quesada
Publicado em 8 de junho de 2021 às 19h13.
Última atualização em 10 de junho de 2021 às 09h01.
Warren Buffett, considerado o maior investidor de todos os tempos, se defendeu nesta terça-feira, 8, da acusação de que paga menos impostos do que deveria. O bilionário entrou nos holofotes com a divulgação de um levantamento do site de jornalismo independente ProPublica, que analisou as declarações de imposto de renda de alguns dos mais ricos do mundo.
A análise mostra que, entre 2014 e 2018, Buffett pagou o equivalente a apenas 0,1% de imposto sobre o crescimento de seu patrimônio no período, enquanto um cidadão americano médio paga cerca de 14%.
A reportagem da ProPublica afirma que, embora sua fortuna tenha aumentado em 24 bilhões de dólares nos quatro anos, ele relatou apenas 125 milhões de dólares de renda, o que o fez pagar 24 milhões de dólares em impostos.
Buffett – que atualmente tem um patrimônio de 109,2 bilhões de dólares segundo a Forbes – é o bilionário que proporcionalmente paga menos impostos da lista, seguido por Jeff Bezos (0,98%), Michael Bloomberg (1,30%) e Elon Musk (3,27%). Mais de 14.000 americanos pagaram mais impostos do que Buffett no mesmo período.
Um dos principais pontos do levantamento é que Buffett consegue evitar impostos ao acumular sua fortuna em ações da Berkshire Hathaway, empresa da qual é presidente do conselho, diretor executivo e principal acionista.
Uma das estratégias de investimento mais famosas de Buffett é o “buy and hold”, ou seja, comprar e manter as ações por um período extenso, em geral de muitos anos. É o que o investidor tem feito com a própria Berkshire, o que impede que sua riqueza seja transformada em renda tributada pelo fisco americano.
Outra estratégia que o bilionário usaria para minimizar seus ganhos de capital e escapar de impostos seria, segundo o site, a política de não-distribuição de dividendos da Berkshire Hathaway. Os dividendos são o pagamento de uma parcela do lucro líquido de uma empresa a seus acionistas, mas sua distribuição não é obrigatória.
A companhia de Buffett não distribui dividendos sob o argumento de que é melhor reinvestir esse dinheiro para aumentar ainda mais o valor das ações da companhia. Segundo a ProPublica, se a Berkshire tivesse oferecido um dividendo próximo à média do mercado nos últimos anos, Buffett teria recebido mais de 1 bilhão de dólares por meio dessa fonte e, por tabela, teria que pagar centenas de milhões de dólares em impostos a cada ano.
O bilionário de 90 anos respondeu às principais afirmações da ProPublica com um documento de 23 páginas, incluindo trechos de relatórios anuais da Berkshire, comunicados à imprensa, reproduções de artigos divulgados na mídia e uma declaração.
Ele reforçou a visão de que os investidores da empresa preferem que os lucros sejam reinvestidos em vez de distribuídos como dividendos. O investidor destacou que o pleito para decidir se haveria ou não distribuição de lucros, realizado em 2014, foi vencido pelo “não” na proporção de 87 votos a 1 entre os acionistas detentores de ações classe A e de 47 a 1 entre os que possuem papéis classe B (que possuem maior poder de voto).
"Muitos grandes acionistas, incluindo eu, apreciam o aumento de valor a longo prazo, sabendo que ele é destinado à filantropia, não ao consumo ou a aspirações dinásticas", disse Buffett. O bilionário de 90 anos se comprometeu a doar mais de 99% de seu patrimônio a causas filantrópicas e, segundo afirmou, já doou cerca de metade de suas quase 475.000 ações de classe A".
Buffett afirmou que prefere entregar seu dinheiro a instituições de caridade em vez de deixar o patrimônio nas mãos do governo federal “para pagar a dívida nacional” dos Estados Unidos.
“Acredito que o dinheiro será mais útil para a sociedade se for desembolsado de forma filantrópica do que se for usado para reduzir ligeiramente uma dívida cada vez maior dos EUA”, disse.
Ainda assim, o megainvestidor reforçou seu apoio para que as regras tributárias do país sejam alteradas para reduzir a desigualdade. Ele afirmou que espera que o crédito de imposto de renda do governo americano – um crédito reembolsável para famílias de baixa renda – seja “amplamente expandido” e defendeu que grandes fortunas concentradas em um só indivíduo não são desejáveis para a sociedade.
Esteja sempre informado sobre as notícias que movem o mercado. Assine a EXAME