Redatora na Exame
Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 07h05.
As promessas de campanha do presidente americano Donald Trump de promover deportações em massa não geraram grande preocupação em Wall Street. De acordo com reportagem da Bloomberg, isso se deve, em grande parte, ao fato de que os investidores não acreditam que Trump irá cumprir totalmente suas promessas.
Muitos analistas acreditam que o presidente, além de prometer mais do que costuma entregar, irá usar o mercado de ações para balizar sua gestão e evitar políticas que prejudiquem o crescimento econômico do país.
O mercado aposta também que muitas das ações prometidas pelo novo governo serão contestadas na Justiça americana ou enfrentarão desafios de financiamento, já que uma das prioridades de Trump é a redução dos gastos da administração federal.
Segundo a Bloomberg, o banco de investimento Jefferies LLC estima que a deportação de 1 a 2 milhões de pessoas por ano dos Estados Unidos seja viável, mas ainda assim não seria suficiente para acabar com os cerca de 11 milhões de estrangeiros vivendo sem documentação no país.
A aposta é arriscada, especialmente ao considerar estimativas que indicam que a deportação de todos os imigrantes indocumentados reduziria o PIB americano em 8%. Setores que demandam muita mão de obra, como turismo, alimentação e construção civil, seriam desestabilizados em um cenário de deportações em massa.
Como na sua primeira semana de volta ao cargo Trump não tomou nenhuma grande medida nessa direção, Wall Street demonstrou sinais de alívio. Ações da empresa operadora de restaurantes Yum! Brands subiram 2,4% na semana passada, enquanto os papéis da fabricante de materiais de construção Owens Corning tiveram alta de 3%.
O segmento de hospitalidade é um dos mais impactados pelas promessas de deportação de Trump. Grandes redes de hotéis e resorts tiveram quedas no preço de suas ações desde o começo de janeiro e não conseguiram se recuperar na primeira semana do novo governo.
A indústria de processamento de carnes também deve enfrentar dificuldades devido ao aumento dos custos trabalhistas. Analistas do Jefferies, de acordo com reportagem da Bloomberg, estimam que a perda de 1 milhão de trabalhadores causaria interrupções na produção e levaria a um aumento salarial de aproximadamente 8% na indústria de carne.
Empresas ligadas à construção civil, desde varejistas a fornecedores de serviços, também podem enfrentar paralisações. Em estados como Texas, Califórnia e Flórida, mais de 45% dos trabalhadores do segmento são imigrantes, de acordo com dados da Jefferies.
Nem mesmo setores que demandam profissionais altamente especializados, como o de tecnologia, escaparão ilesos se as promessas de Trump forem cumpridas. O presidente disse que iria restringir os vistos de trabalho de estrangeiros altamente qualificados, o que deixa empresas como Amazon, Meta, Alphabet, Microsoft e IBM expostas, ainda que os riscos de impacto na lucratividade sejam mínimos.