Operador da BM&FBovespa: principal índice da Bovespa caiu 15 por cento no ano passado - o pior desempenho entre as 50 maiores bolsas de valores do mundo (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2014 às 17h31.
Rio de Janeiro - Os mercados financeiros do Brasil dispararam nas últimas cinco semanas com a esperança de que o próximo governo tenha déficits menores, interfira menos no setor privado e talvez até empreenda algumas das reformas que são necessárias para reanimar a economia.
Mas alguns dos mais experientes observadores do Brasil em Wall Street estão dizendo: Não tão rápido, pessoal! Enquanto o ambiente de negócios deve melhorar um pouco nos próximos anos, apostas em mudanças dramáticas, como uma reforma do sistema previdenciário, são provavelmente exageradas, dizem eles.
O otimismo dos mercados tem se concentrado nas eleições presidenciais de outubro, na qual a presidente Dilma Rousseff, que busca um segundo mandato, vem perdendo popularidade entre os eleitores.
A presidente é impopular nos mercados financeiros por suas políticas de intervenção pesada na economia. Durante seu mandato, Dilma sucessivamente cortou e aumentou impostos em vários setores, além de segurar os preços dos combustíveis cobrados pela estatal Petrobras, entre outras medidas.
Os dois principais candidatos na disputa com Dilma são mais favoráveis ao mercado, por isso uma vitória da oposição seria bem-vinda pelos investidores.
Mesmo se a atual presidente vencer, como se espera, muitos investidores acreditam que a queda recente de seus índices de aprovação e o fraco desempenho da economia, que cresceu em média apenas 2 por cento durante seu governo, poderiam levá-la a ser menos intervencionista no segundo mandato.
Dilma seria capaz de agradar aos mercados financeiros se ela for "muito decisiva nos primeiros três meses de sua nova administração para enfrentar o problema (macroeconômico)", disse o diretor de pesquisa da ICE Canyon, Paulo Vieira da Cunha, que ajuda a administrar 4 bilhões de dólares em ativos.
Isso provavelmente significaria controle mais rigoroso dos gastos do governo e o fim dos truques de contabilidade que o governo tem utilizado para cumprir as metas de superávit fiscal primário nos últimos anos, segundo a maioria dos analistas.
Isso permitiria que a economia se aproximasse de sua taxa de crescimento de longo prazo de cerca de 3 por cento ao ano, disse Vieira da Cunha, que foi vice-presidente do Banco Central entre 2006 e 2008, à Reuters em entrevista em Nova York.
"Depois de recuperar uma plataforma de estabilidade macro", disse ele , "você pode começar a pensar: o que posso fazer para que a economia cresça acima disso?" É aí que as coisas ficam complicadas.
Afrouxar as leis trabalhistas, atacar os déficits da previdência e reformar uma das legislações fiscais mais complexas do mundo são fundamentais para que o Brasil prepare o terreno para taxas de crescimento sustentado acima de 4 por cento ao ano, dizem os economistas.
Mas esses itens estão na lista de reformas desejadas por Wall Street há mais de uma década, sem progresso.
Enquanto a China, o México e alguns outros países emergentes adotaram reformas difíceis para impulsionar o crescimento de longo prazo, o Brasil se move lentamente.
"As mesmas questões em torno da agenda de reformas que eu ouvia quando eu comecei a cobrir o Brasil (em 1999) ainda estão lá", disse a diretora de classificação de risco soberano da Standard & Poor's, Lisa Schineller.
Pouca Confiança, Baixo Crescimento
Antes de Dilma tomar posse em 2011, ela disse à Reuters em uma entrevista que acreditava que a economia do Brasil poderia continuar a exibir forte crescimento sem grandes reformas fiscais.
Dilma ainda não se convenceu de que essas grandes mudanças são necessárias ou são politicamente viáveis, segundo assessores próximos a ela.
Mesmo que um de seus rivais mais pró-mercado vença as eleições, ele provavelmente terá de enfrentar o mesmo Congresso dividido e hostil que tem dificultado a atuação da atual presidente.
Muitos parlamentares apontam o crescimento robusto da última década como prova de que a economia brasileira não precisa de grandes mudanças. Eles acreditam que a fraco desempenho econômico dos últimos anos é consequência de questões internacionais, como a desaceleração da China e os problemas fiscais na Europa.
Como resultado, a maioria das reformas defendidas pelos investidores mal chega à fase de discussão.
"Você tem que debater essas reformas por três anos e a discussão não está lá", disse outra diretor da S&P, Sebastian Briozzo.
A falta de progresso nas reformas está na raiz da decisão da S&P de rebaixar a classificação do Brasil no mês passado. As perspectivas de reformas significativas nos próximos anos também são pequenas, de acordo com a agência de risco.
A estagnação das reformas contribuiu para a queda da confiança empresarial e dos investimentos ao longo do mandato de Dilma. Mas o humor dos investidores parece já ter atingido o fundo do poço, disse analista sênior e gerente de portfólio Ben Rozin, da Manning & Napier, um fundo de investimentos baseado em Rochester, Nova York, com 48 bilhões de dólares em ativos.
O principal índice da Bovespa caiu 15 por cento no ano passado - o pior desempenho entre as 50 maiores bolsas de valores do mundo.
Como muitos investidores de Wall Street, Manning & Napier reduziu drasticamente suas participações em ações brasileiras durante os primeiros anos do governo Dilma Rousseff. Desde então, tem voltado ao mercado brasileiro lentamente, atraído pela queda nos preços.
Enquanto isso, pesquisas recentes mostram que os brasileiros, preocupados com uma alta da inflação, estão mais desconfiados das políticas econômicas de Dilma. As apostas em algum tipo de mudança política positiva contribuíram para um salto de quase 16 por cento no índice Bovespa desde 14 de março.
Dilma continua favorita para vencer a eleição e muitos investidores afirmam ter esperança de, em um segundo mandato, ela siga o modelo adotado por seu sucessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Estamos esperançosos de que, mesmo se não houver uma mudança na liderança, talvez o segundo governo de Dilma fique mais perto do que foi o de Lula: com menos intervenção e mais políticas favoráveis aos negócios", disse Rozin, da Manning & Napier.