A Volkswagen enfrenta seu primeiro fechamento de plantas domésticas em 87 anos, enquanto se adapta aos desafios globais e à transição para veículos elétricos. (Allison Sales/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 09h36.
A Volkswagen, maior montadora da Europa, anunciou uma reestruturação importante que pode resultar no fechamento de pelo menos três plantas na Alemanha, na demissão de milhares de funcionários e na redução de 10% dos salários dos que permanecerem. A decisão, comunicada pelo principal representante dos funcionários da empresa, marca uma medida histórica, já que a Volkswagen nunca encerrou operações em uma planta nacional em seus 87 anos de história.
De acordo com o Financial Times, essas ações preparam o terreno para um confronto com sindicatos influentes e com o estado da Baixa Saxônia, acionista significativo da companhia e defensor histórico da manutenção dos empregos na região.
A reestruturação da Volkswagen é impulsionada por vários fatores críticos, como a desaceleração das vendas na Europa, a intensa concorrência na China e o custo elevado da transição para veículos elétricos. Recentemente, a empresa emitiu seu segundo alerta de lucro em três meses, citando um “ambiente de mercado desafiador”. A montadora enfrenta dificuldades similares às de outras empresas alemãs, como Mercedes-Benz e BMW, que também lidam com a concorrência crescente de marcas chinesas, como a BYD, que têm conquistado mercado com a mudança de preferência dos consumidores locais.
Como parte dessa reestruturação, a Volkswagen espera uma margem de lucro operacional de 5,6% em 2024, abaixo da previsão anterior de 6,5% a 7%. Em um sinal das dificuldades no mercado chinês, a Porsche, cuja maioria das ações pertence à VW, relatou uma queda de 41% nos lucros trimestrais, evidenciando os desafios enfrentados.
Caso a reestruturação avance, pode resultar no fechamento de até três das dez plantas da marca principal da Volkswagen na Alemanha. Essa medida, inédita na história da empresa, afetaria a força de trabalho de cerca de 300 mil pessoas no país, gerando um impacto significativo em um dos maiores empregadores da Alemanha.
Daniela Cavallo, chefe do conselho de trabalhadores da Volkswagen e uma das principais vozes que representam os funcionários da empresa, se opôs firmemente ao plano. Cavallo pediu que os executivos reconsiderem a decisão em dois dias, sugerindo possíveis greves caso a empresa não atenda às preocupações dos trabalhadores. Ela alertou que a VW corre o “grande risco de interromper as negociações”, indicando um embate iminente com os sindicatos. O conselho de trabalhadores, que possui metade das cadeiras no conselho de supervisão da Volkswagen, poderá mobilizar ações trabalhistas se as negociações fracassarem.
Os possíveis fechamentos de plantas da Volkswagen surpreenderam muitos, com sindicatos e políticos pressionando contra qualquer corte de empregos. O estado da Baixa Saxônia, que controla 20% dos direitos de voto na empresa, apoia consistentemente os interesses trabalhistas e frequentemente se alinha ao conselho de trabalhadores para proteger os empregos locais. As autoridades do estado expressaram preocupações, afirmando que a preservação dos empregos na região continua sendo uma prioridade.
Embora a Volkswagen tenha sugerido pela primeira vez em setembro que o fechamento de plantas estava sob consideração, analistas ainda duvidavam que a empresa conseguiria driblar a forte oposição dos sindicatos e dos políticos locais.
As medidas da Volkswagen refletem as mudanças profundas no setor automotivo, à medida que as empresas enfrentam a necessidade de adotar práticas sustentáveis. Para as montadoras tradicionais, a transição para veículos elétricos exige investimentos substanciais, incluindo a adaptação de linhas de montagem e novos fornecedores. Esses investimentos são críticos para o futuro, mas acrescentam pressão financeira no curto prazo, especialmente quando combinados com o aumento dos custos trabalhistas e a queda nas vendas globais.
As últimas medidas da Volkswagen sugerem que a empresa está disposta a tomar decisões difíceis para se adaptar a essa transição do setor, mesmo que isso signifique reduzir operações em seu próprio mercado. A mudança estratégica da empresa em direção aos veículos elétricos, embora essencial para a competitividade a longo prazo, aumentou a necessidade de reduzir despesas enquanto luta para acompanhar concorrentes mais ágeis em mercados chave, como o chinês.