Investidor: na Ásia, as ações de companhias aéreas com exposição significativa ao comércio internacional reagiram negativamente à vitória de Trump
Reuters
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 10h03.
Hong Kong / Xangai - A vitória de Donald Trump foi recebida com choque em setores empresariais que dependem de comércio aberto, desde companhias aéreas a montadoras de veículos e companhias de tecnologia da informação, embora muitos executivos ainda não tenham certeza do que a retórica protecionista do presidente eleito da maior economia do mundo significará na prática.
Durante toda a companhia presidencial, Trump prometeu revigorar a economia norte-americana cortando impostos, impedindo empresas de produzir no exterior, renegociando acordos comerciais e impondo tarifas sobre produtos importados de países como a China.
"As pessoas estão em choque. Parece que os especialistas interpretaram equivocadamente o humor do país", disse o consultor aeroespacial Jerrold Lundquist, diretor administrativo do The Lundquist Group.
Na Ásia, as ações de companhias aéreas com exposição significativa ao comércio internacional reagiram negativamente à vitória de Trump. Entre elas, papéis da gigante de cargas Korean Airlines caíram até 5 por cento, enquanto a Air China despencou para o menor nível desde junho na Bolsa de Hong Kong e a montadora japonesa Toyota, que tem os Estados Unidos como principal mercado, recuou 6,5 por cento.
"Isso é parte de um problema muito mais amplo que vemos no mundo, no qual países estão se voltando para dentro e reagindo contra globalização e abertura de fronteiras", comentou o analista Richard Aboulafia, vice-presidente do Teal Group, em Virginia.
Na semana passada, investidores do setor aeroespacial, que depende inteiramente do fluxo de bens e passageiros, reunidos em Hong Kong expressaram preocupação com o surgimento de políticos não convencionais em várias partes do mundo.
"Vimos uma ampla parcela da população que não se beneficiou na última década dando suporte a políticos populistas com repostas simples", disse Brian Pearce, economista-chefe da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), à Reuters antes das eleições norte-americanas.
"Infelizmente, muitas dessas respostas pedem soluções protecionistas e o transporte aéreo floresce com fronteiras abertas, então isso é um desdobramento bastante perigoso", acrescentou Pearce.
Viagens internacionais respondem por 64 por cento do tráfego aéreo global, de acordo com a Iata.
Executivos do segmento automotivo também manifestaram temor com a posição de Trump acerca do livre comércio, com destaque para dura retórica sobre o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). Muitas empresas do setor têm unidades de produção no México.
Apesar do choque inicial, analistas e executivos ainda não sabem precisar o impacto da vitória de Trump nas eleições dos EUA.
"A resposta sincera é que ninguém sabe; nem mesmo o Trump sabe", comentou Bertrand Grabowski, diretor administrativo do alemão DVB Bank, especializado em transações financeiras. "Ele não baseou sua campanha em ideias e sim em raiva e frustração", acrescentou.