Joe Biden: candidato americano deve ser o próximo presidente dos EUA (Kevin Lamarque/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 6 de novembro de 2020 às 21h11.
Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 12h06.
O próximo da presidência dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden carrega características que podem trazer consequências positivas ou negativas para determinados setores da economia. E os impactos nas ações listadas em bolsa podem ser diretos.
Desde as fases preliminares das eleições americanas, a possibilidade de reversão do corte de impostos corporativos feito por Donald Trump foi principal medo dos investidores acerca de um eventual governo democrata. Mas, para gigantes de tecnologia dos Estados Unidos, a preocupação é ainda maior, tendo em vista as ameaças diretas feitas por Biden a companhias do setor.
Já em campanha eleitoral, Biden chegou a afirmar que “nenhuma empresa ganhando bilhões de dólares de lucro deveria pagar menos taxas de impostos que bombeiros e professores. Está na hora da Amazon pagar sua fatia justa”. A declaração chegou a provocar resposta da companhia, que contra-atacou: “Suponha que sua reclamação seja com o código tributário, não com a Amazon”.
.@JoeBiden We pay every cent owed. You spent 3 decades in the Senate & know that Congress wrote these tax laws to encourage companies to invest in the US economy. We have. 500k jobs w/ a min wage of $15/hr across 40 states. Assume your complaint is w/ the tax code, not Amazon. https://t.co/bKV4Hy4Ma8
— Amazon Public Policy (@amazon_policy) May 22, 2020
Também há expectativa de que Biden e o partido democrata tentem emplacar regulamentações mais duras sobre empresas de redes sociais, que podem aumentar a pressão contra campanhas de desinformação e de ódio. Mas como isso poderia impactar as ações de empresas brasileiras? Por meio da correlação com o setor de tecnologia americano, explica Bruno Lima, analista-chefe de renda variável da Exame Research. “Mas dado que o Senado deve manter maioria republicana a chance é mais baixa”, afirma.
Lima também conta que foi justamente em cima da contagem de votos para o Senado favorável aos republicanos que o índice Nasdaq, que concentra grande parte das principais empresas de tecnologia do mundo, disparou nesta semana. Somente os papéis da Amazon, que chegaram a cair na segunda-feira, véspera das eleições, subiram 9%. No Brasil, o movimento foi acompanhado, principalmente pelas empresas de varejo digital, com Via Varejo, Magazine Luiza e B2W acumulando respectivas altas na semana de 12%, 10,96% e 9,36%.
Defensor do maior uso de energia renovável, Biden prometeu acelerar ainda mais a indústria de carros elétricos nos Estados Unidos, que inclui desde a fabricação de veículos até estações de recarga e incentivar a produção de energia eólica e solar. Esses movimentos devem levar a um menor consumo de petróleo, o que, segundo Lima, pode produzir duros efeitos sobre petrolíferas, como Petrobras e PetroRio.
Por outro lado, investidores seguem otimistas que empresas de energia renovável possam nadar na onda Biden. Nos últimos meses, em meio à corrida eleitoral, ações de companhias de energia renovável acumularam altas significativas. Uma das líderes em energia eólica, a espanhola Siemens Gamesa subiu 90% desde o início de maio, enquanto a chinesa JinkoSolar, de energia solar, se valorizou 312% no mesmo período.
“O maior fracasso de qualquer administração presidencial da história do nosso país.” Foi assim que a vice de Joe Biden, Kamala Harris, se referiu à resposta do governo Trump ao coronavírus. Com quase 10 milhões de casos confirmados e mais de 230.000 mortes por covid, os Estados Unidos é o país mais afetado pela pandemia. E os números seguem crescendo a níveis recordes.
Ainda nesta semana, foram registrados mais de 120.000 casos em 24 horas pela primeira vez no país. Com números elevados e países da Europa retomando lockdowns, parte dos investidores acreditam que, com Biden, os Estados Unidos possam tomar medidas de isolamento mais rígidas até a disponibilização de uma vacina. “O Trump colocava a doença de uma maneira mais relativa, dizia que era uma gripe. Já o Biden pode ser mais restritivo. Isso gera um risco maior para ações de empresas aéreas e de turismo”, comenta Glauco Legat, analista-chefe da Necton.
Legat, por outro lado, acredita que empresas de commodities, principalmente ligadas à China, poderiam se beneficiar de um governo Biden. “Com os democratas, apesar de terem críticas à China, seria um confronto em menor nível se comparado ao de Trump. Talvez tenha uma relação mais próxima, o que ajudaria a China a ter um crescimento maior, sendo positivo para todos os países e para as commodities”, diz.
Maior compradora de mineiro de ferro do mundo, um maior crescimento da China teria efeitos diretos sobre a demanda do produto. Nesse cenário, ações como as da Vale e de siderúrgicas, que também ne beneficiam da alta do minério de ferro, sairiam vencedoras. Mas Legat faz uma ressalva. “Com Biden, há expectativa de maiores gastos públicos e subsídios e isso acaba pesando no câmbio, construindo um cenário desfavorável para o dólar. Se o minério sobe 10% e o dólar cai 10%, acaba dando quase na mesma.”