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Vale segue volátil na Bolsa e investidor deve manter cautela

Após rompimento da barragem em Brumadinho, as ações da companhia acumulam queda de mais de 10% na B3

Vale: preço do minério de ferro e saúde financeira da empresa são pontos favoráveis (Michael Nagle/Bloomberg)

Vale: preço do minério de ferro e saúde financeira da empresa são pontos favoráveis (Michael Nagle/Bloomberg)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 14h28.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2019 às 14h50.

São Paulo - Uma perda de 70 bilhões de reais em valor de mercado em apenas um dia. Foi com uma desvalorização de 24,5% das ações que o mercado financeiro reagiu no pregão seguinte após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais.

Desde então, os investidores seguem acompanhando os desdobramentos da tragédia da Vale. Passados mais de 20 dias, as ações da maior exportadora de minério de ferro do mundo seguem voláteis.

Neste período, os papéis reduziram as perdas e acumulam queda de 10% no ano. Em fevereiro, as ações já tinham saído do vermelho e acumulam leve alta de 0,88%.

Entre os motivos que ajudaram na recuperação das ações está o plano anunciado de descomissionamento de 10 barragens construídas pelo método de alteamento a montante. A paralisação das operações equivale a uma redução de 40 milhões de toneladas de minério de ferro.

“Isso teve um efeito secundário. Ter reduzido a produção fez o preço do minério de ferro disparar”, explica Glauco Legat, analista-chefe da Necton. Ele calcula que se o preço da tonelada de ferro subir, por exemplo, US$ 5 dólares, a Vale terá um incremento de renda de 1,8 bilhão de dólares.

Somado a isso, a Vale teve que suspender a operação da mina de Brucutu (MG), que produz 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, por causa de uma decisão da Justiça de Minas Gerais. Após a decisão, as ações da companhia voltaram a cair e a mineradora afirmou que o impacto estimado da paralisação temporária da barragem era de aproximadamente 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. 

Além da oferta e demanda

Mas a preocupação do investidor em relação à Vale vai além da questão da capacidade de produção da companhia. Outro receio que os investidores tiveram foi em relação à permanência de Fabio Schvartsman na presidência da Vale. Logo após o rompimento da barragem, o vice-presidente Hamilton Mourão, afirmou que o governo estudava a possibilidade de afastar a diretora da Vale durante as investigações. No dia seguinte, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni negou.

Para Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos, a permanência de Schvartsman no cargo foi acertada. Ele destaca que o CEO é um dos mais renomados executivos do país, com passagem pela Klabin e pelo grupo Ultra. “A Vale precisa dele como nunca. Ele tem um histórico profissional excepcional. É peça fundamental na maior crise da história da companhia.”

A crise também inclui a prisão de funcionários da mineradora. Na última sexta-feira, uma operação do Ministério Público de Minas Gerais prendeu oito funcionários da Vale. Dentre os presos estão quatro gerentes (dois deles, executivos) e quatro integrantes das respectivas equipes técnicas. Todos são diretamente envolvidos na segurança e estabilidade da Barragem rompida no dia 25 de janeiro.

Analistas ouvidos por EXAME afirmam que ainda é cedo para estimar os efeitos reais do rompimento da barragem em Brumadinho. “No curto prazo, é um período bastante conturbado. Ninguém ainda sabe como será na esfera ambiental e civil. Ninguém sabe quais serão os efeitos colaterais”, acrescenta Legat.

Mesmo diante das dificuldades que a Vale pode ainda enfrentar, no longo prazo, a recomendação dos analistas é de compra das ações. Isso, porque eles acreditam que a perda inicial de mais de 70 bilhões de reais em valor de mercado já refletiu parte dos riscos.

Desde Mariana

A tragédia em Brumadinho faz da Vale reincidente em desastres ambientais. O primeiro ocorreu há três anos atrás com o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG). Apesar de ter sido o maior desastre socioambiental do país no setor de mineração, com o lançamento de cerca de 45 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente, o impacto na Bolsa foi menor do que o visto agora.

No dia do ocorrido em Mariana, as ações da Vale fecharam em queda de 2,59%. No mês de novembro de 2015, a queda acumulada foi mais expressiva, de 22,80%, segundo dados da Economatica, provedora de informações financeiras.

Desde rompimento da barragem de Fundão, as ações da Vale seguem em valorização na Bolsa. Em três anos, a alta é de 252,74%. Com isso, a companhia viu seu valor de mercado passar de 83,13 bilhões de reais para 289,76 bilhões de reais.

Luketic, analista-chefe da XP Investimentos, explica que o cenário três anos atrás era bem pior para Vale. Isso porque o preço do minério de ferro estava bem abaixo do atual. Na época, a cotação estava na casa dos 38 dólares. Diante deste cenário, em 2015, a Vale registrou prejuízo de 44,21 bilhões de reais.

Hoje, o preço do minério de ferro está na casa dos 86 dólares e até terceiro trimestre do ano passado, a mineradora já havia lucrado 21,7 bilhões de reais. Os dados referentes ao ano de 2018 serão apresentados no próximo mês. “Além disso, a Vale é uma empresa com menos dívida e menos alavancada. Hoje, financeiramente, a Vale é muito mais segura”, finaliza Luketic.

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