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Uma aquisição ousada — e com custos. Safra rebaixa Auren (AURE3) por endividamento pós AES

Peso da dívida limita a distribuição de dividendos e exige disciplina na execução de novos projetos, afirma o banco

Auren: Compra da AES criou maior geradora privada do país (onlyyouqj/freepik/Divulgação)

Auren: Compra da AES criou maior geradora privada do país (onlyyouqj/freepik/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 24 de abril de 2025 às 07h03.

A aquisição da AES Brasil colocou a Auren Energia no pódio das maiores geradoras do país em capacidade instalada, com 8,3 GW, mas o esforço para integrar os ativos adquiridos, somado ao aumento expressivo da alavancagem fez o Safra adotar uma postura de maior cautela.

Em relatório divulgado nesta semana, o banco rebaixou a recomendação para as ações da Auren (AURE3) de “compra” para “neutro”, com novo preço-alvo de R$ 9,60.

A principal preocupação é o aumento do endividamento. Após a consolidação da AES, a relação dívida líquida/Ebitda da companhia saltou de 1,6x no terceiro trimestre de 2024 para 5,7x atualmente.

“Com os juros ainda elevados, o impacto nas despesas financeiras é expressivo e reduz a geração de caixa”, alerta o banco.

A estimativa agora é que a Auren esteja negociando a uma taxa interna de retorno (IRR) real implícita de 12,4%, com um retorno total estimado de 19,1%.

Apesar de superior à média do setor, esse valuation ainda não compensa os riscos no horizonte, segundo o Safra.

Dívida limita dividendos

Anunciada em maio de 2024, a compra da AES Brasil foi um movimento ousado. Desde o início, a Auren implementou um plano de reestruturação que envolveu cortes de custos, aumento da disponibilidade dos parques eólicos (para até 95%) e melhorias nos processos corporativos.

A expectativa é que o Ebitda da companhia mais que dobre em dois anos, passando de R$ 1,8 bilhão em 2023 para R$ 3,9 bilhões em 2025.

Mesmo assim, o peso da dívida limita a distribuição de dividendos e exige disciplina na execução de novos projetos.

O  plano de investimentos prevê cerca de R$ 1,4 bilhão em capex em 2025 e 2026, com destaque para a conclusão do projeto eólico Cajuína 3.

Com os ajustes no modelo, o Safra passou a trabalhar com uma taxa de desconto nominal de 14% (versus 12,5% anteriormente), além de novas projeções para preços de energia, GSF (10% no longo prazo) e eventos de corte de geração (curtailment de 5% para eólicas e 7% para solares).

A relação entre dívida líquida e Ebitda deve seguir elevada — estimada em 4,8x até o fim de 2026. O banco também vê o valuation da Auren menos atrativo frente aos pares: o múltiplo EV/Ebitda projetado para 2026 é de 7,5x, contra 6,1x do setor.

Entre os principais riscos mapeados estão a manutenção de juros altos por mais tempo, dificuldades na recuperação dos ativos eólicos da AES, falhas em alocação de capital em novos projetos e déficits hídricos acima do esperado.

Para o Safra, a tese da Auren permanece estratégica e com potencial, mas os investidores devem adotar uma postura de “esperar para ver” até que os ganhos operacionais se materializem.

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