Bolsa: Ibovespa cai 1,15% e encerra em 93.580,35 pontos (Paulo Whitaker/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 29 de setembro de 2020 às 10h44.
Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 18h15.
O Ibovespa, principal índice da B3, caiu 1,15% e fechou o pregão desta terça-feira, 29, em 93.580,35 pontos - a menor pontuação em 95 dias. Desde que bateu a máxima após o início da pandemia, em julho, o índice já caiu 11,39%. O movimento de hoje deu continuidade à queda iniciada no início da semana, quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou o programa social Renda Cidadã. Mas a base de financiamento do programa, que fará uso de recursos para pagamentos de precatórios e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) não foram bem aceitas pelo mercado.
“As duas fontes de recursos para o programa não estão dentro do guarda-chuva do teto fiscal. Então, o mercado entendeu que tem uma maquiagem contábil para conseguir acomodar o programa”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Nesta terça, o presidente Bolsonaro tentou amenizar a situação com os investidores e pediu "sugestões" em vez de críticas e chegou a falar em privatizações para arcar com os custos do programa. Mas a fala acabou gerando ainda mais instabilidade no mercado.
"[A declaração] contribui para a queda do índice, tendo em vista que mostra todas as incertezas da equipe Econômica com esse cenário de necessidade de estímulo, mas limitado ao teto de gastos. É um entrave complicado de ser solucionado. Enquanto isso, seguimos com o quadro fiscal deteriorado", comenta Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
Embora a privatizações sejam encaradas como positivas pelos investidores, a possibilidade de elas saírem do papel para financiar o Renda Cidadã também foi vista de forma negativa. "Isso seria errada. O dinheiro de privatização é finito. Não pode vender ativo para pagar gastos correntes. Mas ele falou da boca para fora. Com certeza, não é o que o [ministro da Economia] Paulo Guedes pensa", comenta Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.
Com grande peso no Ibovespa As ações ordinárias da Petrobras caíram 2,82% e as preferenciais, 1,63%, acompanhando o preço do barril de petróleo, que voltou a despencar no mercado de futuros, em meio às incertezas sobre os impactos da segunda onda de coronavírus na demanda pela commodity. No mês, tanto o petróleo WTI quanto o brent acumulam perdas de cerca de 8,5%. Os papéis dos grandes bancos também exerceram forte pressão sobre o índice, com os papéis do Itaú, Banco do Brasil, Santander e Bradesco encerrando com quedas superiores a 2%
Em meio ao cenário de aversão ao ambiente interno, as ações da fabricante de motores Weg, que possui a maior parte da receita vinda do exterior, e portanto em dólar, liderou as altas do Ibovespa, subindo 3,26%. As ações das Lojas Americanas e da Natura vieram na sequência, subindo 2,05% e 1,97%, respectivamente. "O mercado está procurando empresas mais sólidas e com mercados exportadores mais consolidados, de olho na alta do dólar", afirma Chinchila.
Conhecidas pela maior volatilidade, as ações da Azul, GOL e CVC lideraram as perdas do Ibovespa, caindo 7,71%, 5,72% e 3,88%, respectivamente. As ações da Embraer, que encerraram o pregão de segunda-feira, 28, na ponta positiva, também passaram por forte desvalorização neste pregão, recuando 4,09%. As siderúrgicas Usiminas, CSN e Gerdau também figuram entre as maiores quedas, com respectivas depreciações de 2,86%, 2,67% e 1,31%. No radar dos investidores está o feriado do Dia Nacional na China, que irá interromper as negociações de minério de ferro no mercado de futuros por uma semana. Com maior peso no índices, as ações da Vale caíram 0,73%.
Se o ambiente local ainda é de tensão, o exterior também não ajuda, com os mercados globais à espera do primeiro debate entre os presidenciáveis. “O mercado quer entender o que está por vir nas pesquisas, depois do primeiro debate, que devem trazer um recorte mais realista de como está a corrida eleitoral por lá”, diz Abdelmalack.