Donald Trump: candidato republicano vem sendo apontado como favorito em casas de apostas
Repórter
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 07h40.
Última atualização em 24 de outubro de 2024 às 10h19.
O avanço recente de Donald Trump nas pesquisas para a corrida presidencial americana tem agitado os mercados globais, com investidores buscando operações que possam se beneficiar de uma eventual vitória do candidato republicano.
O chamado "Trump Trade" ganhou força nas últimas semanas, com pesquisas de intenção de voto apontando melhora de Trump em estados-chave, como Wisconsin, Michigan e Geórgia – ainda que, na prática, o cenário ainda esteja embaralhado e configure empate técnico.
Nas casas de apostas, sua vitória é precificada com 60% de chance, enquanto a de Kamala Harris, com 40%. Em agosto, pouco após Joe Biden desistir da reeleição, o cenário era o oposto.
Apostas na alta do dólar, elevação dos juros americanos e queda das bolsas emergentes — movimentos que se intensificaram nas últimas semanas — estão no bojo da estratégia.
Desde o fim de setembro, quando Trump se tornou favorito nas casas de apostas, o Índice Dólar (DXY), que mede a força do dólar frente a uma série de moedas relevantes subiu 4%. No Brasil, a moeda americana saltou de R$ 5,45 para próximo de R$ 5,70.
Embora grande parte do mercado local atribua a deterioração do câmbio à piora da percepção fiscal, Fabio Akira, ex-J.P. Morgan e sócio-fundador da BlueLine, acredita que o fortalecimento de Trump nas pesquisas tem sido mais determinante para o movimento do dólar no Brasil.
“O impacto das eleições americanas tem sido muito significativo nos mercados, especialmente nas últimas semanas”, afirmou Akira em entrevista recente à Exame.
A expectativa de um dólar mais forte em caso de vitória de Trump está relacionada ao seu plano de governo, considerado mais deficitário (devido à redução de impostos) e protecionista.
“Isso deverá prejudicar as moedas emergentes, afetando a demanda por produtos estrangeiros e, por consequência, a balança comercial. É mais plausível que o dólar ganhe força globalmente sob o comando de Trump”, avalia José Alfaix, economista da Rio Bravo.
Por um lado, a redução de impostos tende a aumentar o déficit do governo americano; por outro, a internalização da produção pode elevar a inflação no médio prazo. Isso ocorre porque, ao trazer a produção de volta aos EUA para evitar impostos de importação, as empresas terão custos maiores com mão de obra, resultando em preços mais altos para o consumidor final.
Para Akira, essa possibilidade torna atrativa a aposta na elevação das taxas de juros de longo prazo, já que os investidores exigirão maior remuneração diante do aumento do endividamento americano.
“Há um grande risco de a desinflação ser interrompida nos EUA, seja por um aquecimento cíclico da economia ou pelos efeitos da política de Trump, o que pode gerar uma inclinação maior na curva de juros”, afirma.
A posição, mantida pela BlueLine, tem se mostrado vencedora até agora. Desde que Trump se tornou favorito nas casas de apostas, o rendimento do título americano de 10 anos subiu 50 pontos-base (bps), atingindo 4,25%.
A concorrência com o maior rendimento dos títulos americanos e a expectativa de políticas protecionistas nos EUA também têm impactado as bolsas emergentes, que vêm sofrendo nos últimos meses.
O Ibovespa, principal índice da B3, acumula queda de 2,3% em outubro, com os investidores estrangeiros retirando R$ 4,25 bilhões do mercado secundário brasileiro desde setembro. Apesar do desempenho negativo, ele é melhor do que o de outros mercados emergentes. No mesmo período, as bolsas do México e da Índia registraram quedas de 2,8% e 5,8%, respectivamente.
Independentemente do resultado da eleição presidencial, há também grande atenção para a eleição no Congresso americano. O consenso no mercado é que uma divisão de poderes entre os partidos seria o cenário ideal, pois dificultaria a aprovação de medidas mais arriscadas.
Segundo uma pesquisa do Bank of America com 195 gestores globais, 66% acreditam que a vitória de um único partido no Congresso e na Casa Branca levaria à elevação das curvas de juros americanas e prejudicaria a bolsa americana.