Cliente troca reais por dólares em casa de câmbio do Rio de Janeiro: desde agosto passado, quando o dólar estava na casa de R$ 2,43, o BC vem atuando diariamente no mercado (Bruno Domingos/Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de abril de 2014 às 17h30.
O atual momento de liquidez abundante nos mercados brasileiros abriu uma janela para o Banco Central reduzir a intensidade de suas intervenções diárias no câmbio em breve, mesmo com a procura ainda elevada por proteção diante das perspectivas de valorização do dólar mais adiante.
Isso porque a moeda norte-americana tem se mostrado mais comportada recentemente no Brasil, na casa de 2,20 reais, refletindo o quadro de ingresso de recursos no país e o cenário externo mais favorável a ativos de países emergentes.
"O BC está moderando a atuação porque não quer provocar uma apreciação muito forte (do real), sabendo que deve voltar a haver pressão mais para a frente. Isso provocaria volatilidade, que é o que ele não quer", disse o estrategista da Fator Corretora Paulo Gala.
Desde agosto passado, quando o dólar estava na casa de 2,43 reais, o BC vem atuando diariamente no mercado, com o objetivo de prover "'hedge' cambial e liquidez ao mercado de câmbio". Em janeiro, reduziu a intensidade das injeções, diminuindo a oferta de swaps cambiais e colocando na prateleira os leilões de linha.
Agora, o BC dá sinais de que o atual programa --previsto para durar até o fim de junho-- está muito pesado. No mês passado, deixou de rolar alguns dos swaps que venceram em abril e sinalizou que pode fazer o mesmo com o lote de maio ao não anunciar para esta sexta-feira, pelo menos por enquanto, nenhum leilão de rolagem.
Isso mostra, na avaliação de especialistas ouvidos pela Reuters, que o BC não veria necessidade de ser tão agressivo num momento em que tem havido entrada relevante de recursos internacionais produtivos ou que buscam maiores rendimentos diante dos juros elevados no país.
Esse movimento tem sido apontado como uma das explicações para a recente desvalorização do dólar, que já perdeu cerca de 5 por cento em relação ao real neste ano, após acumular alta de 15 por cento em 2013.
Só neste ano, até o último dia 23, o país teve entrada líquida de 4,777 bilhões de dólares, puxado pelo bom desempenho da conta financeira, por onde passam investimentos estrangeiros diretos, em portfólio, entre outros. Entre janeiro e abril do ano passado, o saldo foi positivo de 1,416 bilhão de dólares.
"O cenário de liquidez internacional está mais tranquilo, a taxa de câmbio menos volátil. Por isso não há necessidade de o BC injetar tanto dinheiro no mercado futuro de câmbio e pode se contentar em rolar menos, sem comprometer a expectativa inflacionária", afirmou o ex-diretor de Política Monetária do BC Carlos Thadeu de Freitas.
O atual nível do dólar também ajuda no combate à inflação, pois barateia importados mas, por outro lado, cotações baixas demais tendem a prejudicar a indústria via balança comercial.
Segundo os especialistas, ao que tudo indica, o BC optou primeiro por reduzir a rolagem dos contratos a vencer, que somam cerca de 80 bilhões de dólares até março de 2015. Quando terminar a segunda fase do programa de intervenção, o BC deve estendê-lo novamente de forma reduzida.
Isso porque, de acordo com os analistas, ainda há demanda por proteção contra o fortalecimento do dólar à frente. Pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras mostra, por exemplo, que o dólar encerraria 2014 a 2,45 reais e 2015, a 2,51 reais.
"Este ano é um ano em que as coisas podem mudar muito rapidamente, por fatores econômicos e não econômicos", disse o diretor de gestão de recursos da corretora Ativa, Arnaldo Curvello.
Ele citou como ações que tendem a pressionar o dólar a perspectiva de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que poderia desviar para a maior economia do mundo recursos atualmente aplicados em economias como o Brasil, e as incertezas políticas com as eleições presidenciais no país, em outubro.
Por outro lado, alguns analistas lembram que a liquidez internacional deve continuar abundante, mesmo com a redução gradual das medidas de estímulo nos EUA.
O Banco Central Europeu (BCE) está discutindo se inicia ou não uma programa de injeção de liquidez, o BC chinês debate adotar mais estímulos à economia e o BC do Japão tem adotado programa de compra de ativos. (Edição de Patrícia Duarte)