Emissão global de dívida verde pode somar de US$ 350 bilhões a US$ 400 bilhões no próximo ano. (Foto/Thinkstock)
Tais Laporta
Publicado em 10 de outubro de 2019 às 07h30.
Última atualização em 17 de junho de 2020 às 13h01.
Com o movimento “Sextas-feiras para o Futuro” se espalhando pelo mundo, investidores de mercados emergentes compram um enorme volume de títulos verdes para limitar sua exposição ao risco - e permanecer do lado certo da história.
Países e empresas capazes de atender a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) para investimentos éticos provavelmente são mais estáveis e melhor administrados que outros, levando a menos riscos, avalia David Hauner, estrategista de ativos cruzados do Bank of America, em Londres.
“Se você investe em empresas ou, no meu caso, em países com melhores pontuações ESG, isso, em certa medida, protege você de colapsos ou de surpresas negativas”, afirmou Hauner.
Na semana passada, uma incorporadora queniana captou US$ 41 milhões em sua oferta verde de estreia, e o Peru anunciou que está perto de realizar de sua primeira emissão de títulos verdes de dívida soberana. Enquanto isso, emissores do Sudeste Asiático conseguem retornos de 7 a 15 pontos-base mais baixos com a venda de títulos verdes, segundo um estudo.
Hauner recomenda títulos ESG com retornos semelhantes no Chile ou Israel em vez de títulos da China ou do Kuwait, com pontuações ESG baixas.
“Poderíamos argumentar que, em algum momento, em teoria, todo investimento seguirá os critérios ESG”, disse. “Ainda há uma enorme quantidade de crescimento pela frente.”
Países ou empresas com pontuações ESG mais altas, a longo prazo, têm spreads de crédito mais baixos, disse David Pinto, gestor de dívida de mercados emergentes da Allianz Global Investors, com US$ 619 bilhões sob gestão.
“O foco na governança ajuda a evitar defaults”, disse Pinto, de Nova York. “Isso é valor.”
A Allianz exclui os países com pior classificação de seu universo de investimentos e mantém outros países com baixa pontuação ESG em uma lista de observação, acrescentou.
“Se uma empresa estiver fazendo a coisa certa no pilar ambiental, no pilar social e no pilar da governança, vemos como positivo, o que levará a um crescimento sustentável e de longo prazo, como também solvência”, disse Pinto. “Esses países acabam sendo recompensados pelo mercado.”
Especialmente em mercados emergentes, a análise ESG pode revelar informações ainda não precificadas pelos mercados, disse Graham Stock, estrategista sênior de mercados emergentes da BlueBay Asset Management, de Londres, durante uma apresentação. Os fatores sociais e ambientais não são corretamente precificados, especificamente no contexto das mudanças climáticas, disse.
A emissão global de dívida verde, que se concentra no investimento ambiental, pode somar de US$ 350 bilhões a US$ 400 bilhões no próximo ano, um aumento de 60% em relação ao esperado para 2019, disse Sean Kidney, presidente da Climate Bonds Initiative, em Londres. Os títulos verdes denominados em moeda forte oferecidos por empresas de países em desenvolvimento estão entre os mais procurados, afirmou.
As emissões globais de títulos verdes somaram apenas US$ 170,9 bilhões em 2018, segundo o grupo sem fins lucrativos.