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Títulos argentinos despencam com surpresa eleitoral

A dívida soberana do país vizinho, que já era negociada em níveis de estresse, liderou as quedas nos mercados emergentes nesta segunda-feira

Javier Milei: conquistou cerca de um terço das cédulas, mais que qualquer outro (ALEJANDRO PAGNI/AFP/Getty Images)

Javier Milei: conquistou cerca de um terço das cédulas, mais que qualquer outro (ALEJANDRO PAGNI/AFP/Getty Images)

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Agência de notícias

Publicado em 14 de agosto de 2023 às 10h47.

Os títulos externos argentinos despencaram depois que o candidato populista que prometeu incendiar o banco central ganhou apoio surpreendentemente forte na eleição primária de domingo.

A dívida soberana do país vizinho, que já era negociada em níveis de estresse, liderou as quedas nos mercados emergentes nesta segunda-feira. Os títulos com vencimento em 2035 afundaram até 14%, para 27,6 cents por dólar, depois que o populista libertário Javier Milei foi o candidato que se saiu melhor na votação, que definiu oficialmente os concorrentes de cada partido para o pleito presidencial de outubro.

Foi uma mostra da enorme insatisfação do eleitor com o establishment político do país, tanto em relação aos governistas do partido peronista quanto à oposição pró-mercados.

Milei conquistou cerca de um terço das cédulas, mais que qualquer outro. O parlamentar se identifica como libertário e defende a dolarização da economia.

Outros ativos também devem ser abalados. Alejo Costa, estrategista-chefe para Argentina do BTG Pactual em Buenos Aires, disse que o peso pode sofrer uma depreciação de até 14% nesta segunda-feira nos mercados paralelos. Durante a noite, as bolsas de criptomoedas mostravam o peso se enfraquecendo em até 15% em relação ao dólar.

“Os investidores gostam da mensagem econômica de Milei, mas temem a execução e o risco institucional, tendo em vista sua falta de poder no Congresso e seu estilo agressivo”, disse Costa.

O congressista fez campanha contra uma classe política que, segundo ele, administrou mal a economia durante anos, deixando o país cambaleando de crise em crise. A Argentina caminha para sua sexta recessão em 10 anos e lida com uma inflação que já ultrapassou 100% ao ano.

Milei diz que pode domar os aumentos de preços abandonando o peso e substituindo-o pela divisa americana — uma medida que muitos economistas dizem que desencadearia um caos financeiro.

Mas enquanto a falta de mais detalhes sobre a agenda de Milei assusta os principais economistas, os argentinos desesperados por traçar um novo rumo para o país não parecem muito preocupados com suas ameaças de “queimar” o Banco Central. Multidões vibram quando ele descreve os políticos como delinquentes, ladrões e criminosos que arruinaram a economia.

A coalizão de oposição de centro-direita da Argentina ficou em segundo lugar domingo à noite, com cerca de 28% dos votos, enquanto os peronistas, de esquerda, tinham 27% com quase 90% dos votos apurados.

“A mensagem é muito clara: o voto antiestablishment, de quem está farto, para punir a classe política, venceu”, disse Fernando Losada, diretor na Oppenheimer em Nova York.

Como Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump nos EUA — com os quais Milei é frequentemente comparado — o argentino também tem visões sociais provocativas. Ele disse que eliminaria o recém-criado Ministério da Mulher e uma instituição governamental que luta contra o racismo, restringiria o aborto e facilitaria a compra de armas.

Analistas políticos avaliam que suas opiniões controversas sobre questões sociais podem dificultar a formação de coalizões e a aprovação de sua agenda.

A “leitura geral do mercado será negativa”, dadas as incógnitas sobre Milei, disse Patrick Esteruelas, chefe de pesquisa da Emso Asset Management em Miami. “Isso prolongará a incerteza.”

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