Juros rotativos do cartão são a linha de crédito mais cara do mercado (Chronis Jons/The Image Bank/Getty Images)
Repórter de Invest
Publicado em 17 de abril de 2023 às 18h46.
Última atualização em 20 de abril de 2023 às 11h20.
A possibilidade de um teto para os juros rotativos do cartão de crédito ainda não saiu do papel, mas já preocupa o mercado.
Nesta segunda-feira, o ministro da Fazenda Fernando Haddad voltou a criticar o patamar cobrado na linha de crédito – a taxa do rotativo chegou a 411,5% ao ano em janeiro de 2023, maior patamar desde de agosto de 2017. Haddad afirmou que está em negociação com os bancos para diminuir o patamar dos juros, “que está prejudicando muito a população de baixa renda”.
Os juros rotativos do cartão são cobrados quando o cliente deixa de pagar uma fatura do cartão de crédito ou paga apenas uma parte do valor total. Funciona como um empréstimo de urgência para o parcelamento. Junto com o cheque especial, a modalidade é uma das mais usadas pelos consumidores.
Ainda não está claro como seria implementado um limite para cobrança da modalidade, que atualmente é a linha de crédito mais cara do mercado. Mas as projeções dos analistas indicam que os bancos devem sair prejudicados pela mudança.
Os digitais Nubank e Inter devem ser os mais prejudicados segundo relatório do Goldman Sachs, que reforçou a avaliação do UBS BB divulgada na semana passada. Já entre os bancões, os mais atingidos seriam Bradesco e Santander.
O cálculo preliminar do Goldman propõem um teto entre 8% e 10% ao mês, contra a média de 14% da cobrança atual. O impacto nas estimativas de lucros é maior no Inter, enquanto o Banco do Brasil seria o mais protegido.
“A magnitude do impacto é parcialmente afetada por uma base de ganhos comprimida, particularmente para Inter e Nu. Vemos o impacto como uma porcentagem do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) variando de 50 pontos-base a 230 pontos-base nas estimativas, com Inter e Nubank ainda sendo, provavelmente, os mais afetados”, escreveram os analistas.
O impacto no retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), indicador que mostra a capacidade de um banco em rentabilizar seu capital, seria maior no Nubank e no Inter.
Para equilibrar a lucratividade dos bancos e o desejo do governo em diminuir as taxas para essa linha de crédito, a solução poderia passar por um modelo de empréstimo com diversas linhas rotativas, com taxas de juros bem mais baixas, dizem os analistas.
Outras opções poderiam envolver a mudança para opções de crédito como as linhas de modelo “buy now, pay later" (“compre agora, pague depois”, na tradução livre), onde os consumidores pagam juros ao invés dos lojistas.
O teto para os juros do cheque especial foi implementado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2020. Na época, a taxa do produto rondava 11% ao mês, e o limite foi definido em 8% ao mês.
“O efeito mais significativo da mudança foi um crescimento muito menor do empréstimo de cheque especial. Entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2023, os empréstimos de cheque especial expandiram 36% contra uma expansão de 105% para os empréstimos com cartão de crédito rotativo”, afirmaram os analistas do UBS BB.
O lado positivo da mudança foi a redução da inadimplência, que caiu em 0,25% após a adoção do teto. Isso em um momento onde o indicador aumentou na maioria das outras linhas domésticas, indicam os analistas.
O diretor de regulação do Banco Central, Otávio Damaso, afirmou no início de abril que o BC não está discutindo a implementação de um teto para a cobrança de juros no cartão de crédito.
Damaso admitiu que a autarquia não está confortável com alguns dos patamares de juros cobrados no segmento, mas reforçou que um teto para o cartão de crédito não está na agenda do BC.
Implementar um teto para a modalidade seria o “menos aconselhável possível” na avaliação de Isaac Sidney, presidente da Febraban, a Federação Brasileira de Bancos. Na avaliação de Sidney, a prática poderia gerar distorções, e o melhor caminho seria o diálogo com o governo para que não se repetisse o que ocorreu no caso do crédito consignado.
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