Tesouro: mantém um colchão de liquidez equivalente a três meses de vencimentos, o que é considerado pelos técnicos do governo como um nível prudencial. (Germano Lüders/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 11h24.
(Bloomberg) -- A estratégia do Tesouro de oferecer títulos mais curtos ao mercado conseguiu atrair os investidores em meio à pandemia e deu um alívio ao governo para a rolagem da dívida pública no início de 2021.
Os recursos em caixa já são suficientes para honrar pelo menos os vencimentos em mercado até abril do ano que vem, disse a secretaria em resposta à Bloomberg enviada por e-mail. Esses vencimentos chegam a R$ 654 bilhões, segundo relatório da dívida pública relativo ao mês de outubro.
O Tesouro mantém um colchão de liquidez equivalente a três meses de vencimentos, o que é considerado pelos técnicos do governo como um nível prudencial. Mas a expectativa é deixar o colchão “sistematicamente acima desse valor”, segundo a secretaria. O número exato não é divulgado por ser considerado uma informação estratégica.
As incertezas provocadas pela pandemia ao longo de 2020 fizeram com que os investidores buscassem mais liquidez, com preferência por títulos mais curtos. Em outubro, numa ação conjunta com o Banco Central, o Tesouro passou a incluir LFTs com vencimento em março de 2022 e NTN-Bs com vencimento em maio de 2023 em seus leilões.
O apetite por papéis atrelados à inflação, diante da pressão dos preços dos alimentos, também ajudou o Tesouro a vender NTN-Bs nas últimas semanas.
Até a próxima grande concentração de vencimentos da dívida em janeiro, o calendário do Tesouro prevê dois leilões de títulos prefixados NTN-F e LTN e de LFT, papel com rendimento atrelado à Selic -- sendo um dos leilões nesta quinta-feira. Também fará a última etapa de oferta de NTN-B curta para 2023. Nas três rodadas de oferta anterior, Tesouro captou R$ 61,07 bilhões junto ao mercado com esse papel, incluindo por meio de um lote recorde em 1 de dezembro.
“Parece que grandes emissões recentes deram garantia quanto à necessidade de refinanciamento”, afirmou Paulo Nepomuceno, trader de mesa de derivativos e renda fixa da Terra Investimentos. “Necessidade de fazer caixa do Tesouro com antecipações de emissões parece bem enquadrada.”
O alto volume de gastos do governo com ações para combater os efeitos do vírus também levaram o Tesouro a buscar recursos em outras fontes. Somente os gastos relacionados à Covid-19 somam R$ 588 bilhões no ano.
No dia 07 de dezembro, foi enviado ao Senado um pedido de autorização para a tomada de empréstimos junto a bancos internacionais para financiar despesas como o pagamento do auxílio emergencial no valor de US$ 2,350 bilhões e 200 milhões de euros.