Tesouro subindo: agosto foi mês de valorização para os títulos públicos (PM Images/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 1 de setembro de 2022 às 13h02.
Última atualização em 1 de setembro de 2022 às 13h08.
Para a maioria dos investidores do Tesouro Direto, o mês de agosto trouxe boas notícias. Nos últimos 30 dias, todos os títulos públicos tiveram desempenho positivo, e diminuiu o número dos que estavam registrando perdas desde janeiro. Até o mês passado, 11 dos 26 títulos ainda tinham desvalorização no ano. Em agosto, o bom desempenho diminuiu esse o número de "perdedores" para 5.
Outro aspecto importante do mês foi a virada dos prefixados. Tais títulos foram duramente penalizados durante o ciclo de alta dos juros – muito porque ninguém sabia até onde iria a inflação e, consequentemente, a taxa Selic. Agora que o Banco Central sinalizou que os juros devem ficar estacionados perto dos 13,75%, os investidores enxergaram o "pico da curva" e foram em busca das taxas atrativas dos prefixados.
Veja abaixo o rendimento do Tesouro Direto em agosto:
Títulos | Vencimento | Agosto | Em 2022 |
Tesouro Prefixado | 01/01/2029 | 6,48 | - |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2033 | 6,32 | - |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2032 | 1,54 | - |
Tesouro Selic | 01/03/2027 | 1,12 | 8,27 |
Tesouro Selic | 01/03/2025 | 1,19 | 8,01 |
Tesouro Selic | 01/09/2024 | 1,2 | 7,95 |
Tesouro Selic | 01/03/2023 | 1,17 | 7,83 |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2023 | 1,2 | 7,16 |
Tesouro Prefixado | 01/01/2023 | 1,2 | 7,05 |
Tesouro IGPM+ com Juros Semestrais | 01/01/2031 | 1,11 | 6,23 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2024 | 0,41 | 5,7 |
Tesouro IPCA+ | 15/08/2024 | 0,42 | 5,38 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2026 | 0,59 | 5,09 |
Tesouro IPCA+ | 15/08/2026 | 0,63 | 4,65 |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2025 | 2,65 | 4,03 |
Tesouro Prefixado | 01/07/2024 | 2,25 | 3,93 |
Tesouro Prefixado | 01/01/2025 | 2,9 | 3,62 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2030 | 1,35 | 3,21 |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2027 | 4,06 | 2,22 |
Tesouro Prefixado | 01/01/2026 | 3,76 | 1,94 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/05/2035 | 1,78 | 0,92 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2040 | 2,28 | 0,63 |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2029 | 5,07 | 0,39 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/05/2045 | 1,89 | 0,16 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2050 | 2,04 | -0,54 |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2031 | 5,79 | -0,84 |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/05/2055 | 2,18 | -1,53 |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2035 | 2,41 | -2,11 |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2045 | 4,35 | -9,83 |
Em julho, a corte nos preços dos combustíveis foi responsável por uma deflação de 0,6% no IPCA. A prévia do indicador de agosto, o IPCA-15, indicou que, no mês, os índices de preços recuaram mais uma vez. Com a perspectiva de queda da inflação, os investidores ficaram mais confiantes de que a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) será a última de alta de juros – isso se houver, realmente, uma nova alta.
"Na última reunião, o Copom indicou que encerrará o ciclo de alta de Selic já na reunião seguinte. A sinalização foi recebida positivamente pelo mercado e levou a um fechamento relevante na taxa de juros futuros, o que levou um retorno expressivo dos títulos prefixados do Tesouro em agosto", explicou Gustavo Pi Okuyama, gestor de renda fixa da BlueLine.
O fechamento da curva se deu, também, pela queda nas expectativas de inflação para 2023. No entanto, vale lembrar que ainda há dúvidas sobre a sustentabilidade da política de corte de preços de combustíveis, além das incertezas típicas da corrida presidencial.
"O mercado está de olho nas eleições, e principalmente nas medidas fiscais do próximo governo. Os dois candidatos à frente nas pesquisas, Lula e Bolsonaro, estão prometendo a continuidade do auxílio de R$ 600, olhando para a popularidade em 2023, e isso gerou volatilidade", disse Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
Ele pondera que o mundo está convergindo para um cenário de menor inflação, ainda que ao custo de juros mais elevados. Dessa forma, o investidor local sentiu mais segurança para apostar em prefixados, em busca da última janela de oportunidade.
Okuyama, da BlueLine, lembrou que, ao contrário dos prefixados, que se moveram em única direção, os títulos atrelados à inflação (IPCA+, ou NTN-B) tiveram um comportamento misto em agosto.
"Os títulos de vencimentos mais longos também se beneficiaram deste movimento de fechamento de juros, mas os de prazo mais curto, bastante dependentes da inflação corrente, acabaram com um retorno negativo", disse o gestor.
Enquanto o indexador não ajudou tanto, a parte do "prêmio" das NTN-B teve um comportamento parecido com a dos títulos prefixados. Vale lembrar que o retorno dos títulos IPCA+ é calculado com base em uma taxa fixa somada ao desempenho da inflação. Quando há perspectiva de queda de juros, essa taxa começa a cair, o que torna mais atrativo o rendimento de quem comprou os títulos em meses anteriores. É o efeito da marcação a mercado.
Para os investidores de LFT, o clima é de sombra e água fresca. Para esses títulos, cujo retorno acompanha o desempenho da Selic, a própria perspectiva de juros estacionados em um patamar elevado são indicativo de tranquilidade, para os próximos meses.
"No mês, tivemos o impacto positivo da última alta da Selic, em julho, quando o BC elevou a taxa em 0,5 ponto percentual, para o atual patamar de 13,75%, lembrou o gestor da BlueLine.
Parece chover no molhado dizer que tudo que o investidor deve observar as perspectivas de inflação e juros para os próximos meses. O maior risco, dizem os gestores, é um repique da inflação pós-período eleitoral, quando a política de corte de impostos sobre os combustíveis deve acabar – caso, claro, o próximo presidente não decida dar continuidade à medida.
"As medidas que o governo tomou são mais pontuais, por isso não estão sendo levadas tão em consideração no médio e longo prazo. O que alivia, sim, é a desaceleração das economias dos Estados Unidos e Europa, que leva a uma queda nas expectativas de inflação no mundo todo", ponderou Beyruti, da Guide.
A falta de gás na Europa durante o inverno pode ser um fator surpresa para a inflação, e que poderia reverter parte dos ganhos recentes, por exemplo. Por isso, a recomendação dos gestores tem sido a de aumentar a exposição aos títulos IPCA+, justamente para buscar proteção em um cenário de preços voltando a subir.
Nos últimos meses, o Tesouro Nacional emitiu novos títulos públicos, renovando a carteira do Tesouro Direto. Foram três aplicações de médio e longo prazo: o Tesouro Prefixado com vencimento em 2029, o Tesouro Prefixado com juros semestrais e vencimento em 2033, e o Tesouro IPCA+ com juros semestrais e vencimento em 2032.
No mês, os prefixados tiveram os melhores rendimentos, com alta de mais de 6%. Já o título de inflação também subiu, mas a um ritmo mais moderado, de 1%.
Por serem aplicações com pouco tempo de negociação, não há registro de rendimento para esses títulos desde janeiro. Com as emissões, o Tesouro Direto passa a ter 29 títulos disponíveis para investimento no mercado.