Tesla (TSLA34) (Kim Kyung-Hoon/Reuters)
A S&P Dow Jones excluiu a Tesla (TSLA34) de seu índice S&P 500 ESG Index na última quarta-feira (18).
A decisão foi tomada por uma série de questões. Entre elas, acusações de discriminação racial, colisões provocadas por falhas do sistema de piloto automático dos veículos elétricos da Tesla, governança inadequada e poucos detalhes sobre sua estratégia para reduzir as emissões.
Segundo o S&P 500, as escassas informações divulgadas pela Tesla sobre sua estratégia de baixo carbono e códigos de conduta contribuíram para a remoção do índice.
Segundo Margaret Dorn, gerente do Índice de Sustentabilidade Empresarial da S&P 500, “não é possível simplesmente corroborar a declaração de missão de uma empresa” aceitando-a no índice. São necessárias ações concretas.
E as ações concretas da Tesla não passaram a prova. O filtro de centenas de dados sobre o impacto da atividade da montadora sobre o meio ambiente e em relação a todas as partes interessadas, de consumidores até funcionários.
Aparentemente, se a Tesla está fazendo sua parte para tirar os veículos movidos a combustível fóssil das ruas, ela ficou para trás em relação aos seus concorrentes quando examinada pela lupa do ESG.
A decisão provocou o disparo de uma série de tuítes raivosos por parte do presidente-executivo da empresa, o bilionário Elon Musk.
"O ESG é uma farsa", "é o demônio encarnado", e "a S&P 500 perdeu a integridade", foram alguns dos tweets do executivo.
Musk tem mais de 90 milhões de seguidores no Twitter (rede social que, por sinal, está querendo comprar).
O CEO da Tesla é o homem mais rico do mundo, apesar de ter perdido dezenas de bilhões de dólares de sua fortuna pessoal no recente crash do mercado de ações que penalizou principalmente as empresas de tecnologia de "valor", como a Tesla.
“A Exxon está classificada entre as dez melhores empresas em meio ambiente, engajamento social e governança pelo S&P 500, enquanto a Tesla não entrou no ranking! O ESG é uma farsa. Tornou-se uma arma nas mãos de falsos guerreiros da justiça social”, escreveu Musk no Twitter.
De fato, nessa polêmica o CEO da Tesla pode se basear em uma realidade: existe um intenso debate sobre os critérios que definem qual ação é ESG e qual não é.
Musk criticou as fórmulas adotadas nesse sentido.
Por exemplo, um fundo baseado no índice S&P 500 ESG, o SPDR S&P 500 ESG ETF, recebeu uma "nota" D muito baixo por parte de grupos ambientalistas.
Segundo essas ONGs, o fundo possui 6,5% de ativos em ações vinculadas a combustíveis fósseis.
Outras empresas que fazem parte do índice, como
também não são isentos de críticas.
O S&P especificou que a lista que Musk citou das dez empresas ESG não é uma classificação das melhores. Simplesmente são as dez maiores empresas do índice por valor de mercado.
A Tesla protestou com mais sobriedade contra a remoção do índice, afirmando que as metodologias ESG estão "fundamentalmente erradas".
A S&P respondeu que a decisão foi tomada sem qualquer viés, depois que a pontuação ESG da Tesla caiu ligeiramente em relação aos 22 pontos obtidos ano passado.
Ao mesmo tempo, a pontuação de outros fabricantes de automóveis subiu, excluindo-as automaticamente da categoria de empresas com pior desempenho.
A Standard & Poor's explicou que o índice ESG, embora “fortaleça o perfil de sustentabilidade”, tenta manter o mesmo equilíbrio setorial que o S&P 500, o que explica a presença de empresas petrolíferas.
Entre os erros da Tesla, e do Musk, que pesaram na decisão do S&P está a investigação especial aberta nas últimas semanas sobre um acidente ocorrido na Califórnia com um carro elétrico.
A apuração faz parte de um leque de mais de 30 investigações totais realizadas em seus sistemas de pilotos automáticos, entre as quais uma investigação iniciada pelas autoridades federais.
Sempre na Califórnia, nos últimos meses, foram apresentadas denúncias por discriminação racial e abusos na fábrica de Fremont, juntamente com críticas às más condições de trabalho.
Também neste caso, não a primeira queixa apresentada contra a empresa de Musk.
Por último, nas últimas horas surgiu uma acusação sobre um suposto assédio sexual por parte de Musk.
A revista online Business Insider afirmou que a Space X, sua empresa de exploração espacial, em 2018 teria pago US$ 250 mil (cerca de R$ 1,25 milhão para uma comissária de bordo retirar uma acusação de moléstias sexuais.
Musk negou duramente a acusação, levantando "motivações políticas" atrás desse caso.
Mas a Tesla está sob ataque também sob o perfil de luta às mudanças climáticas.
Em fevereiro, a montadora de carros elétricos negociou com a Autoridade de Proteção Ambiental uma multa por anos de violações dos regulamentos de qualidade do ar e falta de dados sobre suas emissões.
Além disso, o ranking dos maiores poluidores da atmosfera compilado pela Universidade U-Mass Amherst o coloca a Tesla em 22º lugar em cem classificados.
Uma posição pior do que a petrolífera Exxon, que está quatro pontos na frente.
Nos documentos enviados para a SEC no primeiro trimestre, a própria Tesla também relatou investigações sobre o manuseio de sucatas e resíduos na Califórnia e uma multa paga na Alemanha por não cumprir as obrigações sobre descarte de baterias.
Nas mesmas horas dessa polêmica sobre o índice S&P 500 ESG, Musk também ganhou as manchetes por causa de sua virada repentina de preferências políticas.
Depois de criticar repetidamente as posições do Partido Democrático do Estados Unidos sobre questões sociais, política ambiental, impostos sobre bilionários e luta contra a pandemia, Musk twittou que vai votar para o Partido Republicano.
O executivo escreveu que no passado considerou os democratas o partido "mais gentil", mas agora que mudou de ideia, eles se tornaram o partido do "ódio e da divisão".
E, quem sabe, as novas escolhas políticas de Musk tenham pesado sobre a decisão do S&P 500 ESG.