Spinelli prevê dias difíceis à bolsa brasileira em 2011 (Germano Luders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2011 às 08h31.
São Paulo – O tempo parece estar se fechando contra a BM&FBovespa mais rápido do que esperávamos. A frase intitula o relatório da corretora Spinelli e mostra um conservadorismo acima da média quando o assunto é o horizonte dos papéis da bolsa brasileira. Os analistas Daniel Malheiros e Kelly Trentin reduziram o preço-alvo (dez/11) das ações ordinárias de 16,64 reais para 14,17 reais e reiteraram a recomendação de manutenção.</p>
Eles lembram que as ações ordinárias da bolsa brasileira chegaram a atingir a cotação de 15,62 reais, em meados de outubro de 2010, e a partir de então deram início ao movimento de realização norteado por notícias negativas. Atualmente, as ações da BM&F Bovespa valem aproximadamente 12,60 reais, uma queda de 19% desde outubro. Em paralelo, os analistas atentam para que o fato de que a a BM&FBovespa negocia com prêmio em relação aos seus pares. “Com relação ao múltiplo EV/EBITDA (valor da empresa/geração operacional de caixa) projetado para 2011 e 2012, a bolsa é negociada com prêmio de 18,1% e 27,7%, respectivamente”.
Abaixo a corretora elenca os principais fatores que podem comprometer a performance das ações da BM&F Bovespa:
BM&F Bovespa X IOF
O anúncio de aumento adicional do IOF em outubro do ano passado é uma das nuvens negras que podem ofuscar a performance da bolsa brasileira, segundo os analistas. Na ocasião, o Imposto sobre Operações Financeiras em aplicações externas em renda fixa subiu para 6%, apenas duas semanas após ter dobrado para 4%. No caso dos derivativos, as margens de garantia de estrangeiros também serão taxadas com 6% do imposto, bem acima da alíquota atual de 0,38%.
“Segundo a BM&FBovespa, os investidores estrangeiros representavam na época 22% do volume de contratos de derivativos negociados, um montante razoável. Além disso, despertou o receio de que novas medidas fossem adotadas e conseqüentemente pudessem prejudicar o volume de negócios da Bolsa”, lembra o relatório.
BM&F Bovespa X Receita Federal
410 milhões de reais. Este foi o valor da cobrança, totalizando multas e juros, que constava no auto de infração da Receita Federal enviado à bolsa no último mês de setembro. A instituição aponta uma suposta inconsistência do critério utilizado para avaliação do patrimônio líquido da Bovespa Holding S.A., para efeito de apuração do valor do ágio.
A BM&FBovespa afirmou que iria recorrer ao auto de infração e que considera remoto o risco de perda alegando que o ágio está sendo provisionado em conformidade com a legislação fiscal, conforme lembra o relatório da Spinelli.
“Em nossa visão, o ágio tem um peso representativo no valor justo das ações da companhia, que de acordo com a nossa análise cria um benefício fiscal (atualizado) de 3,5 bilhões de reais, que trazido a valor presente a taxa de desconto de 14,88%, acrescenta 1,08 real por ação no valor justo da empresa. Entendemos que o desenrolar dessa história irá demorar, porém esse assunto será uma sombra da empresa”, afirmam os analistas.
Leia mais: Rapper 50 Cent vende ações pelo Twitter e avalia investimento no Facebook
Direto da Bolsa: Petrobras avalia aquisição da Galp
Cetip + Deutsche Boerse
Em novembro, a Cetip (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos) comunicou o início de conversações com o Deutsche Boërse AG (Bolsa da Alemanha) para uma possível cooperação. O objetivo é estabelecer uma plataforma eletrônica destinada inicialmente à negociação de instrumentos de renda fixa.
Daniel Malheiros e Kelly Trentin reconhecem que o desenvolvimento de uma plataforma de negociação para instrumentos de renda fixa não traz tanta ameaça para a BM&F Bovespa, já que as negociações de títulos de renda fixa representam cerca de 1% da receita da bolsa. “Por outro lado, não sabemos se esse acordo pode se expandir para a criação de outras plataformas de negociação como, por exemplo, de ações, e assim prejudicaria a BM&FBovespa”.
Compartilhando o bolo
A mais recente notícia que fez com que os papéis da BM&F Bovespa apresentassem queda foi a de que um grupo de investidores liderado pela gestora de recursos Claritas estaria articulando a criação de uma nova bolsa de valores no Brasil. O projeto, segundo o jornal Valor Econômico, seria administrado por Luiz Eduardo Zago, ex-diretor do Itaú.
“Já esperamos um ambiente competitivo para o médio prazo. Notícias de que novas plataformas de negociação de ações e futuros já estejam sendo formadas no Brasil, de certa forma, nos surpreende mais pelo timing do que pelo evento em si. Porém, acreditamos que no momento o mercado é demasiado pequeno para comportar vários players no segmento de negociação”, avalia o relatório da Spinelli.
Para Daniel Malheiros e Kelly Trentin, caso haja um novo player no curtíssimo prazo, haverá guerra de preços, sendo que este novo concorrente abocanharia parte da receita que hoje é da BM&FBovespa.