Ibovespa: Safra reduz preço-alvo do índice para 2024, baseado em desancoragem das expectativas para a inflação (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 3 de junho de 2024 às 13h18.
O tempo fechou para o Ibovespa em 2024. No ano, até o pregão de sexta-feira, 31, o principal índice acionário do Brasil acumulava queda de 9,01%, perdendo mais de 10 mil pontos desde a primeira sessão de 2024. O clima mais pessimista fez o banco Safra reduzir o preço-alvo do Ibovespa para 145.000 pontos em 2024, frente aos 152.500 anteriores.
O Safra também revisou para cima sua estimativa para a Selic em 2024, passando de 9,50% para 10,25%. Com isso, o custo de capital do Ibovespa foi ajustado para 13,75% (anteriormente 13,50%), e a estimativa de Lucro por Ação (LPA) do Ibovespa para 2024 foi reduzida de de 16.258 para 15.781, enquanto a de 2025 caiu de 16.932 para 16.482.
“Usamos uma análise top-down para calcular nosso novo preço-alvo para 2024 de 145.000 pontos, considerando a relação preço por lucro (P/L) de 2025 em 8,8 vezes. Também estamos rolando nosso preço-alvo de 12 meses para frente de 152.500 pontos para o Ibovespa (com um LPA projetado de 17.311 pontos)”, comentam.
Preocupações com a inflação nos Estados Unidos e no Brasil, além da situação fiscal delicada por aqui sustentam a tese do banco para reduzir o preço-alvo do Ibovespa. Segundo os analistas do Safra, a desancoragem das expectativas de inflação já pressionam as taxas de juros. “Apesar da ausência de sinais de excesso de demanda e do fato de que os núcleos de inflação estão próximos ao centro da meta, o mercado aumentou sua expectativa para a inflação”, pontuam.
Nesta segunda-feira, 3, o Banco Central (BC) elevou, pela quarta semana consecutiva, a projeção para 2024 do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,86% para 3,88%. Já o IPCA para 2025 foi elevado pela quinta semana consecutiva, subindo de 3,75% para 3,77%. A inflação para 2026, por sua vez, subiu pela segunda semana seguida de 3,58% para 3,60%. A de 2027 se manteve em 3,50%.
O movimento, na visão do Safra, torna os cortes de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) menos prováveis. Portanto, a equipe de macroeconomia espera somente mais uma redução na taxa Selic, que deve atingir 10,25% no final de 2024.
“O Banco Central do Brasil pode cortar a taxa Selic mais adiante, se o início dos cortes de juros nos EUA for confirmado e desde que o desastre no estado do Rio Grande do Sul não tenha efeitos mais profundos sobre o IPCA, mas isso pode acontecer apenas no próximo ano”, acrescentam.
A equipe econômica do banco destacou que a atividade econômica no Brasil melhorou este ano, levando ao desempenho superior de muitos setores. No entanto, resultados abaixo do esperado de grandes empresas de commodities, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), contribuíram para um desempenho consolidado no trimestre 4,5% abaixo das expectativas.
O Ibovespa está sendo negociado a 7,4 vezes os lucros projetados para 2024, com base nas estimativas do Safra, ou 7,2 vezes com base no consenso de mercado. Esses múltiplos são cerca de 15% abaixo da média histórica de 10 anos de 10,35 vezes.
"A justificativa para esse cenário de múltiplos mais baixos do que o nível histórico é o aumento nos prêmios de risco, que devem permanecer altos até que as preocupações com a atividade e a inflação nos EUA diminuam e o cenário fiscal do Brasil traga menos incerteza para a política monetária", afirmou a equipe do Safra.
Visto o cenário projetado pelo Safra, o banco sugere uma estratégia mais defensiva até pelo menos o terceiro trimestre de 2024. "Acreditamos que o cenário de incerteza persistirá até esse período, com as eleições trazendo volatilidade adicional aos mercados", explicou o banco.
O Safra recomenda um portfólio defensivo, incluindo ações de empresas como Itaú (ITUB4), Vale (VALE3), TIM (TIMS3), GPS (GGPS3) e Copel (CPLE6). Além disso, sugere a inclusão de nomes específicos de valor e/ou crescimento, como Rumo (RAIL3), BTG (BPAC11) e Localiza (RENT3).
Já em relação aos riscos, o banco alerta para quatro possíveis movimentações que podem impactar o cenário econômico e os mercados: