A Brasil Foods ainda está tentando negociar uma solução com o Cade (EXAME)
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2011 às 00h20.
São Paulo - Operadores do mercado de renda fixa estão apostando que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica vai aprovar a fusão que criou a BRF - Brasil Foods SA, abrindo caminho para a empresa conseguir o grau de investimento.
A taxa dos títulos em dólar com vencimento em 2020 da maior exportadora mundial de frango estão em 5,76 por cento, menos do que papéis de prazo similar de empresas brasileiras de melhor classificação de crédito, como Telemar Norte Leste SA, Votorantim Cimentos SA e Suzano Papel e Celulose SA. A Brasil Foods tem nota Ba1 pela Moody’s Investors Service e BB+ pela Standard & Poor’s. Nos dois casos, está um nível abaixo do grau de investimento.
A Brasil Foods, formada quando a Perdigão SA comprou a Sadia SA em 2009, aguarda decisão do Cade no mês que vem. O órgão deve obrigar a empresa a permitir concorrência com um terceiro agente econômico, afirmou na semana passada a Procuradoria-Geral do conselho.
“Quando esta questão regulatória terminar, acho que eles vão se tornar grau de investimento”, disse Leonardo Kestelman, que supervisiona US$ 880 milhões em ativos, incluindo dívida da Brasil Foods, na Dinosaur Securities em São Paulo. “Esta realmente é a única razão pela qual eles ainda não têm.”
A Brasil Foods está tentando negociar uma solução com o Cade. Provavelmente a empresa conseguirá se desfazer de marcas menores que não são parte do negócio principal, de forma a satisfazer as autoridades antitruste, disse Alfredo Viegas, diretor de estratégia para mercados emergentes na corretora de renda fixa Knight Libertas.
Lucro crescente
Neste ano, o rendimento dos papéis da Brasil Foods desabou 85 pontos-base, ou 0,85 ponto percentual, enquanto as taxas para dívida corporativa brasileira com classificação um nível superior recuaram 26 pontos-base para 5,53 por cento. Títulos com a mesma classificação Ba1 ou BB+ da Brasil Foods pagam 6,2 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Títulos da mexicana Sigma Alimentos SA com classificação BBB- pela S&P, o menor grau de investimento, rendem 5,82 por cento.
O presidente da Brasil Foods, José Antonio Fay, disse durante teleconferência com analistas em 16 de maio que a empresa pretende conquistar o grau de investimento já neste ano.
A companhia sediada em São Paulo disse em 13 de maio que o lucro líquido do primeiro trimestre saltou de R$ 61 milhões no ano passado para R$ 383 milhões. O aumento das exportações de alimentos processados e de frango compensou a alta dos custos com commodities. O faturamento subiu 19 por cento para R$ 6,1 bilhões.
Um representante da Brasil Foods em São Paulo não retornou um telefonema e dois e-mails da Bloomberg News solicitando comentário para esta reportagem.
Perdas cambiais
A Sadia tornou-se alvo de aquisição ao acumular mais de R$ 3 bilhões em perdas em 2008 com derivativos de câmbio. O real desabou 23 por cento naquele ano, interrompendo uma valorização de 99 por cento ao longo de cinco anos, já que a crise de crédito global diminuiu a demanda por ativos de mercados emergentes e de maior rendimento.
O real avançou 0,4 por cento para 1,6096 por dólar ontem, ampliando a apreciação para 3,2 por cento este e para 8,4 por cento desde 2009.
Em abril, tanto a Moody’s quanto a S&P melhoraram a perspectiva para a Brasil Foods de estável para positiva, argumentando que a integração da operação de exportação de carne bovina da Sadia e a compra conjunta de matérias-primas estavam melhorando as margens operacionais.
A analista da S&P Flávia Bedran afirmou em relatório de 7 de abril que o portfólio de marcas de alimentos processados da companhia e o aumento do valor agregado em exportações ajudarão a Brasil Foods a sustentar margens de dois dígitos.
Negociando com Cade
A Brasil Foods tenta negociar uma solução com o Cade antes de uma decisão final sobre a aquisição, o diretor financeiro, Leopoldo Saboya, disse durante a teleconferência de 16 de maio. Ele revelou que a decisão está demorando mais do que a empresa esperava.
“Para o Cade, eles precisam mostrar que conseguem romper algumas daquelas posições de mercado bastante dominantes”, disse Viegas, da Knight Libertas, em entrevista por telefone de Greenwich, no estado americano de Connecticut. “Dada a presença de mercado, mesmo se eles tiverem que se livrar de marcas de menor importância mas de maior margem, eles conseguiriam substituí-las com relativa rapidez com marcas estabelecidas.”
Uma decisão do Cade forçando a Brasil Foods a vender uma grande marca prejudicaria a empresa, disse Ricardo Kovacs, analista de dívida corporativa da Moody’s em São Paulo.
“Se a decisão do Cade forçá-los a se desfazer de uma marca importante, a companhia poderia perder alguns dos benefícios que obteria com a fusão de Sadia e Perdigão”, Kovacs disse em entrevista por telefone.