Gerdau: 40% do EBITDA da siderúrgica é gerado nos Estados Unidos, onde preços tendem a aumentar (Gerdau/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 10h42.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2025 às 11h14.
Se levadas a cabo – um grande ‘se’ – as tarifas de 25% a serem implementadas pelo governo Trump para as importações de aço pelos Estados Unidos teriam efeitos limitados para as empresas listadas do setor no Brasil.
Com 40% de seu EBITDA gerado nos Estados Unidos, a Gerdau seria a beneficiária mais direta. A multinacional brasileira produz em solo americano os bens que vende no país e não exporta a partir do Brasil.
Os papéis abriram o dia em forte alta, de 3%, tanto para os ordinários (com direito a voto), quanto os preferenciais (sem direito a voto e mais líquidos).
Para Usiminas e CSN, haveria algum efeito, porém mais limitado, aponta o Santander em nota. As empresas exportam 1% e 4% de sua produção local para os Estados Unidos, de acordo com o banco.
Por volta das 10h30, as ações da Usiminas operam próximas à estabilidade, enquanto os papéis da CSN caem mais forte, 2%, entre as maiores baixa da Bolsa. Nesse caso, contudo, os papéis reagem também a uma outra notícia: de que a empresa precisará se desfazer de suas ações da rival Usiminas – um caso de que se arrasta há mais de uma década na Justiça.
De acordo com a Folha de S. Paulo, o TRF-6, sediado em Minas Gerais, rejeitou recursos anteriores da CSN e por 3 votos a 0 manteve que "a empresa deveria ter vendido a maioria de sua participação acionária na Usiminas até julho de 2024".
Ainda segundo o jornal, o TRF-6 entendeu que a CSN poderia deter no máximo 5% da Usiminas, mas possui 12,9%. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) havia determinado em 2022 que a CSN teria que vender as ações da rival, mas retirou qualquer data limite para o negócio, segundo o jornal.
Em relatório, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME) recomenda parcimônia para a Gerdau, apesar da potencial boa notícia no horizonte, uma vez que Trump já voltou atrás em diversos anúncios de tarifas e não é possível descartar acordos que resultem em isenções.
"Enquanto a reação inicial pode ser de cobrir shorts [de Gerdau] ou procurar por um trade rápido, recomendamos alguma cautela", escreveu a equipe liderada por Leonardo Correa. “Alertamos os investidores que não sabemos por quanto tempo essas tarifas ou o fluxo de notícias vai continuar e os fundamentos de aço nos Estados Unidos estão de alguma forma pressionados no curto prazo”.
O analista pondera ainda que a siderúrgica enfrenta um momento mais complicado no Brasil, que já vem se traduzindo em descontos de 4% a 5% nos preços das barras de aço em janeiro no país. Dentro da cobertura de commodities, o banco tem preferência pelo setor de papel e celulose.
Com a ameaça de tarifas apenas no discurso, ainda sem uma ordem executiva que diga quais produtos poderiam ser taxados, há muita incerteza sobre o impacto da eventual medida sobre os preços, alerta ainda o BTG.
O banco afirma, contudo, que normalmente, medidas como essa tendem a ter impacto apenas regional, e não global, já que o balanço de oferta e demanda se ajusta com direcionamento de produção para outras geografias.
“A primeira reação é esperar que os preços do aço e do alumínio nos Estados Unidos aumentem devido a potenciais faltas de oferta regionais ou disrupções na cadeia de fornecimento”, diz Correa. “Essa história é sobre gaps regionais de preços.”
Em seu primeiro mandato, em 2018, Trump anunciou tarifas de 25% sobre aço e de 10% sobre alumínio. A medida, contudo, nunca chegou a funcionar com força completa. Canadá e México foram isentos da taxa, por estar dentro do acordo de livre comércio da USMCA. Outros países, como Brasil, Argentina, Coreia do Sul e Australia, entraram num sistema de cotas que, apenas quanto excedidas resultam em sobretaxação.
Nas contas do Santander, hoje apenas 20% das importações de aço dos Estados Unidos estão sujeitas à taxação completa anunciada em 2018.