Gafisa: o investimento seria feito por meio da venda de ações que a Gafisa submeterá à aprovação dos acionistas na segunda-feira (ALEXANDRE BATTIBUGLI/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 12 de abril de 2019 às 12h11.
(Bloomberg) -- Nelson Tanure encontrou um novo ponto de entrada. O investidor está disposto a investir até US$ 50 milhões na construtora Gafisa, a ação de pior retorno do país, de acordo com uma pessoa próxima às discussões.
O investimento seria feito por meio da venda de ações que a Gafisa submeterá à aprovação dos acionistas na segunda-feira, disse a pessoa, que preferiu não ser identificada porque as discussões são privadas e dependem do resultado da assembleia para se materializarem.
Tanure confirmou à Bloomberg seu interesse pela Gafisa em 20 de março, mas se recusou a dar detalhes sobre como sua contribuição seria feita. Um porta-voz do investidor não quis comentar sobre essa reportagem.
A entrada de Tanure, investidor ativista com apostas que vão de telecom a petróleo, seria o mais recente desdobramento para a construtora, que já foi a segunda maior do país. Suas ações perderam mais da metade do seu valor este ano, e agora são negociadas perto de seu nível mais baixo, depois de uma série de mudanças na estrutura acionária e na administração. Hoje, a empresa tem um valor de mercado de R$ 342,1 milhões.
A Planner Corretora de Valores se tornou a maior acionista da Gafisa depois que o investidor Mu Hak You teve que liquidar sua participação de cerca de 50% do capital votante da empresa em um leilão. A corretora estava por trás de uma grande parte dos contratos a termo que You e seu GWI Group usaram para aumentar sua participação na Gafisa. Com a saída de You, ela teve que executar garantias e tomar as ações, de acordo com a CVM, o que a deixou com uma participação de 18,5% na empresa.
A Gafisa tem o pior desempenho entre as empresas brasileiras de capital aberto, com um retorno negativo de 54,7% desde o começo do ano, de acordo com dados da Bloomberg. Ao mesmo tempo, a Petro Rio, empresa de petróleo e gás sediada no Rio de Janeiro que é gerida por Tanure, tem o terceiro melhor desempenho entre as 476 empresas compiladas pela Bloomberg. Ele também investiu na Oi logo após a empresa ter pedido a maior reestruturação judicial na história do Brasil. Hoje ele tem uma participação de 7% na portuguesa Pharol SGPS, cujo principal ativo é uma participação de 5% na Oi.
As oscilações dos acionistas da Gafisa também levaram a uma mudança na administração. Roberto Luz Portella foi eleito CEO, CFO e diretor de Relações com Investidores em 27 de março, um dia antes de a empresa divulgar um prejuízo maior do que o esperado no quarto trimestre.
Os acionistas da Gafisa votarão na segunda-feira uma proposta para aumentar o limite de capital autorizado da empresa para 120 milhões de ações ordinárias, das atuais 71 milhões de ações. Eles também irão votar uma proposta de emissão de cerca de 27 milhões de ações, considerando o limite atual de capital autorizado e as ações em circulação. Se ambas as propostas forem aprovadas, a oferta pode aumentar para até 77 milhões de ações. Enquanto o preço ainda está para ser definido, uma conta aproximada mostra que a venda pode chegar a cerca de R$ 600 milhões (US$ 155 milhões), com base no preço atual das ações da Gafisa.
A assembleia extraordinária de acionistas de segunda-feira também decidirá sobre o novo plano de negócios da empresa, com uma proposta da nova administração para ampliar suas operações em outros setores. A Gafisa, que é conhecida como uma tradicional construtora de classe média, está considerando entrar em condomínios de baixa renda, condomínios comerciais e industriais, e até em operações de estradas, aeroportos e portos, de acordo com o edital de convocação da assembleia.
Os acionistas também decidirão se "deslistam” as ADRs da Gafisa e sobre a possível colocação, no mercado doméstico ou internacional, de até US$ 150 milhões em dívida conversível.