NYSE: desde março, ações da Supermicro enfrentam queda de 50% nos EUA (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 27 de agosto de 2024 às 07h00.
Última atualização em 27 de agosto de 2024 às 09h22.
Criada em 1993 por um taiwanês, com foco no mercado de chips, listada na Nasdaq e uma das empresas mais beneficiadas pelo rali da inteligência artificial nas bolsas americanas. A descrição poderia ser da Nvidia, mas trata-se da Super Micro Computer, conhecida apenas como Supermicro.
Avaliada em US$ 33 bilhões, a Supermicro vale cerca de 1% da Nvidia, mas, por um momento, chegou a ter um rendimento superior ao da empresa de US$ 3 trilhões. Entre o final de 2021 e março deste ano, as ações da Supermicro acumularam uma impressionante alta de 2.700%, contra uma valorização de 276% da Nvidia no mesmo período.
A forte apreciação veio quase como uma segunda onda da inteligência artificial, com investidores procurando novas teses para além das Magnificent 7, e com a expectativa de uma maior demanda pelos negócios da empresa, especializada em criar servidores personalizados – que utilizam, inclusive, chips da Nvidia.
De fato, a empresa tem aumentado significativamente suas vendas com a ascensão da inteligência artificial. Nos últimos três anos, a receita trimestral da companhia saltou de US$ 1 bilhão para a faixa de US$ 5 bilhões. Num momento de procura cada vez mais voraz pelos produtos da Nvidia, a Supermicro tem conseguido garantir sua oferta de chips.
Coincidência ou não, o CEO da Supermicro, Charles Liang é amigo de longa data do CEO da Nvidia, Jensen Juang, e a sede de ambas as empresas fica a menos de 15 minutos de distância no Vale do Silício.
Agora, no entanto, com o mercado mais cético em relação ao crescimento – e principalmente com a rentabilidade – das empresa de IA, a lua de mel com a Supermicro parece ter chegado ao fim.
Desde que atingiram o pico em março deste ano, as ações da empresa acumularam uma queda de 54%. A desvalorização reflete os desafios que a Supermicro tem enfrentado para rentabilizar seus negócios, com constantes deteriorações na margem operacional. Embora tenha apresentado um crescimento robusto nas vendas líquidas no balanço do segundo trimestre, o recuo no lucro líquido de US$ 402 milhões para US$ 353 milhões frustrou as expectativas do mercado. O lucro por ação ficou em US$ 5,51, 27% abaixo do consenso da Nasdaq.
O último resultado foi impactado principalmente pela queda da margem bruta para 11,2%, comparada à proporção de 15,5% registrada no trimestre anterior e de 17% no mesmo período do ano passado.
O CEO e fundador da Supermicro explicou na apresentação dos resultados que a queda na margem foi pressionada por preços mais baixos para conquistar novos projetos e maiores custos na produção de um novo cluster de unidades de processamento gráfico para tarefas de inteligência artificial.
A empresa também enfrentou gargalos na cadeia de suprimentos, que atrasaram o reconhecimento de uma receita de US$ 800 milhões no segundo trimestre. A diretoria da Supermicro espera que esses gargalos continuem pressionando as vendas no curto prazo.
Entre os diretores, há a expectativa de que as margens se normalizem ao longo do ano, com a maior eficiência na fabricação do novo cluster.
No entanto, essa confiança não é totalmente compartilhada pelo mercado. Neste mês, por exemplo, analistas do Bank of America revisitaram a tese e rebaixaram a recomendação para as ações da Supermicro para "neutra", prevendo uma "série de trimestres com margens desafiadoras".
Apesar das dúvidas do mercado, Charles Liang espera dobrar a receita da Supermicro nos próximos doze meses, gerando um faturamento entre US$ 25 e 30 bilhões.
"Nosso crescimento robusto é impulsionado pela nossa liderança em tecnologia e produtos no mercado de infraestrutura de IA, especialmente em treinamento de IA generativa e inferência de IA", disse Liang a investidores.