Vulcão em erupção: “piquenique à beira do vulcão” é uma imagem para representar aquele ativo cujo preço medido em moeda forte não bate com seus fundamentos (Hugh Gentry/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2013 às 10h48.
São Paulo - Os investidores domésticos e internacionais estão “embriagados” com o sucesso da valorização de ativos brasileiros, como ações imóveis, arte, entre outros, e, apesar de terem certa noção de que os preços estão exagerados, não tomam nenhuma atitude para vendê-los em quantidades significativas.
A situação é semelhante a um piquenique à beira de um vulcão, avalia o gestor de recursos Luis Stuhlberger, do Credit Suisse Hedging Griffo, em relatório enviado aos clientes do fundo multimercado Verde. O fundo reúne mais de R$ 10 bilhões em investimentos e é um dos maiores do mundo.
Ele destaca a diferença de visões entre os brasileiros e os estrangeiros sobre a situação do Brasil. Segundo ele, os estrangeiros passaram de uma euforia entre 2006 e 2011, embasada no que ele chama de “otimismo crítico”, para o atual cenário negativo.
Segundo Stuhlberger, o “piquenique à beira do vulcão” é uma imagem para representar aquele ativo cujo preço medido em moeda forte não bate com seus fundamentos, e o ‘tail risk’ (riscos de cauda, que têm baixa chance de acontecer, mas que quando acontecem são desastrosos) é imensamente superior ao percebido pelos participantes do mercado em um determinado momento.
O gestor enumera quatro motivos para essa falta de percepção do risco. O primeiro é a falta de opções: os ativos em dólar rendem perto de zero, ninguém querer saber de Europa por conta da crise na região e a Ásia está longe demais da compreensão dos investidores brasileiros.
O segundo fator é que a espécie humana tem a inércia natural de não querer sair da zona de conforto.
O terceiro, é que os juros no Brasil, apesar de terem caído, ainda estão muito acima dos do resto do mundo, “o que ficou ainda mais exacerbado após o Super Quantitative Easing Japonês (medidas tomadas pelo BC do Japão para injetar bilhões de dólares na economia para combater a recessão e a deflação crônicas do país)”.
O quarto e último fator seria também econômico, não só psicológica, segundo o gestor. O diagnóstico de que o esgotamento do nosso modelo de crescimento sem reformas implica no que podemos popularmente chama de “empurrar com a barriga”. “Em suma, nosso PIB potencial (percentual que o país poderia crescer sem inflação alta) é baixo, crescemos 3% ao ano e a inflação já está beirando o teto da meta, mas nada disso é um grande problema”, diz o relatório. “Afinal, o crescimento do celeiro do mundo e o do financiamento imobiliário continuam como tendências poderosas”, acrescenta.
O gestor alerta que, quando um modelo de crescimento econômico sem reformas e sem investimentos se esgota, os mercados de ativos de longo prazo costumam antecipar esse futuro. “Nesse momento, qualquer uma das muitas nuvens negras dos desequilíbrios que nos rondam pode descarregar uma tempestade nada promissora sobre os mercados”, afirma.
Segundo Stuhlberger, “lamentavelmente, todos nós e, principalmente os brasileiros, temos muito a perder com isso e, no atual regime político e econômico, não estamos conseguindo alertar o governo de uma forma construtiva sobre os riscos que estão pela frente”.
Estrangeiro vem
Com relação aos estrangeiros, o gestor acredita que pelas dimensões do país e sua população de 200 milhões de pessoas, o investimento direto estrangeiro continuara vindo. Além disso, há a visão de que, se o país não caminha para reformas estruturais como fizeram México, Chile ou Colômbia, “tampouco iremos para o caminho da Argentina ou da Venezuela”. Assim, as políticas brasileiras, tanto externas quanto internas, sofreriam de “transtorno bipolar”.
Por isso, o volume de investimentos estrangeiros destinados ao país está estagnada num nível alto, sem saídas significativas até o momento.