Opep: "Depois do fiasco de Doha, me parece muito improvável que se acordem novas medidas para controlar a oferta" (Joe Klamar/AFP)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2016 às 14h37.
Com um barril perto dos 50 dólares, a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reunirá sob menor pressão na ministerial dessa quinta-feira, em Viena, onde se espera que mantenha sua política de produzir ao máximo.
Os preços têm se recuperado com firmeza desde que atingiu os 26 dólares o barril em janeiro deste ano.
Agora, a grande maioria dos analistas espera que o cartel de 13 países mantenha continue bombeando a pleno vapor, sobretudo após o fracasso da reunião de 17 de abril em Doha com produtores não membros da Opep, em que se pretendia congelar a produção para sustentar os preços.
"Depois do fiasco de Doha, me parece muito improvável que se acordem novas medidas para controlar a oferta", disse à AFP Bill Farren-Price, da consultoria britânica Petroleum Policy Intelligence.
Desde o final de 2014, a Arábia Saudita, o membro mais influente da OPEP, se nega a reduzir a produção, preferindo defender suas fatias de mercado dos produtores americanos de petróleo de xisto.
A persistência dos preços baixos provocaram grandes déficits nas monarquias petroleiras do Golfo e castigou duramente a economia venezuelana, que obtém das exportações de petróleo 96% de suas receitas em divisas.
O mercado espera agora que o excesso de oferta seja reabsorvida na segunda metade do ano, e tanto a Agência Internacional de Energia (AIE) como a Opep preveem uma menor produção dos dpaíses não membros do cartel.
"De forma geral, se acredita que o mercado se equilibrará em um dado momento", o que dará ainda menos incentivos à Opep para congelar sua produção, comenta Alexander Poegl, analista da JBC Energy.
A Opep, que bombeia aproximadamente 30% do petróleo mundial, extraiu 32,44 milhões de barris diários (mbd) em abril, depois dos 32,25 mbd de março, segundo dados do cartel publicados em maio.
Novo ministro saudita
O bloqueio das negociações para congelar a produção, opção defendida pela Venezuela nesses últimos meses, se chocou com a rivalidade entre Arábia Saudita e Irã.
Após o acordo internacional sobre seu programa atômico, Teerã está se esforçando em recuperar os níveis de produção anteriores à imposição de sanções há uma década, e a partir do verão (boreal) tem o objetivo de exportar 2,2 mbd.
Riad, no entanto, já deixou claro que não consentirá congelar a produção caso isso também não seja feito pelo Irã. Por iniciativa do vice-herdeiro do trono Mohamed Ben Salman, o reino anunciou recentemente um ambicioso plano de reforma que tende a reduzir sua dependência do petróleo.
Entre janeiro e abril, sua produção foi de em média 10,13 mbd, uma alta de 3,5% em relação ao mesmo período de 2015.
Para Helima Croft, que dirige a divisão de matérias-primas de RBC Capital Markets, nada indica que a Arábia Saudita vá abandonar neste momento a guerra de desgaste iniciada no fim de 2014.
"O príncipe Ben Salman parece especialmente concentrado em seu esforço de reforma econômica de grande escala, e não muito afetado pelo atual panorama de preços", avaliou.
Nesse contexto, "o mais interessante (na reunião de quinta-feira) é que a delegação saudita será diferente em relação à última vez", após a saída em maio do veterano Ali al Naimi, ministro do Petróleo durante mais de 20 anos, indica Poegl.
Para alguns analistas, essa remodelação não mudará a política energética saudita, a não ser no plano da comunicação.
Com novo titular, Jaled al Faleh, a política energética do reino "se tornou mais transparente do que na época de Al Naimi", que "sempre foi muito diplomático e muito cuidadoso com as palavras que escolhia", explica Poegl.