“É importante ficar atento em situações de alavancagem, ainda mais quando todo mundo está apostando que o mercado vai na mesma direção", diz o CEO (Ohmresearch/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 3 de abril de 2021 às 09h00.
Nesta semana, alguns dos maiores bancos do mundo sofreram perdas gigantescas que podem chegar a 10 bilhões de dólares. O motivo? As instituições emprestaram dinheiro para a firma de investimentos privada Archegos Capital Management, que desmoronou após tomar mais risco do que deveria.
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“Foi um episódio de excesso de risco, no qual os bancos que estavam dando alavancagem para esse fundo poderiam ter prestado mais atenção”, afirma o CEO da Ohmresearch, Roberto Attuch, que tem mais de 25 anos de experiência na área de pesquisa de ações em bancos estrangeiros.
Até o momento, os maiores afetados foram Credit Suisse e Nomura. O banco suíço pode perder entre 3 e 4 bilhões de dólares com o episódio, e suas ações desabaram 18,52% na bolsa desde segunda-feira, 29. O prejuízo do japonês Nomura ronda 2 bilhões de dólares, e os papéis do banco acumulam queda de 20,6% nesta semana.
A Archegos operava com alavancagem, ou seja, tomava capital emprestado para investir. Segundo Attuch, a prática é comum e não é um problema em si mesma, desde que o nível de risco seja condizente com a estrutura e a tolerância da empresa. Mas não parece ter sido esse o caso.
A empresa não conseguiu atender à chamada de margem de algumas de suas operações, levando à liquidação antecipada de posições em mais de 20 bilhões de dólares em ações de empresas como a Viacom e a Baidu.
Vale lembrar que a margem é um valor exigido como garantia para operações alavancadas. Quando esse valor atinge um limite, ocorre a “chamada” para cobrir o risco, forçando o investidor a colocar mais dinheiro para cobrir o risco do investimento.
“É importante ficar atento em situações de alavancagem, ainda mais quando todo mundo está apostando que o mercado vai na mesma direção", argumenta o CEO.
Confira abaixo a entrevista completa à Exame Invest:
A derrocada do Archegos foi um caso fora da curva?
Esse tipo de episódio sempre está sujeito a acontecer no mercado, ainda mais em um cenário em que se tem cada vez mais investidores e fundos buscando risco. A operação de prime brokerage, em que os bancos oferecem alavancagem para hedge funds fazerem suas negociações, tem esse risco.
É algo que acontece normalmente quando o mercado cai ou quando existe uma volatilidade muito grande em algum ativo. Não foi o caso. Foi um episódio de excesso de risco, no qual os bancos que estavam dando alavancagem para esse fundo poderiam ter prestado mais atenção.
O que favorece o ambiente geral de risco?
São dois fatores: a recuperação da economia e a sinalização do Fed [banco central americano] de que não vai subir a taxa de juros, o que gera um ambiente de crescimento sincronizado. Economia crescendo e política monetária expansionista levam naturalmente à maior tomada de risco.
A vacinação está muito avançada nos Estados Unidos e isso contribui para que os investidores apostem na retomada da economia. Além disso, o Fed sinalizou em sua última reunião que não vai subir os juros nos próximos dois anos, então o incentivo para que o mercado inteiro tome muito risco é bastante alto.
Quais as consequências? É um sinal de alerta para os investidores?
A consequência é que o preço dos ativos continue subindo. Mas a conclusão é óbvia: sempre que o mercado sobe, na sequência existe algum tipo de correção. É importante ficar atento com alavancagem em situações como essa, ainda mais quando todo mundo está apostando que o mercado vai na mesma direção.
A busca por opções mais arriscadas favorece ativos de países emergentes. O Brasil tem aproveitado esse movimento?
É algo que poderia estar significando muito mais para o Brasil, mas no momento impacta pouco. O país está bem fora do radar dos investidores estrangeiros por uma série de motivos, sendo o principal deles a questão fiscal, que ainda não foi resolvida.
Para onde os investidores estão olhando?
O ambiente em que as pessoas estão tomando mais risco vai continuar por um bom tempo, então devemos ver cada vez mais investidores saindo do mercado americano e migrando para investimentos na Europa e na Ásia – aqui pensando principalmente em Japão, Coréia e China. No caso da Europa, o fluxo de investimentos deve se fortalecer ainda mais com a vacinação ganhando mais espaço ao longo dos próximos meses. É uma diversificação geográfica.