Jerome Powell, presidente do Federal Reserve: (SAUL LOEB/AFP//Getty Images)
Repórter
Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 14h25.
As sinalizações do Federal Reserve (Fed) deram um fôlego extra ao rali para ativos de risco no mercado financeiro, motivado pela perspectiva de queda de juros nos Estados Unidos. Em coletiva de imprensa realizada após o Fed manter o juro inalterado no maior patamar desde 2001, o presidente da instituição, Jerome Powell, admitiu pela primeira vez discussões sobre cortes de juros entre os membros do banco central americano.
"A questão de quando será apropriado começar a reduzir a quantidade de restrições políticas em vigor - isso começa a aparecer e é claramente um tópico de discussão no mundo e também uma discussão para nós na nossa reunião de hoje", disse Powell após a decisão de juros da semana passada.
O discurso inflamou as apostas por cortes de juros nos Estados Unidos. Em relatório trimestral de perspectivas, os membros do Fed colocaram três cortes de 0,25 ponto percentual para o ano que vem. Parte do mercado, porém, já vê espaço para seis cortes em 2024, iniciando em março.
A queda da inflação e sinais de desaceleração econômica, na visão de parte dos economistas, seriam suficientes para o Fed adotar uma abordagem mais branda. Mas, para Louis Gave, fundador da Gavekal Research, as razões para a guinada pró-cíclica do Fed têm mais bases políticas do que econômicas.
"No passado, o Fed normalmente esperava que as ações caíssem, ou que o desemprego aumentasse ou que o crescimento renascesse, antes de emitir sinais expansionistas. A este respeito, um ciclo de flexibilização do Fed, ainda hipotético, seria diferente dos seus antecessores, uma vez que seria provavelmente impulsionado mais pela política do que pela economia", afirmou Gave em relatório.
O efeito disso, segundo o economista, deve recair sobre os rendimentos títulos do Tesouro americano de longo prazo, mais sensíveis às perspectivas fiscais.
"Supondo que o Fed esteja a parecer pacífico mais por razões políticas do que por quaisquer preocupações macroeconómicas genuínas, o dólar deverá ficar mais fraco nos próximos meses."
Alguns fatores, segundo o economista, poderiam atenuar os efeitos da guinada expansionista do Fed sobre os títulos longos dos Estados Unidos. Entre ele, elenca, estaria uma política fiscal mais contracionista, na linha de proporcionar uma maior sustentabilidade fiscal. Mas Gave duvida disso. "Um aperto surpreendente na política fiscal dos EUA – pouco antes de uma eleição presidencial? Isso parece improvável."