Shopping da Multiplan: empresa deve continuar a reduzir seus descontos em aluguéis sem comprometer o custo de ocupação (Alberto Rocha/Folhapress)
Marília Almeida
Publicado em 21 de novembro de 2022 às 06h00.
A forte cobrança de aluguéis deve consolidar a recuperação dos shoppings brasileiros daqui para a frente apesar do cenário econômico desafiador, na visão dos analistas da Fitch Ratings.
Os aluguéis, segundo o relatório da agência internacional de avaliação de crédito, contribuirão para o aumento da geração de fluxo de caixa e o retorno dos indicadores de crédito aos patamares anteriores à pandemia das administradoras de centro de compras, como Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI3) e Aliansce Sonae (ALSO3).
Os shoppings brasileiros se recuperaram rapidamente de dois anos de fraco desempenho por conta da pandemia, explica a analista sênior da Fitch, Natália Brandão. “As vendas dos locatários superam as de 2019 desde o quarto trimestre de 2021, permitindo que as operadoras reduzam os descontos e reajustem os aluguéis pela inflação.”
No longo prazo os números do setor devem registrar trajetória positiva, devido à tendência de maiores áreas destinadas a serviços, lazer e alimentação. A pandemia aumentou o número de canais de e-commerce, mas, como reação, as operadoras têm explorado parcerias para direcionar o tráfego de clientes para os shoppings.
A Fitch espera que investimentos, fusões e aquisições sejam retomados após anos de baixa atividade. A retomada, contudo, deve ser gradual, considerando as altas taxas de juros.
Veja abaixo a análise do balanço das principais operadoras de shoppings no terceiro trimestre:
As empresas, em processo de fusão, aprovada pelo Cade na sexta-feira, 18, seguiram mostrando, no 3º trimestre, recuperação operacional e melhorias em todos os indicadores, mas ainda aquém dos pares com portfólio mais voltados para classe A e B (Multiplan e Iguatemi), segundo analistas da Genial.
Apesar do bom desempenho, o crescimento de vendas desacelerou para ambas, aumentando 17,7% (contra 18,8% no trimestre passado) para brMalls e 17% (contra 21% no 2º trimestre) para Aliansce Sonae. Mas em compensação parte do portfólio da Aliance Sonae apresenta crescimento muito superior à média da companhia. Um exemplo é o Shopping Leblon, onde as vendas cresceram 40,5% contra o terceiro trimestre de 2019.
O crescimento das vendas tem permitido o repasse contratual do aumento de aluguel sem muitos descontos. Os aumentos, no entanto, não são excessivos, visto que o custo de ocupação dos lojistas já está em linha com os níveis pré-pandemia: atingiu 11% (Also) e 11,2% (brMalls). A taxa de ocupação da Aliansce Sonae atingiu a máxima histórica de 97%, enquanto brMalls atingiu 96,8%.
Tudo isso permitiu às companhias uma recuperação de valores atrasados, o que resultou em uma inadimplência negativa de -2,5% (brMalls) e -0,9% (Aliansce).
Analistas da Credit Suisse destacam a manutenção do crescimento das vendas da administradora, que cresceram 26% de julho a setembro contra o mesmo trimestre de 2019, para R$ 4,7 bilhões, ainda que pouco abaixo do crescimento visto no 2º trimestre contra o mesmo trimestre de 2019 (aumento de 29%), com destaque para o setor de vestuário. Em relatório, eles apontam que a empresa deve continuar a reduzir seus descontos em aluguéis sem comprometer seu custo de ocupação.
O desempenho reforça o momento positivo do consumo no país, especialmente shoppings voltados para classes com maior renda. A visão do banco para o segmento é construtiva e, após os resultados registrados no trimestre, mantém o rating de alto desempenho para a empresa.
Os resultados da administradora veio em linha com a expectativa dos analistas do Goldman Sachs. As receitas com aluguéis e estacionamento atingiu R$ 256 milhões, enquanto a ocupação aumentou de 92,6% para 93,2%. Os custos de ocupação ficaram em 12,2%, em linha com a média de 2014 a 2019 para o trimestre.
O banco mantém a sua recomendação de compra para as ações do Iguatemi, pois acredita que o mercado ainda deve precificar o valor justo dos shoppings da administradora, focados nas classes AAA e A e que negociam a 9,2x o valor da empresa. O preço-alvo para a ação em 12 meses é R$ 28.