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Setembro traz desafios, mas bolsa pode ter ficado barata

Apesar da expectativa de alta de juros e as incertezas no cenário doméstico, a correção dos últimos meses deixou 'oportunidades seletivas' com preços atrativos, segundo especialistas

Para especialistas, correção pode ter deixado ações baratas, mas incertezas no cenário interno pedem cautela (Germano Lüders/Exame)

Para especialistas, correção pode ter deixado ações baratas, mas incertezas no cenário interno pedem cautela (Germano Lüders/Exame)

PB

Paula Barra

Publicado em 2 de setembro de 2021 às 08h42.

Última atualização em 2 de setembro de 2021 às 10h48.

O mês de setembro será desafiador para os mercados. O ambiente interno é apontado como um dos principais riscos, diante de uma possibilidade de acirramento do clima político e incertezas fiscais. No entanto, olhando para a Bolsa, o movimento de correção nos últimos meses (queda de mais de 8% do Ibovespa desde o topo histórico, no início de junho) pode ter deixado as ações baratas, abrindo algumas oportunidades, apontam os especialistas.

“O mês será desafiador porque devemos ver uma intensificação do clima político. Mas, por outro lado, quando se trata de renda variável no sentido agregado, vimos que os preços já caíram para patamares bem baixos. Portanto, apesar da perspectiva de juros para cima, vale a pena ficar de olho em alguns grupos de ativos ou ações que caíram muito”, comentou André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. 

Para ele, o humor do mês ficará muito vinculado ao dia 7 de setembro, quando estão previstas manifestações pró e contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. “A depender do que acontecer, podemos ver um forte aumento do tensionamento político e isso tem cobrado um preço na curva de juros”. 

Basta reparar na disparada dos juros pagos nos títulos públicos do governo. Os indexados ao IPCA com vencimentos em 2026, por exemplo, eram negociados com juros reais de 2,3% no início do ano, ou seja, descontando a inflação esperada no período. Ontem, fecharam a 4,44%. Já as taxas dos prefixados para o mesmo ano saltaram de 6,4% para 9,9%. 

Outro ponto de atenção é com a inflação. No dia 9, será reportado o IPCA de agosto. O número deve vir alto, tendo em vista a prévia da inflação (IPCA-15) divulgada na semana passada. Pesam também preocupações com a crise hídrica. Como desdobramento: o mercado deve elevar as apostas de uma alta de 1,25 ponto percentual na Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 21 e 22 deste mês.

Apesar das expectativas de alta de juros e as incertezas no cenário doméstico, o ambiente ainda é favorável para Bolsa. O ponto central é o preço.

"Temos uma situação desafiadora, mas, ao mesmo tempo, temos que ficar atento pois têm ações que ficaram muito baratas", disse Perfeito.

Gráfico que mostra a volatilidade do Ibovespa desde o fim de 2020 até agosto de 2021

Gráfico que mostra a volatilidade do Ibovespa desde o fim de 2020 até agosto de 2021 (Arte/Exame)

"Quem dormiu no dia 30 de dezembro e acordou em 31 de agosto, achou que não aconteceu nada na Bolsa porque o retorno no acumulado é praticamente zero. No entanto, nesse período, a Bolsa oscilou bastante [gráfico acima], o que acabou criando algumas assimetrias bem interessantes olhando para o médio e longo prazo", salientou Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator.

Correção abre oportunidades (mas as apostas são seletivas)

Dos seis especialistas consultados pela EXAME Invest, todos apontam que os preços das ações brasileiras ficaram aparentemente baratos. Mas, por conta da elevada incerteza, em especial no cenário doméstico, a busca por oportunidades deve ser seletiva.

"Temos um viés mais positivo para a Bolsa no médio prazo por conta dessas assimetrias. Algumas ações caíram demais, umas estão com retorno negativo de 30% a 40%, mas diante dessa volatilidade e das incertezas, esse viés tem que ser de 'stock picking' [seleção de ações]", disse Isabel.

Entre os setores que a gestora vê como mais atrativos no momento, ela destaca: varejo, serviços e industrial.

Bruno Lima, head de equity research do BTG Pactual digital, também apontou que espera que a volatilidade continue no mercado e que a correção em alguns papéis foi exagerada.

"Com isso, mantivemos um perfil um pouco mais defensivo na nossa carteira recomendada para o mês, seguindo com as ações de Rede D'Or (RDOR3) e Weg (WEGE3), por exemplo, mas colocamos também outros ativos de qualidade e que foram muito penalizados, como Magazine Luiza (MGLU3) e B3 (B3SA3)", comentou.  

Em 2021, os papéis de MGLU3 e B3SA3 acumulam quedas de 27% e 25%, respectivamente, aparecendo entre as 15 maiores desvalorizações do Ibovespa no período. 

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Abaixo, as ações com as maiores quedas do índice, até o momento, em 2021:

Gráfico com as ações do Ibovespa que mais caíram de janeiro a agosto de 2021

Gráfico com as ações do Ibovespa que mais caíram de janeiro a agosto de 2021 (Arte/Exame)

Além dos preços: balanços guiam otimismo

De acordo com Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos, as empresas listadas têm "feito sua parte", mas os ruídos políticos têm atrapalhado a Bolsa. "Os resultados do 2º trimestre foram muito bons e já temos visto revisões de lucro para cima". 

No atual patamar de preços, ele acredita que o viés é de alta para o Ibovespa em setembro. "Não acredito que tenhamos grande correção, mas parte disso é por conta do nível de valuation das empresas. Estão muito baratos, tendo em vista o preço sobre lucro (P/L) esperado pela frente. Agora, se tivermos novos eventos ou a inflação fugir do controle, aí setembro pode caminhar para outro lado".

"Uma vez que os impasses internos forem reduzidos, vemos amplo espaço para recuperação do mercado. Hoje, o investidor tem olhado mais a conjuntura do que o diferencial das empresas. Os balanços do 2º trimestre vieram bons e ainda não estão incorporados nos preços. No exterior, o mercado parece que está precificando isso melhor", apontou Rodrigo Oliveira, analista de investimentos da sim;paul.

Pesa também a favor do cenário mais construtivo para o mercado acionário brasileiro o retorno do fluxo de dinheiro estrangeiro em agosto. Após um julho fraco, o saldo estrangeiro em ações na B3 voltou a ficar positivo, retomando a tendência observada no segundo trimestre. No mês passado, encerrou positivo em 6,6 bilhões de reais, acumulando no ano compras líquidas de 46,3 bilhões de reais.

"Dando uma acalmada no ruído político e institucional, a Bolsa deve melhorar. Os investidores estão muito atentos ao dia 7 de setembro, se vai ter movimentos agressivos ou não. Não ocorrendo nada muito intenso, o mercado pode voltar a se animar porque os valuations estão muito descontados", avaliou Renan Vieira, sócio e gestor da Taruá Capital.

Para o fim do ano, ele vê o Ibovespa em 140 mil pontos, o que representaria uma alta de 17% frente ao fechamento de ontem. O alvo, no entanto, está condicionado ao respeito do teto dos gastos.

Os investidores aguardam por uma decisão sobre o novo programa social ampliado do governo e o pagamento de precatórios. "O mercado quer uma solução que respeite, tanto quanto possível, o teto de gastos. Essa decisão de preservar a regra do teto pode, por si só, ser suficiente para reacender a tendência de alta dos preços das ações", escreveram analistas do BTG Pactual digital em relatório.

"Temos um cenário muito bom lá fora. A postura 'dovish' de Jerome Powell [presidente do Federal Reserve] em Jackson Hole ajudou. Mas, infelizmente, não está repercutindo aqui por conta da questão política e fiscal. No entanto, passado isso e assumindo que não vamos ver nenhuma ruptura institucional, o cenário é outro. Estamos muito otimistas com os resultados do 3º trimestre das empresas", reforçou Vieira.

 

 

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