Ambev: resultados abaixo do esperado por grande parte do mercado (Jonne Roriz/Bloomberg via/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 12h12.
Última atualização em 1 de novembro de 2024 às 11h02.
Num cenário muito mais complexo de competição, a Ambev tem, agora, de convencer os investidores de que há uma história de crescimento à frente. Mas a divulgação do balanço do terceiro trimestre nesta quinta-feira deixou a sensação de ressaca no mercado.
O lucro da dona da Brahma e da Skol caiu 11% no terceiro trimestre, para R$ 3,57 bilhões, afetado especialmente pela despesa com imposto de renda diante da menor dedutibilidade de subvenções governamentais e dos juros sobre capital próprio (JCP).
As tendências mais fracas de volume e preço no setor de cervejas no Brasil, seu principal mercado, ressaltam um ambiente competitivo em deterioração, o que vem sendo o principal foco dos investidores, observa o time do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame).
No negócio de Cervejas Brasil (48% do EBITDA trimestral), a Ambev registrou um crescimento de volume de apenas 0,6% em relação ao ano anterior, 3% abaixo da estimativa revisada do BTG. "Isso sugere que a Ambev perdeu participação de mercado de forma sequencial", escrevem Thiago Duarte e Guilherme Guttilla.
As marcas premium cresceram mais de 20% em relação ao ano anterior. Não pareceria tão ruim se a premiumização e o mix tivessem levado a um preço médio mais robusto, mas não foi o caso, coo destacam os analistas.
A receita por hectolitro aumentou apenas 2,6% em relação ao ano anterior e ficou estável em relação ao trimestre anterior, indicando que não houve uma temporada de reajuste de preços. "Os descontos como porcentagem das vendas brutas atingiram o nível mais alto desde o início da pandemia, o que reflete um cenário competitivo agressivo."
A Ambev conseguiu um crescimento forte desde 2020 não só para as marcas premium como Corona e Spaten, mas também para rótulos mais mainstream como Brahma e Skol, que tinham conseguido ganhar fatias de mercado na fraqueza da Petrópolis, que entrou em em recuperçaão judicial.
Mas a dona da Itaipava conseguiu aproveitar o momento de proteção contra os credores para adotar uma estratégia mais agressiva de preços ao longo desse ano -- o que está surtindo efeito. Tanto Ambev quanto Heineken viram seus volumes crescerem abaixo do previsto e seus rótulos mais populares perderem share para a Itaipava.
"Com a Petrópolis reagindo, a Ambev pode perder parte do espaço nas prateleiras que uma vez recuperou. É neste momento que a qualidade do portfólio, a distribuição e o acesso aos canais (incluindo as ferramentas digitais BEES e Zé) serão testados. A Ambev fala sobre o valor de marca estar no nível mais alto para várias de suas marcas, mas isso só faz sentido se puderem reacender o poder de precificação. Com base nos resultados do terceiro trimestre, isso não aconteceu", escreve o BTG.
A política de preços da Petrópolis não deve encontrar fôlego por muito tempo, mas pode ser o suficiente para comprometer o crescimento da Ambev à frente, num momento em que mudanças tributárias e dificuldades nos outros mercados deixam a operação de cerveja no Brasil muito mais relevante para o consolidado.
Mais otimista com o papel, o time do Citi, que mantém recomendação de compra, destacou o ganho na margem Ebitda da operação de Cerveja Brasil. "Os destaques operacionais positivos foram: as margens de EBITDA no setor de cervejas no Brasil, que aumentaram em +100bps em comparação com as estimativas do Citi, impulsionadas por vantagens de preços de commodities protegidos e expansão de SG&A menor do que o esperado", escrevem os analistas. Além disso, segundo o time, a unidade de países da América do Sul registrou um crescimento de volumes de 6% em relação às estimativas do Citi.
Já o time do Santander, reiterou a recomendação de neutro em Ambev, considerando uma generação de caixa forte, apesar das condições operacionais mais desafiadoras.
Junto aos resultados, a Ambev informou que seu conselho aprovou um novo programa de recompra de até 155 milhões de ações, o que ajudou a ação a reduzir as perdas do começo do pregão diante da possibilidade de uma mudança mais profunda na remunerçaão do acionista. A ação chegou a cair quase 3% logo após a abertura, mas dimiecomnuiu a perda e perto das 12h, caía 1,08%.
"No entanto, após acumular uma posição de caixa líquido de R$17,5 bilhões até setembro de 2024 (0,7x EBITDA nos últimos 12 meses) e com mais capital esperado devido à geração de caixa sazonalmente mais forte no quarto trimestre, não vemos uma recompra de ações de R$2 bilhões como algo que mova a estrutura de capital significativamente. Somado à distribuição de dividendos esperada, estamos olhando para um retorno de 7-8% para os acionistas neste ano. É bom, mas não acreditamos que isso mudará estruturalmente o sentimento em relação às ações", escreve o time do BTG.