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Seja Kamala ou Trump, a política fiscal dos EUA continuará expansionista, diz Gavekal

Em relatório, o CEO e fundador da casa ainda explica que, caso o republicano vença, há incertezas sobre a permanência Powell como presidente do Fed

Eleições americanas: para Gavekal, ambos os candidatos terão uma política fiscal expansionista (Logan Cyrus and RONDA CHURCHILL/AFP)

Eleições americanas: para Gavekal, ambos os candidatos terão uma política fiscal expansionista (Logan Cyrus and RONDA CHURCHILL/AFP)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 2 de novembro de 2024 às 09h48.

Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 08h01.

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A falta de discussões sobre os déficits orçamentários e a elevada dívida do governo dos Estados Unidos durante a campanha presidencial - de ambos os candidatos - preocupa Louis Gave, fundador e CEO da Gavekal, casa renomada de análise internacional. Seja quem for, Kamala Harris ou Donald Trump, para ele, “a política fiscal dos EUA continuará expansionista por muitos anos.”

O economista afirma, em relatório, que a “dívida descontrolada”, gerada pelo crescente abismo entre a receita e os gastos do governo, não parece preocupar nenhum dos dois candidatos.

Durante a campanha, Gave nota que apenas os habituais clichês sobre cortar desperdícios do governo e fazer com que os ricos "paguem sua parte justa" vêm sendo entoados pelos candidatos.

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Para ele, o resultado da ausência de preocupação será uma perpetuação de uma política fiscal inflacionária.

Mas há um cenário de exceção: um presidente democrata (no caso, uma) com uma Câmara (e talvez Senado) republicano. “A história dos EUA ensina que os republicanos lembram que são o partido da retidão fiscal quando um democrata ocupa a Casa Branca e eles controlam o Congresso”, diz.

Nesses momentos, segundo ele, os republicanos da Câmara e do Senado buscam congelar os gastos do governo, pelo menos até que um republicano seja eleito para a presidência.

Entretanto, essa situação parece pouco provável e, a partir disso, Gave projeta quatro cenários para responder à questão: “Como o Federal Reserve (Fed, banco central americano) reagirá à promessa de uma política fiscal cada vez mais flexível?”

Já na semana que vem, no dia 6 de novembro, um dia após as eleições, o Comitê de Política Aberta (FOMC, na sigla em inglês) irá se reunir para decidir a próxima taxa de juros, que atualmente está na faixa entre 4,75% e 5%.

Se Kamala vencer, na visão de Gave, o Fed poderia optar por ficar inativo, indicando que esperará para ver o que o governo Harris entrega em termos de política fiscal antes de agir.

“Os democratas dificilmente poderiam criticar o Fed por exercer sua autonomia, dado que um dos seus grandes pilares é que uma presidência Trump ameaçaria a independência do banco central”, explica.

Se isso acontecer, segundo o executivo, o Fed pode nem mesmo sentir-se obrigado a realizar o corte de novembro que atualmente está precificado, ou pode realizar o corte e sinalizar que cortes adicionais serão ‘dependentes de dados’.

“Esta seria uma maneira educada de convidar a Casa Branca e o Congresso a trabalharem juntos para controlar a situação fiscal. Com tudo o mais igual, esse cenário pareceria ser positivo para o dólar dos EUA e possivelmente para os títulos do Tesouro e as ações de crescimento dos EUA”, diz.

Já no cenário em que Trump é eleito, Gave prevê uma postura diferente do Fed. Provavelmente, haverá cortes nos juros em novembro e dezembro - não por necessidade econômica, mas para evitar acusações de interferência política.

Trump e Powell

Em uma vitória do republicano, o CEO da Gavekal destaca mais uma incerteza: se Jerome Powell escolherá permanecer como presidente do Fed. Para relembrar, durante o primeiro mandato de Trump, o relacionamento entre ambos foi “notoriamente tenso.”

O conflito se intensifica ainda mais, já que Trump deixou claro que não tem intenção de indicar Powell para outro mandato.

“Para Powell, a tentação deve ser forte para convocar uma coletiva de imprensa no convés de um porta-aviões dos EUA, desenrolar um banner proclamando ‘missão cumprida’, dar tapinhas nas costas de si mesmo e do Fed por ter reduzido a inflação para perto de 2% após os choques de oferta da Covid.”

Desse conflito, a Gavekal prevê dois subcenários. Caso Powell corte as taxas em novembro e renuncie na sequência, o mercado começará a precificar a provável combinação de política fiscal e política monetária muito flexíveis.

O dólar enfraquece, os títulos do Tesouro dos EUA caem, o ouro continua a atingir novas máximas, o setor financeiro supera o de tecnologia, o valor supera o crescimento e as ações estrangeiras provavelmente superam as ações dos EUA.

Ou Trump vence, e Powell adota uma postura mais agressiva contra o endividamento federal. Neste caso, Gave alerta para um possível "efeito Alemanha dos anos 1990": uma valorização do dólar semelhante à do marco alemão, que atraiu capital europeu e pressionou moedas vizinhas.

“Poderia a combinação de uma política fiscal dos EUA drasticamente flexível e uma política monetária dos EUA rígida levar o dólar dos EUA a novas alturas? Se sim, isso forçaria outros países a aceitarem taxas de câmbio mais fracas, como o Reino Unido, Itália e Suécia fizeram nos anos 1990, ou a se ajustarem por meio da deflação, como a França teve que suportar.”

Neste cenário de valorização da divisa americana, os investidores iriam se contentar com títulos do Tesouro dos EUA, dólar e empresas de crescimento. Porém, como a maioria das carteiras já leva esses ativos - e uma “briga” estaria declarada entre a Casa Branca e o Fed - investidores poderiam preferir países como China, Indonésia e México, onde “as políticas fiscais e monetárias parecem estar remando na mesma direção.”

“Se Trump vencer no dia 5 de novembro, monitorar o relacionamento entre Trump e Powell será fundamental para qualquer um que ainda esteja marcado pela experiência monetária de Pöhl, na Alemanha.”

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