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Seis calotes em série abalam mercado de títulos da América Latina

Operadores estão quase certos de que três países vão deixar de pagar a dívida novamente, como sinalizado pelos preços dos títulos

Os países que entraram em default há muito tempo mostram finanças frágeis, e poucos analistas veem as principais economias da região (Ricardo Ceppi/Getty Images)

Os países que entraram em default há muito tempo mostram finanças frágeis, e poucos analistas veem as principais economias da região (Ricardo Ceppi/Getty Images)

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Bloomberg

Publicado em 12 de maio de 2021 às 14h46.

Última atualização em 12 de maio de 2021 às 15h37.

Os calotes de títulos soberanos crescem em ritmo vertiginoso na América Latina desde o início da pandemia. Primeiro foi a vez do Equador, depois a Argentina, Suriname, Belize, depois Suriname novamente e Suriname mais uma vez.

No total, mais de 80 bilhões de dólares em títulos estrangeiros foram reestruturados. E mais problemas estão por vir.

Operadores estão quase certos de que três desses países vão deixar de pagar a dívida novamente, como sinalizado pelos preços dos títulos, e o quarto, o Equador, está longe da estabilidade financeira. Também há o caso da Venezuela, inadimplente há tantos anos que os credores se resignaram a recuperar apenas uma pequena parte de seu dinheiro, se for possível.

Tudo isso torna o momento atual um pouco parecido à “década perdida” dos anos 80, quando países altamente endividados da América Latina entraram em default um após o outro e suas economias mergulharam em recessões prolongadas que agravaram a pobreza.

Embora seja improvável que desta vez seja tão ruim -- em parte porque o aumento dos preços de commodities proporciona ganhos financeiros --, nenhum mercado de títulos no mundo em desenvolvimento foi tão afetado pela pandemia quanto o da América Latina.

Abalada por ondas intermináveis de Covid-19 e paralisia econômica, a região se tornou exemplo no estudo de como o coronavírus aprofundou a divisão entre países ricos e pobres. A difícil situação da região traz um senso de urgência aos apelos de círculos políticos em Bruxelas e Washington para fornecer mais alívio às nações em desenvolvimento, depois que líderes do G-20 concederam moratória temporária para certas dívidas.

Em junho, o conselho do Fundo Monetário Internacional vai avaliar a proposta para liberar outros US$ 650 bilhões em financiamento para países em dificuldades. Siobhan Morden, analista de Wall Street especializada em dívidas de mercados emergentes nas últimas três décadas, diz que os fundamentos econômicos na América Latina são tão fracos que “até mesmo os países mais fortes estão em dificuldade”.

“É uma dinâmica difícil”, diz Morden, que supervisiona a estratégia de renda fixa para a América Latina na Amherst Pierpoint. Por um lado, os investidores de títulos exigem disciplina fiscal para garantir a sustentabilidade da dívida de longo prazo; por outro, os governos estão ansiosos para aumentar os gastos em programas sociais e médicos muito necessários. “Os dois são incompatíveis.”

“Agências de classificação de risco e observadores de títulos estão bastante nervosos com o risco dos pagamentos”, diz Morden, “e isso tem um impacto duradouro”. As razões dessa angústia são evidentes. Alguns dos maiores nomes das finanças internacionais - BlackRock, Fidelity, Ashmore, Greylock - foram atingidos pelos defaults da Argentina e do Equador. E os retornos dos ativos na região em geral têm sido desanimadores.

Títulos em dólar emitidos por governos latino-americanos mostram o pior desempenho entre regiões de mercados emergentes monitoradas pelo JPMorgan Chase em quase qualquer período recente, que inclui baixa de 3,1% este ano. As ações da região, acompanhadas pela MSCI, seguem uma tendência semelhante que remonta a uma década. E várias das moedas da América Latina estão entre as maiores perdedoras no mundo em desenvolvimento neste ano.

Pesquisa recente do HSBC com gestores de ativos ilustrou o clima sombrio. Dos 164 pesquisados, apenas 43% disseram ter posições com recomendação acima da média na América Latina em relação a 70% em janeiro.

Os países que entraram em default há muito tempo mostram finanças frágeis, e poucos analistas veem as principais economias da região -- Brasil, México, Chile, Colômbia, Peru -- afundando numa crise financeira no curto prazo. São países com sólidas reservas de moeda forte, acesso a mercados de dívida que bancos centrais globais inundaram de dinheiro e se beneficiam da crescente demanda global por exportações de commodities.

Mas, mesmo nesses países, os sinais de estresse aumentam. Os ativos chilenos despencaram recentemente, depois que trabalhadores obtiveram permissão para fazer saques dos fundos de pensão pela terceira vez desde o início da pandemia.

Os títulos peruanos se recuperaram um pouco, mas ainda estão entre os com pior desempenho nos mercados emergentes neste ano, com a liderança do candidato marxista nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais. Na Colômbia, as tentativas do governo de aumentar os impostos foram respondidas com protestos violentos nas ruas, o que obrigou as autoridades a recuar.

No Brasil e no México, o custo para o financiamento em dólar dos governos aumentou em relação a países com condições semelhantes em outras partes do mundo.

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