Mercados

Seca das emissões de dívida completa dois meses com taxas altas

O receio de que a crise europeia esteja levando a uma piora da desaceleração sufocou a demanda de investidores por ativos de mais alto rendimento de mercados emergentes

A última empresa brasileira a fazer uma captação em dólar no exterior foi a Queiroz Galvão Óleo e Gás SA, fornecedora de plataformas de perfuração para a Petróleo Brasileiro SA (AFP)

A última empresa brasileira a fazer uma captação em dólar no exterior foi a Queiroz Galvão Óleo e Gás SA, fornecedora de plataformas de perfuração para a Petróleo Brasileiro SA (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2011 às 09h06.

Nova York e São Paulo - A aridez que tomou conta do mercado de emissões de dívida de empresas brasileiras no exterior já atinge o período mais longo em dois anos e meio. A ameaça de uma crise bancária na Europa eleva as taxas pedidas pelos investidores.

Não há novas ofertas denominadas em dólar de empresas brasileiras no exterior desde 20 de julho, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento médio dos títulos de dívida corporativa de companhias do País deu um salto de 89 pontos-base, ou 0,89 ponto percentual, desde o fim de julho, para 6,62 por cento, segundo o JPMorgan Chase & Co. As taxas dos papéis da dívida privada mexicana subiram 100 pontos-base no mesmo período, enquanto o rendimento de papéis corporativos da Rússia teve um ganho de 183 pontos-base.

O receio de que a crise da dívida europeia esteja levando a uma piora da desaceleração global sufocou a demanda de investidores por ativos de mais alto rendimento de mercados emergentes.

“As pessoas não estão procurando títulos de dívida para comprar, elas estão olhando o que podem vender para transformar em caixa e proteger a si mesmas”, disse Juan Cruz, analista de dívida corporativa do Barclays Plc, em Nova York, em entrevista por telefone. “Você não vai ver o mercado primário explodir até que vejamos estabilidade nos mercados.”

O rendimento médio da dívida do governo brasileiro em dólar subiu 16 pontos-base desde o fim de julho, para 4,89 por cento, de acordo com índices do JPMorgan.

A última empresa brasileira a fazer uma captação em dólar no exterior foi a Queiroz Galvão Óleo e Gás SA, fornecedora de plataformas de perfuração para a Petróleo Brasileiro SA, que emitiu US$ 700 milhões em títulos com vencimento em 2018 a uma taxa de 5,37 por cento em 20 de julho. O rendimento dos papéis avançou 112 pontos-base desde a emissão, para 6,49 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

‘Bem mais tempo’

Gorky Urquieta, que ajuda a administrar cerca de US$ 15 bilhões em ativos de mercados emergentes na ING Investment Management, não espera recuperação das emissões até que diminuam os receios dos investidores com a crise da dívida na Europa e com a desaceleração da economia global.

“A menos que as condições melhorem, essa janela pode não se abrir, então a escassez de emissões pode continuar por bem mais tempo”, disse Urquieta em entrevista por telefone de Atlanta.


A Centrais Elétricas Brasileiras SA, maior empresa do setor de eletricidade da América Latina com ações negociadas em bolsa, contratou em agosto o Credit Suisse Group AG e o Banco Santander SA para coordenar uma oferta de títulos denominados em dólar, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. O rendimento dos títulos da Eletrobras com vencimento em 2019 subiu 37 pontos-base nos últimos 30 dias, para 4,85 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A assessoria de imprensa da Eletrobras não respondeu aos pedidos de comentários feitos por e-mail e telefone.

O Minerva SA, terceiro maior frigorífico brasileiro com ações negociadas em bolsa, fez reuniões com investidores do mercado de renda fixa este mês. A taxa dos títulos da companhia com vencimento em 2019 subiu 490 pontos-base nos últimos 30 dias, para 14,52 por cento, de acordo com dados da Bloomberg.

Planos do Minerva

O presidente do Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, disse ontem em entrevista por telefone de São Paulo que a empresa não planejava emitir títulos quando seus executivos se reuniram com investidores em cidades incluindo Santiago, Los Angeles, Londres, Nova York e Boston no início do mês. A companhia pensaria sobre uma possível venda de papéis se houver melhora nos mercados, disse ele.

O Minerva tem caixa suficiente para cobrir os R$ 500 milhões em dívidas que vencem até o fim de 2012, disse Queiroz.
As empresas brasileiras vão aumentar as ofertas quando o cenário mundial melhorar, disse Alexei Remizov, chefe de mercado de capitais do Brasil no HBSC Securities em Nova York.

“O pipeline de operações está crescendo”, disse Remizov. “Quando uma janela de oportunidade se abrir, poderemos ver muita movimentação.”

As bolsas globais tiveram ontem a maior alta em seis semanas, diante dos progressos da Grécia em atender exigências para receber mais ajuda internacional e da promessa da Alemanha de continuar apoiando o país.

‘Solução permanente’

O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse que a empresa não pretende fazer emissões em dólar neste ano, depois da captação de US$ 6 bilhões em janeiro. A empresa pode considerar realizar “operações jumbo” em outras moedas, mas somente se as condições de mercado melhorarem, disse ele. “Nós não temos pressa e não precisamos aceitar nenhum aumento de custo, pois temos US$ 30 bilhões em caixa”, disse Barbassa em entrevista por telefone de Brasília.

O Banco Central Europeu teria que encontrar uma “solução permanente” para a crise de dívida da região para que a perspectiva da economia mundial melhore e a demanda por títulos de mercados emergentes, como os do Brasil, seja retomada, disse Cruz, do Barclays.

“Não parece que estamos sequer perto disso no curto prazo”, disse ele.

Acompanhe tudo sobre:Crises em empresasDívida públicaDívidas empresariais

Mais de Mercados

Boeing inicia demissões para reduzir 10% dos funcionários

Essa small cap “não vale nada” e pode triplicar de preço na bolsa, diz Christian Keleti

Morgan Stanley rebaixa ações do Brasil e alerta sobre ‘sufoco’ no fiscal

Petrobras: investimentos totais serão de US$ 111 bi até 2029 e dividendos vão começar em US$ 45 bi