Santander mira ROE de 20% e vê oportunidade em novo consignado privado (Itaci Batista/Estadão Conteúdo/Reprodução)
Repórter de mercados
Publicado em 30 de abril de 2025 às 16h16.
Em um cenário de alta de juros, o banco Santander Brasil (SANB11) estima que não terá um grande salto em faturamento em 2025, mas no médio prazo “a meta é atingir 20% de rentabilidade, acompanhada por um lucro maior”, disse Mario Leão, CEO do banco, em coletiva com jornalistas nesta quarta-feira, 30, após a divulgação de resultados.
Neste primeiro trimestre, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) da instituição subiu 3,3 pontos percentuais, atingindo 17,4% – acima do previsto pela maior parte dos analistas.
O CEO considera que o banco conseguiu manter um patamar de lucro e de rentabilidade compatível com o fim de 2024, a despeito do macro mais difícil no Brasil e no mercado internacional. Ele explica que a primeira fase das melhorias ocorreu no ano passado. Agora, é o momento de 'lapidação e execução' da estratégia Banco Santander 2030.
“O ano passado foi um ano de recuperação bem material de lucro e lucratividade. Então, é improvável que a gente tenha um aumento nesses indicadores compatível com o que foi em 2024 e em 2023”, afirmou o executivo.
Segundo ele, o ano de 2025 é de transição para todo o mercado. Um ano atrás os comentários eram de que a taxa Selic seria de 9%, já neste ano, caminha-se para uma taxa de 15%. O balanço do Santander reflete este cenário macroeconômico mais complexo, que implica na mudança na dinâmica de portfólio: capacidade das pessoas pagarem suas dívidas e de consumirem e a capacidade das empresas também bancarem suas dívidas.
Nesse cenário, a maior preocupação é com a qualidade da carteira. Embora o banco tenha como um de seus focos o crescimento da carteira de cartões — um produto tradicionalmente sem garantia —, a expectativa é priorizar, na margem, a expansão de linhas de crédito colateralizado, de menor risco.
“Estamos crescendo dois dígitos em cartões, gostaria de continuar crescendo e focar em cartão de crédito e limite em conta (antigo cheque especial). Mas os outros produtos são com garantia, como financiamento de veículo, consignado e crédito pessoal FGTS.”
Por dois anos, o consignado de INSS foi um dos portfólios que mais cresceu no Santander. Mas desde o terceiro trimestre de 2024, o banco pisou no freio e modalidade representa a menor parte de consignado na carteira da instituição financeira.
“A curva de juros de médio prazo, índice que usado para precificar o consignado, subiu muito mais do que o teto. Então, na prática, o spread ficou incompatível com a disciplina de gestão de portfólio, explica”
Nesse contexto, o novo crédito consignado privado para trabalhadores do setor privado, anunciado em março pelo governo federal, é visto como oportunidade.
“Somos líderes em consignado hoje em dia, mas o movimento do governo é correto. A amplificação de acesso é muito relevante, mesmo para nós, que já somos incumbentes. É um mercado de R$ 40 bilhões que pode, tranquilamente, chegar a R$ 200 bilhões, R$ 300 bilhões", afirma Leão.
Para o executivo, a iniciativa do governo, que visa a migração dos créditos sem garantia para o crédito consignado, é importante para evitar o ‘sobrendividamento’ das famílias.