Santander abre temporada de balanços para o setor bancário nesta quarta-feira (Angel Navarrete/Bloomberg)
Beatriz Quesada
Publicado em 28 de julho de 2021 às 06h05.
Última atualização em 28 de julho de 2021 às 06h59.
Para os bancos, a temporada de resultados do segundo trimestre de 2021 começa nesta terça-feira, 21, com a divulgação do balanço do Santander (SANB11) antes da abertura do mercado.
A expectativa é que o resultado dê o tom de recuperação moderada que deve estar presente nas divulgações dos grandes bancos: Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3). Estes últimos apresentam seus balanços ao longo da próxima semana.
Para os quatro maiores bancos do Brasil, as perspectivas são de uma alta média de 60% no lucro líquido do trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo estimativa do Goldman Sachs. Porém, na comparação trimestral, as projeções ficam estáveis ou negativas.
Bancos (R$ milhões) | Data da divulgação do balanço | Antes ou depois da abertura de mercado? | Consenso de mercado p/ lucro líquido do 2T2021 | Crescimento em relação ao 1T2020 | Crescimento em base anual |
Santander Brasil |
28/07 | Antes |
3,881 |
-4% |
79% |
Itaú Unibanco |
02/08 | Depois |
6,331 |
0% |
53% |
Bradesco |
03/08 | Depois |
6,596 |
0% |
68% |
Banco do Brasil |
04/08 | Antes |
4,566 |
-6% |
39% |
Fonte: dados da Bloomberg e da companhia compilados pelo Goldman Sachs |
A forte alta anual pode ser explicada pela base de comparação, que está baixa. Entre abril e junho de 2020, o Brasil enfrentava uma das fases mais agudas da crise causada pelo coronavírus e os grandes bancos amargaram reduções em torno de 40% em seu lucro líquido.
O grande vilão dos balanços era o saldo de provisões, utilizado para arcar com devedores duvidosos e inadimplentes, que se multiplicaram com a crise econômica. Hoje, os empréstimos para inadimplentes (NPLs, na sigla em inglês) ainda estão no radar, mas não são mais uma fonte de preocupação para os analistas.
“Os índices de inadimplência devem continuar a aumentar no segundo trimestre devido à recuperação ainda em curso dos serviços. No entanto, isso não deve exigir maiores despesas com provisões, graças aos índices de cobertura recordes [realizados no último ano]. Nesse ritmo, os índices de cobertura excedente continuarão a impulsionar os lucros até meados de 2022”, afirmam, em relatório, analistas do Itaú BBA.
Ainda assim, os desafios continuam. Os bancos devem apresentar altas modestas na comparação com o primeiro trimestre de 2021, com as margens financeiras ainda pressionadas e sem sinal de avanço.
Os analistas esperam uma retomada mais forte no segundo semestre como um todo, com o avanço da vacinação impulsionando a busca por crédito de maior rendimento. Além disso, o setor se beneficia da alta da Selic, que tem subido gradativamente ao longo do ano e deve encerrar 2021 em 7%, segundo as últimas projeções do Boletim Focus.
O risco é que os bancos não consigam retomar resultados do passado nos próximos meses, mesmo com condições mais favoráveis. “Uma falha em melhorar as margens de crédito prejudicaria as previsões de lucros, alimentando o argumento de que a compressão da margem dos bancos está relacionada à concorrência e à regulação, e não à redução da Selic”, diz o relatório do BBA.
A análise também chama a atenção para o fato de que o País deve entrar na fase 2 do Open Banking em agosto, aumentando a concorrência no segmento de crédito para os grandes bancos.
Apesar dos desafios, o Goldman Sachs avalia que os grandes bancos brasileiros estão sendo negociados abaixo de seus múltiplos históricos dos últimos cinco anos. O múltiplo Preço/Lucro (P/L), que calcula a relação entre o preço da ação e o lucro gerado pelo negócio, está em 4,4x no caso do Banco do Brasil, enquanto a média do período é de 7x.
Pesa ainda contra o banco estatal a ingerência do governo federal, que ficou explícita depois que o presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar o comando e tirar o então CEO André Brandão, cuja gestão era bem avaliada pelo mercado.
Da mesma forma, o Bradesco negocia com desconto de 11% em relação ao seu P/L médio dos últimos cinco anos, enquanto as ações de Itaú e Santander Brasil estão sendo negociadas com desconto de 8% e de 3%, respectivamente.
Considerando os papéis mais descontados, o Goldman tem preferência por ações do Banco do Brasil e Bradesco.
Ação/ Units | Preço atual* | Recomendação Goldman Sachs | Preço-alvo Goldman Sachs | Recomendação Itaú BBA** | Preço-alvo Itaú BBA |
Santander Brasil (SABN11) | R$ 41,20 | Venda | R$ 37 | Neutra | R$ 45 |
Itaú Unibanco (ITUB4) | R$ 29,82 | Neutra | R$ 31 | - | - |
Bradesco (BBDC4) | R$ 24,34 | Compra | R$ 30 | Compra | R$ 31 |
Banco do Brasil (BBAS3) | R$ 32,42 | Compra | R$ 44 | Venda | R$ 36 |
*Com base no fechamento de 27/07 | |||||
**Itaú BBA não pode comentar sobre as ações do banco Itaú, que faz parte de seu grupo econômico |
Os papéis do Bradesco também são os favoritos do Itaú BBA entre os grandes bancos, mas os analistas destacam que a ação vai precisar de ganhos substanciais para voltar a crescer.
Os ativos preferidos do BBA para o setor bancário estão fora do quarteto dos bancões. São eles: as units do BTG Pactual (BPAC11, do mesmo grupo controlador da EXAME) e as ações do Banco Pan (BPAN4), que desde maio deste ano é controlado integralmente pelo BTG.
Os destaques da tese são o movimento de digitalização do BTG – incluindo o Pan –, além da estratégia agressiva de fusões e aquisições que atraiu grandes escritórios de agentes autônomos para a base do banco nos últimos meses.